Há oito meses morando no Lar da Velhice São Francisco de Assis, em Caxias do Sul, o empreiteiro e calçadista aposentado Levi Demulti Dias, 95 anos, viu mudar a rotina da casa nos últimos dias. Isso porque, assim como outros lares de idosos, a instituição adotou uma série de medidas restritivas em nome da preservação da saúde de seus moradores, que integram a faixa etária mais vulnerável à covid-19, embora o contágio possa acontecer em todas as idades.
Entre as principais mudanças, a suspensão da visita de familiares por tempo indeterminado, o cuidado na higienização da casa e dos funcionários que acessam diariamente o local, bem como a orientação e o incentivo ao autocuidado entre os idosos, orientados a lavarem as mãos com mais frequência e também a utilizarem o álcool gel disponibilizado.
Distrações como os passeios em diferentes lugares da cidade, bem como as visitas de voluntários que costumavam alegrar o ambiente, também estão suspensas no lar.
— Estamos nos cuidando o máximo possível e ansiosos para poder voltar pra rua. A gente tem ainda um movimento muito grande aqui dentro, porque somos uma família, e muito unida — relata seu Levi, lembrando do primeiro banho de piscina que experimentou na vida, há poucos meses, em um dos passeios que fez com os "familiares" da casa.
Mesmo com seu jeito alegre de levar a vida, ele diz se preocupar ao ouvir as notícias do mundo a respeito do coronavírus e de tudo que está causando. Diante das medidas tomadas pela casa onde vive, ele afirma sentir-se seguro e, na medida do possível, tranquilo.
— Acompanho muito as notícias, nosso Brasil está mal e tem países ainda piores. Sei que os idosos acima de 60 anos estão na lista. Eu já estou no "corredor" há algum tempo, mas ainda não achei a porta _ brinca o morador, que ainda completa:
— Estamos isolados, mas aqui dentro só tem coisa boa, não temos porque nos preocupar. Onde existe amor e carinho, a gente aguenta.
Cuidados redobrados
Casos de idosos abandonados encontrados mortos por coronavírus na Espanha chocaram o mundo. Apesar de muito triste, o fato talvez tenha servido como um importante alerta, chamando a atenção aos cuidados que pessoas com a faixa etária considerada grupo de risco precisam diante da pandemia mundial. Analice Carrer, que preside tanto o Lar da Velhice São Francisco de Assis — onde vivem 70 idosos — quanto o Recanto das Laranjeiras — com 40 idosos —, no bairro São Pelegrino, diz que, em ambas as casas, foram adotadas medidas de prevenção, bem como estão sendo preparadas para o caso de possíveis contágios. A maioria dos idosos atendidos tem idades entre 80 e 90 anos.
— Já temos uma espécie de UTI onde são atendidos quando necessitam de cuidados mais intensivos, mas estamos reservando ainda outros, também isolados, caso aconteça alguma infecção dentro da casa — afirma a presidente.
Segundo ela, as primeiras restrição ocorreram ainda no início do mês, sendo as visitas completamente suspensas desde o dia 16 de março. Para Analice, esta pode ser a medida mais impactante, uma vez que as casas costumavam estar movimentadas com a presença não apenas de familiares, mas de voluntários que promoviam atividades diferenciadas junto aos idosos.
Para suprir essa demanda, além de capacitar e orientar os funcionários quanto às medidas básicas de higiene e esterilização para evitar a entrada de coronavírus nos ambientes, Analice diz que também está sendo incentivada a intensificação do carinho e afeto no tratamento dos moradores.
— Nosso maior desafio é evitar que o coronavírus chegue, e rezar para que, se chegar, que seja de mansinho. Estamos contando com a equipe de funcionários maravilhosa que leva a profissão como uma verdadeira missão não apenas suprindo as necessidades básicas, mas também o amor e o carinho que eles precisam mais do que nunca — garante Analice.
O clima é o mesmo na Casa de Repouso Longevittá, no bairro Nossa Senhora de Lourdes. Pessoas que não sejam da equipe de funcionários estão com acesso proibido, sendo intensificado também o cuidado tomado por quem trabalha na casa.
— Quando os funcionários chegam, deixam seus pertences e roupas em uma sala separada, onde fazem higienização e vestem aventais, além de luvas e máscaras _ relata Michele Charão, enfermeira responsável do turno da tarde.
Ela conta que o afastamento dos familiares está sendo amenizado, na medida do possível, com ligações e até chamadas de vídeo. Um trabalho de conscientização junto aos idosos também foi realizado para que eles não fiquem com medo e também adotem os cuidados necessários.
Uma das novidades na casa são os frascos de álcool gel individuais, com figuras divertidas, como forma de incentivar a higienização das mãos e ainda animar os 43 moradores, que têm idades entre 50 e 96 anos.
— Com o suporte no pescoço eles passam mais vezes o álcool e, os que são menos lúcidos, nós mesmos higienizamos a cada 15 ou no máximo 30 minutos. Sabemos que não substitui a carência de ter visitas e outras atividades que venham de fora, mas eles entendem que é um momento de proteção a eles — garante.
LAR PRECISA DE DOAÇÕES
Desde o início das medidas de isolamento tomadas em Caxias do Sul, o Lar da Velhice São Francisco de Assis, que sempre contou com a ajuda da comunidade, teve uma queda significativa nas doações. No momento, a casa necessita, principalmente, de:
:: Luvas de limpeza tamanho G
:: Luvas de procedimento tamanho M
:: Máscaras
:: Álcool gel
:: Água sanitária
:: Desinfetante
:: Detergente
:: Café
:: Leite
:: Óleo
:: Açúcar
:: Arroz
:: Lentilha
:: Biscoito salgado
:: Creme de leite
:: Leite condensado
As doações podem ser combinadas pelo telefone (54) 3225-1677. Quantias em dinheiro podem ser transferidas para:
Banco Bradesco
Agência: 0269
Conta corrente: 17427-0
Banrisul
Agência: 018
Conta corrente: 06006995-06
CNPJ: 886636040001-69