A imigração faz parte da Pettenati desde a essência. O fundador, Otávio Pettenati, 83 anos, veio da Itália ainda jovem, acompanhado dos pais, tios e primos. A esposa também é imigrante italiana. Empreendedor, viu a possibilidade de negócio na área têxtil na Serra e criou a indústria em Caxias do Sul em 1964. Atualmente, a empresa produz roupas para grandes marcas esportivas como Nike, Lacoste, Le Coq, The North Face, Track&Field. São 1.075 funcionários nas duas unidades, entre eles, 22 imigrantes – 12 na matriz, onde funciona a confecção, no bairro Desvio Rizzo (nove mulheres e um homem haitianos, uma paraguaia e um dominicano), e 10 na unidade que produz tecidos, no distrito de Vila Cristina (cinco homens e três mulheres haitianos, um paraguaio e uma uruguaia).
— A empresa tem 57 anos e já tem isso muito no sangue. Essa ideia, essa abertura de entender o quanto é importante a empresa incluir os imigrantes, dar oportunidade para que eles possam se recolocar no mercado de trabalho — disse Taciana Bossle, gerente de Recursos Humanos.
Segundo a gerente de RH, foram inúmeras contratações nos últimos anos, mas muitos imigrantes acabam não se adaptando às atividades. Taciana explica que é difícil encontrar mão de obra com experiência na atividade de costura, por isso, a empresa tem uma célula que ensina aos funcionários que chegam sem saber o ofício ou aprimora o conhecimento de quem já tem alguma base.
— Claro que buscamos pessoas que tenham alguma vivência em costura, mas, caso não tenha, avaliamos outros critérios, como questões comportamentais, desejo de aprender, e damos oportunidade — declara a gestora.
Para o acolhimento e ajudar na adaptação, a empresa tem psicóloga e assistente social. Além disso, um migrante acaba indicando outro, e esse primeiro ajuda no processo de inserção e como intérprete, quando necessário, até que o imigrante consiga se comunicar em português. Uma pessoa da mesma nacionalidade na empresa se torna uma referência e alguém que transmite confiança aos recém-chegados, que algumas vezes se sentem inferiorizados e são mais introspectivos em relação aos demais trabalhadores.
— A empresa sempre abriu as portas para a diversidade em todos os sentidos e, quando aumentou a vinda dos imigrantes para Serra, achou mais uma possibilidade de fortalecer esse valor de ter na veia a diversidade. Independente de onde a pessoa seja, de como seja, importa qual é a entrega dela, o relacionamento, respeitarmos o espaço um do outro, potencializarmos o que o profissional tem de melhor e oportunizarmos que ele desenvolva o que precisa — disse Taciana.
Marie está há 3 anos e aprendeu a costurar para conseguir vaga na fábrica
Marie Del Phine Charles, 31 anos, chegou ao Brasil há cinco anos e, na última sexta-feira, completou três anos na Pettenati. Ela contou que só sabia fazer pontos à mão e aprendeu a costurar para tentar uma vaga na fábrica. Hoje, se diz adaptada, mas passou por muitas dificuldades. Saiu do Haiti para estudar na República Dominicana. Cursou Educação, Línguas Modernas. Depois da formatura, veio para o Brasil encontrar o marido, Jackson Joseph, 36, que já morava aqui. Quando chegou, não sabia falar quase nada em português. Mas isso não foi empecilho. Fez um curso básico e começou a procurar um emprego. Quase dois anos se passaram até conseguir. Fez um curso de costura de 20 dias e tentou uma vaga como costureira.
— A Pettenati abriu uma porta para muitas pessoas, e eu era uma delas. Quando cheguei aqui, eu estava em um mundo e a empresa, em outro mundo, porque não falava bem, não sabia como funcionava a área da costura bem. Tive dificuldade de me adaptar, porque era corrido. Eu olhei muito e consegui — contou Marie, referindo o período do contrato de experiência.
Ela lembra que era tudo novo, as pessoas, a cultura. Não sabia o nome de ninguém. As pessoas olhavam para ela como uma estranha. Mas, depois de dois a três meses, começou a conversar mais com os colegas.
— Tem pessoas aqui, dentro da empresa, incríveis, com coração grande. Coisas que não entendo, peço para elas (colegas) me ajudarem; elas me ajudam. Tem acompanhamento. Às vezes, eles vêm perguntar se você está bem, se está se adaptando... Acho que sim — comenta.
A certeza de que Marie está realmente à vontade em solo gaúcho veio quando, ao mencionar o filho, ela disse: tenho um "guri" de 11 meses. O filho caxiense se chama Emmanuel Jackson Joseph. Do Haiti, recentemente, Marie trouxe o irmão mais novo. O restante da família, mãe, pai e irmã, permanecem naquele país.
— Em todo lugar que eu passei, não achei nada de ruim comigo. Quando não entendo uma coisa, pergunto, que ninguém sabe tudo. Também onde moro as pessoas são bem queridas comigo. Com respeito e valor, dá para se adaptar com todo mundo. Para se adaptar, tem que se abrir também. Não pode ter medo de errar. O Brasil é um país de todo mundo — declarou.