Uma das empresas que está dando oportunidade de trabalho aos venezuelanos, que representam o maior fluxo migratório no mundo dos últimos anos, é a JBS. Em Caxias, os três homens de uma família conseguiram vagas logo que chegaram à cidade. Andru Moises Aguilera Flores, 24 anos, conta que foi o primeiro da família a deixar a Venezuela, há três anos, por causa do contexto de crise grave e generalizada naquele país, com impacto em direitos humanos básicos:
— Não tem trabalho, não tem comida, nada.
Ele ficou um mês na fronteira do Brasil, outro mês em Boa Vista, capital de Roraima, e, finalmente, foi para o município de Presidente Figueiredo, na região metropolitana de Manaus. Em seguida, vieram a mulher e os filhos. Depois, os pais, irmãos, cunhado e sobrinhos dela. Os deslocamentos dos seis adultos e seis crianças, entre um lugar e outro, eram feitos de carona e parte a pé. Durante meses, eles contaram com a ajuda das pessoas para se alimentar e abrigar.
Na Venezuela, Andru diz que trabalhava em pizzaria e lancherias. Os primeiros trabalhos no Brasil foram bem mais pesados, como ajudante de pedreiro e com roçadeiras, fazendo capinas em terrenos. O sogro e o marido da cunhada também executavam as mesmas atividades eventuais. Mesmo simples, o trabalho rendia mais recursos do que o que Andru tinha já tinha ganhado no país de origem.
— Dava para alugar (casa), comprar comida, estar tranquilo — relatou.
Mas, com o avanço da pandemia, no ano passado, o trabalho cessou. Sem ter uma fonte de sustento, depois de três meses, resolveram mudar para Caxias do Sul, segundo eles, cidade com muitos empregos.
— Nós tínhamos pensado em ficar lá, mas como não havia mais trabalho, tivemos que sair. As pessoas falaram de muitas cidades do Sul e também de Caxias, que tinha emprego _ comentou Andru.
Eles venderam alguns móveis, outros doaram ou deixaram para trás, para começar tudo de novo na cidade da Serra Gaúcha. A família chegou em Caxias, no final de maio deste ano. Foi acolhida na Casa de Passagem São Francisco, onde permanece. Com ajuda da equipe, os adultos conseguiram encaminhar currículos à empresa que, em poucos dias, admitiu os três homens. A expectativa é de que sejam oportunizadas vagas também às três mulheres com abertura de novos postos de trabalho.
Isai Daniel Perez Ramirez, 23, já passou pela equipe de limpeza da fábrica e agora está na linha de produção, como Andru e o sogro deles, Wandir de Jesus Lopez Gonçalvez, 49, na unidade de perus, que fica no bairro Desvio Rizzo.
— Começamos a trabalhar aqui, agora, é só alugar (uma casa) para viver tranquilos com nossas famílias — disse Andru.
— E ajudar nossa família que ficou — completou Wandir, referindo os outros dois filhos, noras, netos e irmãos que ainda estão na Venezuela e que já receberam parte dos salários que eles ganharam.
Sobre a oportunidade de emprego e acolhimento em Caxias, eles se dizem agradecidos.
A reportagem fez contato com a JBS, mas a empresa não quis dar entrevista. Segundo a prefeitura, um grupo de 80 famílias de venezuelanos chegou a Caxias em junho para trabalhar na JBS. Eles já vieram previamente selecionados.