O grupo Empresas Randon, tradicionalmente, tem uma oferta significativa de empregos nos municípios em que atua. Em Caxias, é a maior fonte geradora de postos de trabalho, segundo o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), e um dos que mais emprega imigrantes. São 143 funcionários, entre haitianos (89), venezuelanos (28) e senegaleses (26).
— A partir do momento em que o Brasil abriu as portas para estrangeiros, esse público sempre se aproximou muito das Empresas Randon, buscando oportunidade de emprego e de crescimento. Ocorre que existe um volume maior de estrangeiros nas cidades em que temos operações. Por isso, e pela abertura que nossas empresas dão, esse movimento acabou acontecendo com naturalidade — explanou a gerente de Pessoas e Cultura das Empresas Randon, Silvana Gemelli.
Outro fator que colabora para o elevado número de contratações é a característica dos imigrantes de viverem em comunidades. Ou seja, eles têm como destino locais em que já exista um grupo organizado e estabelecido. Nesse sentido, um colaborador acaba levando currículos de outros para a empresa. Os mais antigos se tornam "padrinhos" dos recém-contratados para ajudar na acolhida, integração e na comunicação, fundamental também para entendimento dos procedimentos e treinamentos de segurança das atividades.
— É uma prática das nossas empresas receber estrangeiros, absorvê-los. No processo normal de seleção, que é eletrônico, dificilmente eles se inscrevem. Então, como estratégia, abrimos processos seletivos mais facilitados para inserção de estrangeiros. Se usarem o eletrônico, ótimo, se não, facilitamos a parte documental, burocrática — explicou Silvana.
Uma das ações que foi desenvolvida para esse processo de seleção é uma parceria com a Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde os migrantes fazem uma espécie de prova de leitura e escrita. A Castertech é a empresa da Randon com mais colaboradores estrangeiros: 73. Um deles é Malick Dione, 37 anos, que deixou o Senegal em 2012. O primeiro destino foi a Argentina, onde ficou por 11 meses. Mas as tentativas de conseguir trabalho foram frustradas e ele migrou de novo rumo ao Brasil em junho de 2013. Passou três semanas em Porto Alegre, depois, veio para Caxias do Sul, onde morava um amigo.
— Eu saí do Senegal para buscar uma vida melhor para mim, para minha família também. Lá está difícil para arrumar emprego. É insuficiente para a população. Na Argentina, não consegui trabalhar, porque, lá, emprego também é insuficiente para a população. Vi que estava difícil, quase igual a nosso país, por isso saí de lá também — contou.
No país de origem, Malick estudou, mas não teve recursos para cursar uma universidade. Ele era costureiro de profissão. Diz que trabalhava no Senegal, mas os empregos são temporários. Ele tinha atividade remunerada por seis meses no ano e, nos demais, ficava parado. Falou que conversava sempre com o amigo que estava fora do país e que foi esse amigo que sugeriu a imigração.
Quando chegou em Caxias, a situação mudou. Em 45 dias, conseguiu o primeiro emprego como operador de fundição em uma empresa, onde ficou por mais de quatro anos. Em setembro de 2019, foi contratado pela Castertech do Grupo Randon para exercer a mesma atividade. Atualmente, está no setor de pintura das peças fabricadas. Com o salário, consegue mandar dinheiro para a família no Senegal. Contudo, ainda não pôde trazer a esposa e a filha de sete anos. Ele não as vê pessoalmente há quatro anos e meio, desde que conseguiu ir ao Senegal pela última vez, em 2016.
— Para mim, Brasil estava melhor em 2013 e 2014. Agora, os preços no mercado sempre estão subindo. E, se mando dinheiro para o Senegal, antes, tem que fazer câmbio para dólar ou euro. Agora, dólar sempre está subindo — considerou o imigrante.
"Não é só a inserção, é desenvolver potencialidades"
Malick diz que o objetivo dele é trazer, pelo menos, a esposa e a filha, mas que, para os senegaleses, a família inclui todos os parentes próximos, pai, mãe e irmãos, e ele não tem como trazer todos. O custo de uma passagem da África para o Brasil gira em torno de R$ 6 mil a R$ 7 mil.
— É uma preocupação que eles têm em trabalhar bem, em aprender, fazer seu trabalho de uma forma organizada e com qualidade, porque querem assegurar os seus rendimentos para encaminhar esses valores para as famílias. É algo nobre que vemos neles — comentou Silvana.
Para melhorar de vida, Malick diz que pretende fazer cursos de aperfeiçoamento e um novo curso de português — o que ele fez teve duração de três meses na UCS, em 2018:
— Caxias é uma cidade que tem oportunidade para trabalho. Tem bastante emprego. Eu sempre quero crescer. Aqui, na empresa, tem sempre gente muito legal que trata bem. Eu quero ficar aqui. Empresa boa, grande, está crescendo.
Silvana acrescenta que o processo de acolhida dos imigrantes envolve além da abertura das empresas, a compreensão e o respeito à cultura e a possibilidade de desenvolvimento. E isso depende de uma ação conjunta:
— Temos oportunidades de crescimento para eles dentro da empresa. Eles conseguem participar dos processos. Independente de serem estrangeiros ou não, as pessoas crescem e eles também poderão crescer. Nosso desafio, talvez, seja o desenvolvimento desses profissionais. Precisamos trabalhar melhor como tríade, empresas, sociedade — no caso, os imigrantes — e governo, para oportunizar o desenvolvimento deles. Porque não é só a inserção no mercado de trabalho, é desenvolver a potencialidade deles. Mercado de trabalho está aberto aos imigrantes em Caxias do Sul