Prestes a completar 10 anos desde a inauguração, o tão esperado prédio do Quartel de Bombeiros da Zona Norte, em Caxias do Sul, soma metade da sua história fechado, sem uso e sem cumprir o objetivo para o qual foi erguido. Desativado desde 2016 por causa da histórica falta de efetivo da corporação, a unidade é alvo constante de depredações, está pichado e com os vidros das janelas quebrados — a situação de vandalismo mais recente foi o furto do telhado registrado no último final de semana e que, inclusive, foi debatido na sessão da Câmara de Vereadores.
A estrutura de 530 metros quadrados foi inaugurada em junho de 2011, com investimento de R$ 550 mil, vindos do orçamento do município e do Fundo de Reequipamento do Corpo de Bombeiros (Funrebom). A expectativa era de que a unidade, no bairro Pôr do Sol, pudesse tornar mais ágil o atendimento de ocorrências na região Norte, que, na época, já somava mais de 90 mil habitantes e 32 bairros e loteamentos. Era uma reinvindicação desejada pela comunidade desde a década de 1990.
Cinco anos após a festejada abertura, o quartel foi desativado por falta de efetivo e, desde então, nunca mais serviu de referência para atendimentos. Em 2017, cogitou-se que a retomada dos serviços pudessem ocorrer após a reforma do prédio, porém, não houve avanços. Já em fevereiro deste ano, a Câmara de Vereadores de Caxias do Sul criou uma Frente Parlamentar em Defesa da Reforma e Reabertura do Quartel de Bombeiros da Zona Norte para tratar do assunto.
— É um total abandono. Será que não é possível que exista pelo menos uma sensação de segurança com a presença da Guarda, com as motos, com os veículos? Então, eu clamo a todos aqui, aos colegas. Isso é para mais de 100 mil pessoas, mais de 30 bairros. É uma obra que foi construída com os nossos recursos, com R$ 550 mil em 2011. E não interessa partido, não interessa governo, a comunidade precisa — disse o vereador Zé Dambrós (PSB), integrante da Frente Parlamentar, durante a sessão em que apontou o furto do telhado do quartel.
Embora reconheça os esforços da comunidade e do poder legislativo e compartilhe do desejo de reabertura, o comandante do 5º Batalhão de Bombeiro Militar (5º BBM), tenente-coronel Julimar Fortes Pinheiro, não acredita que o quartel seja reativado tão cedo.
— Não é só a reforma, temos que ter efetivo, que não é o caso hoje, além do investimento em viaturas e equipamentos de proteção individual. Porque não basta apenas chegar o militar, nós precisamos entregar a ele as condições de trabalho. Acho muito pouco provável que se consiga fazer ainda no ano de 2021. É um trabalho de médio prazo — diz o comandante, explicando que seriam necessários, pelo menos, mais 12 bombeiros para que se pudesse fechar as escalas de trabalho e reativar o posto da Zona Norte.
O tenente-coronel reconhece também que a reabertura da unidade seria importante para dar mais agilidade aos atendimentos daquela região e facilitar a logística da corporação. Mesmo assim, reforça que é necessária uma abertura efetiva, que assegure todas as necessidades, para que no futuro não ocorra uma nova desativação:
— Estrategicamente, o quartel da Zona Norte é muito necessário. O que não houve, lá na origem, foi um planejamento de longo prazo no sentido de se manter ativo esse quartel. Mas precisamos construir uma solução que não sofra com a descontinuidade em um futuro próximo. Tenho buscado junto às autoridades para que haja o retornos das atividades naquele aquartelamento de forma efetiva — reforça.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Caxias do Sul para saber se há algum projeto de reforma e estimativa de reabertura do quartel, mas não obteve retorno até a tarde de sexta-feira.
Abaixo-assinado de moradores foi apresentado em Porto Alegre
Em 2020, o líder comunitário Rafael Gomes Bado, morador do loteamento Jardim das Torres, no bairro Santa Fé, lançou um abaixo-assinado online para mobilizar a comunidade na reativação do quartel. Segundo ele, foram alcançadas quase 4 mil assinaturas que foram impressas e apresentadas à Secretaria da Segurança Pública do Estado, que deu, de acordo com Bado, resposta negativa à reabertura da unidade, em junho do mesmo ano.
— Ano passado, aconteceu um grande incêndio no bairro Belo Horizonte, que nos fez tomarmos essa atitude e cobrarmos através de um movimento popular a reabertura. É algo de suma importância para região, precisamos muito deste atendimento essencial as nossas comunidades — justifica Bado.
O presidente da Associação de Moradores do Bairro (Amob) Santa Fé, Joevil Reis da Silva, reafirma a necessidade do quartel para a comunidade:
—A gente está a oito quilômetros do Centro, o trânsito nem sempre ajuda para se deslocar até aqui, então, a reabertura do quartel aqui na Zona Norte nos ajudaria muito. Mas a função dos bombeiros não é só em incêndios. Como a base fica às margens da Rota do Sol, também ajudaria no atendimento de acidentes. A promessa era que esse ano voltaria, mas não sai do papel — observa o líder comunitário.
Para a presidente da Amob Vila Ipê, Zita Girardi, incêndios de grandes proporções poderiam ser contornados mais facilmente com um quartel de bombeiros mais próximo:
— É muito importante que voltem os serviços porque há tempos atrás queimou mais de 10 casas no Belo Horizonte. Se tivesse o quartel funcionando mais perto, teria evitado que tantas casas tivessem sido destruídas. Nós precisamos muito do quartel — reforça Zita.