Desde que chegou ao Brasil, a covid-19 já era conhecida por ser uma infecção que ia além dos malefícios físicos. Ela também é solitária e dura, tanto para os pacientes quanto para os familiares. Se ficar isolado em casa, por vezes em um único cômodo, é um momento de extrema dificuldade, imagine estar sozinho em um hospital e sem direito a visitas.
O coronavírus afeta também o lado emocional, tão importante em uma recuperação. Nos hospitais da Serra essa interação familiar é trabalhada de diferentes formas. E, enquanto a maior parte trabalha com videochamadas, em Farroupilha é permitida uma visita presencial às pessoas internadas em terapia intensiva. No Hospital da Unimed, em Caxias, também existe a possibilidade, assim como no Virvi Ramos.
Segundo a diretora do Hospital São Carlos, de Farroupilha, Janete Toigo, os 25 leitos de UTI Covid são individualizados e com vidros transparentes. Assim, o familiar pode ficar do lado de fora e sem contato direto com o paciente. Também existe acompanhamento médico neste momento e uma divisão de horários, conforme o número de cada box. É preciso lembrar que, mesmo em um ambiente controlado, existe um alto risco para o contágio. Aos que não se sentem seguros, seguem permitidas as videochamadas.
No Hospital da Unimed também foi liberada a visita de forma presencial para pacientes com o vírus ativo, primeiro de forma experimental nas últimas duas semanas. O familiar também acaba ficando no lado de fora da UTI, sem poder se deslocar e vendo o paciente com distância. Para isso é preciso estar dentro de uma série de requisitos, como a idade entre 18 e 65 anos, ter parentesco direto com o internado e não ser do grupo de risco. A duração é de 15 minutos.
— O retorno das famílias são bem positivos e faz bem para o tratamento do paciente. Isso é muito importante para a humanização — destaca a psicóloga Franciele Busetti, que trabalha na UTI da Unimed.
Quando o vírus não é mais ativo, o paciente pode se aproximar do internado e o tempo será de meia-hora. Após a visita, a família é auxiliada para tirar todo o aparato de segurança ao qual ela precisa usar.
— Os pacientes que estamos atendendo são mais jovens. O nosso índice de melhora é significativo e precisamos pensar esse paciente como um todo, a sua história e sua construção de sentido que tem da vida. Trazer a família é um trabalho de prevenção em saúde mental — explica a psicóloga Valderis Guarnieiri, que atua na UTI covid da Unimed.
O hospital Virvi Ramos trabalha com as videoconferências entre pacientes e familiares e, em casos específicos, quando não existe mais a possibilidade de contágio, a visita presencial é liberada. No entanto, todos os casos são avaliados individualmente antes da liberação.
NA REGIÃO
Nos demais hospitais ouvidos pela reportagem – nem todos responderam até o fechamento desta edição – as visitas presenciais seguem proibidas. No caso do Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, existe apenas uma exceção: quando o caso é irreversível. Ainda assim, não é algo habitual, já que a taxa de letalidade da instituição está em 17%. De resto, existem psicólogos para trabalhar diretamente com familiares e pacientes, sempre com o uso da tecnologia.
— Percebe-se que através da humanização nesse atendimento, o paciente se sente importante, apresentando melhoras em seu quadro. Nesse sentido, conseguimos amenizar a saudade e a dor de quem está longe. Percebemos ainda que o protocolo de videochamadas contribui de forma positiva diante do sentimento de abandono e desamparo vivenciado pelo paciente hospitalizado em UTI — explica a psicóloga Lisieli Vendramin, que atua na UTI do Tacchini.
Esse contato é fundamental e a tecnologia aproxima o mundo. Essa possibilidade de contato é um ânimo extra para a recuperação do paciente e permite que ele encontre parentes que estão muito distantes. Em Bento, familiares que estavam em outros países também já participaram dessas ligações. Isso é um ponto fundamental na recuperação de uma pessoa internada.
— Também realizamos videochamadas no leito para que o familiar possa visualizar o paciente, que por vezes está acordado e interage. Em alguns casos, os pacientes estão entubados, mas também realizamos videochamadas com a família, a qual pode visualizar o paciente auxiliando no processo de assimilação frente ao quadro clínico. Observamos que os familiares falam com os pacientes, fazem orações, colocam músicas, além de deixarem fotos, cartazes e objetos religiosos para colocarmos no leito. Enfim, utiliza-se de diferentes recursos buscando respeitar a biografia daquele paciente — complementa Lisieli.
Em Caxias do Sul, o Hospital Geral também aposta nas videochamadas e sempre trabalhadas por psicólogos que atuam diretamente nesses leitos. A reportagem não obteve retorno de como é feito esse trabalho nos hospitais Pompéia e Nossa Senhora da Oliveira, de Vacaria.
*Colaborou Tahena Irigoyen (RBS TV)