Se já não bastasse a pandemia por coronavírus, a população deve, ainda, se preocupar com outra doença: a dengue, que apresenta quantidade de focos alarmante em Caxias do Sul. Se o ano de 2020 for comparado com os quatro primeiros meses deste ano, o aumento representa 466%. São 27 focos localizados no ano passado contra 153 em 2021, e pode aumentar após novos levantamentos que são efetuados frequentemente pela prefeitura. A última semana, inclusive, foi de visitas por parte de agentes da Secretaria da Saúde às casas de moradores para efetivar o Levantamento de Índice Rápido do Aedes Aegypti (Lira) — um método de amostragem capaz de retratar os índices de infestação. A ação deverá encerrar na quarta-feira (4), quando serão completadas 7 mil abordagens com o objetivo de frear a proliferação do mosquito, transmissor também da chikungunya e zika vírus.
Há 22 anos atuando no combate de doenças do tipo, a médica veterinária da Vigilância Ambiental em Saúde, Delvair Zortéa da Silva, nunca viu situação parecida. Os agentes encontram não apenas larvas, mas mosquitos adultos nos bairros da cidade, onde a maioria dos pontos problemáticos é percebida em residências.
— Ainda não tinha visto uma situação como esta. Em 2012 fomos um município infestado, mas percebíamos que o aumento era gradativo. Agora, supera qualquer expectativa de risco de transmissão da doença. A partir do momento em que se encontra essa grande quantidade de mosquitos, há possibilidade de iniciar a transmissão no município. Nos chama a atenção que a maior parte dos imóveis que são positivos para os focos são residências — afirma.
O clima não está sendo um agravante, mas os recipientes é que estão sendo totalmente adequados. Segundo Delvair, parte da população passou a ter caixas d'água específicas para captação da água da chuva. Ela alerta que esses recipientes devem estar bem vedados. Caso contrário, tornam-se ferramentas para criação de Aedes Aegypti.
— Nos chama a atenção o comportamento das pessoas. Observamos muitos recipientes nos quintais, muita água de chuva coletada, que é uma boa opção para limpeza de calçadas e outros, mas deve-se ter cuidado e vedar. Ainda encontramos muitos pneus e vasos de flores com água parada. Mesmo que façamos visitas, é o próprio morador que terá que cuidar do seu quintal — diz.
Há um morador de Caxias, sem localidade revelada, que contraiu a doença neste ano. O paciente apresentou sintomas depois de ter viajado à região central do Brasil, mas passa bem. A Vigilância aguarda, ainda, resultados de testes que foram realizados em uma pessoa com suspeita de ter contraído dengue. Caso se confirme, o contágio terá ocorrido em Caxias, já que o paciente não fez deslocamentos a outras localidades.
Neste mês, dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) apontaram que, dos 497 municípios do Estado do Rio Grande do Sul, 405 estão infestados pelo mosquito. Foram confirmadas duas mortes por dengue no Estado, uma em Santa Cruz do Sul e outra em Erechim. Em São Nicolau, foi confirmado um surto de chikungunya.
A coordenadora do Programa Estadual de Vigilância e Controle do Aedes do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Estado, Carmen Gomes, afirmou à GZH em abril, que a pandemia também pode ter contribuído para maior circulação do mosquito. Os motivos podem ter sido afastamentos de agentes por covid-19; a retirada deles do trabalho nas ruas por conta do distanciamento e a realocação desses profissionais para atuar no combate ao coronavírus.
Pelo menos três bairros mais afetados
O Aedes Aegypti já está proliferado em todos os bairros de Caxias, mas há três regiões onde há mais focos. Segundo Delvair, as localidades do Cruzeiro, Santa Catarina e Colina Sorriso são as que mais acumulam riscos. Confira os números por bairro:
- Cruzeiro - 41 focos;
- São José - 20 focos;
- Colina Sorriso – 12 focos;
- Reolon – 10 focos;
- São Cristóvão e São Luiz da 6ª Légua: nove focos;
- Petrópolis: seis focos;
- Nossa Senhora de Lurdes, Tijuca, De Lazzer e Charqueadas I: cinco focos;
- Santa Lúcia Cohab – quatro focos;
- Charqueadas II – três focos;
- Desvio Rizzo/Jardim da Lagoa, Bela Vista, Mariland e Sagrada Família: dois focos;
- Santa Fé, Charqueadas, Pio X, Cristo Redentor, Jardim América, Vinhedos, Marechal Floriano, Centenário, Jardim Eldorado, Vila Seca e Centro: um foco.
Confira dez dicas úteis para prevenção contra a dengue:
- Limpar o recipiente de água dos animais domésticos frequentemente com escovação;
- Colocar pneus em locais secos e protegidos da chuva ou encaminhá-los ao Ecoponto da Codeca;
- Tampar caixas d’água e verificar se há vedação satisfatória;
- Colocar telas em caixas d’água descobertas, reservatórios de captação de água da chuva e ralos;
- Limpar as calhas;
- Lavar e escovar piscinas plásticas, trocando a água semanalmente;
- Eliminar os pratinhos das plantas;
- Guardar garrafas com o gargalo virado para baixo;
- Manter lixeiras tampadas;
- Retirar água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa.
Dúvidas podem ser sanadas na Vigilância Municipal em Saúde pelo telefone: (54) 3901-2503. O telefone para denunciar locais com suspeita de focos do mosquito é o 156, do Alô Caxias.