A quantidade de municípios da Serra e próximos à região infestados pelo mosquito Aedes aegypti saiu de cinco ao final de 2016 para 29 no início deste ano. O crescimento tem sido exponencial ao longo dos últimos anos na área da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde, com sede em Caxias do Sul e que congrega 49 cidades.
Dos municípios que estão na primeira lista — Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Farroupilha, Garibaldi e Veranópolis —, nenhum deixou de constar como de alto risco para o mosquito que transmite a dengue, a febre chikungunya e o zika vírus. Os dados foram levantados pela reportagem a partir dos boletins epidemiológicos produzidos e divulgados pelo Estado. Os mais recentes se referem à contagem até 2 de janeiro — compreendem, portanto, principalmente o cenário de fechamento em 2021.
A infestação se caracteriza quando larvas do mosquito são encontradas em algum imóvel. A bióloga Lucia Diefenbach, especialista em Saúde da Vigilância Ambiental do Estado, explica que as secretarias municipais fazem o monitoramento de regiões por meio das chamadas armadilhas, que são pneus instalados em determinados pontos da cidade para verificar se há depósito de larvas. Quando elas são identificadas, os agentes de endemias começam um levantamento em um raio de 300 metros da armadilha. Se uma larva for encontrada, o município já é declarado infestado. Conforme Lúcia, a perspectiva é de aumento da infestação:
— A tendência infelizmente é essa. Há muita circulação de pessoas, de objetos, de cargas e aí o mosquito acaba se domiciliando nesse outro município. Vai, por exemplo, na cabine de um caminhão — afirma a integrante do Programa estadual de Vigilância e Controle do Aedes aegypti.
O processo para ser considerado desinfestado é apontado como difícil pelos especialistas. As larvas não podem ser encontradas em nenhum imóvel do município por um ano. A exceção são os chamados pontos estratégicos, onde a eliminação completa da água parada é mais improvável, como borracharias e cemitérios. Quando o município comunica o Estado de que não encontrou larvas nesse período, ainda tem que passar pelo Levantamento Rápido de Índices para Aedes Aegypti (LIRAa) confirmatório. Nele, os agentes de endemias fazem um trabalho de acompanhamento por meio de amostras nas residências, com supervisão do Estado.
— Como o Rio Grande do Sul, e não só a nossa região, está infestado, é muito difícil isso (desinfestação) acontecer. A circulação do município é muito grande — afirma a agente de endemias e laboratorista da Secretaria da Saúde de Veranópolis, Lucila Oliveira.
No Estado, 396 dos 497 municípios são considerados infestados. O número pode ser maior, já que, de acordo com Lucia Diefenbach, existem cidades cercadas de outras infestadas, mas que não constam na lista. Isso, segundo ela, é um indicativo de que o trabalho de acompanhamento não está sendo feito de forma eficiente.
Pandemia é barreira para vistorias
Durante o ano passado, com o avanço do coronavírus, ficou definido que os agentes de endemias não entrariam nas casas e estabelecimentos comerciais, de serviços ou industriais. O trabalho está sendo feito apenas nos pátios, mas mesmo assim, a recusa de acesso por parte da população tem sido frequente. O LIRAa, realizado quatro vezes no ano, também foi prejudicado em 2020. A bióloga da Vigilância em Saúde do Estado reforça que é compreensível o medo da população diante do risco da covid-19, mas pontua que o cuidado em relação ao Aedes aegypti também deve continuar:
— A dengue pode, sim, matar. Precisamos, para o controle do mosquito, que a população se envolva. Agora, seria importante que as pessoas aproveitassem esse tempo em casa e tivessem mais cuidado.
Além dos cuidados individuais da população para evitar que água fique parada, a bióloga aponta a necessidade de um trabalho consistente do poder público. Ela diz que o recolhimento e descarte adequados do lixo são importantes para evitar que os mosquitos coloquem ovos em recipientes expostos à chuva, como pneus, tampas de garrafa, embalagens, entre outros. A integrante do Programa Estadual de Vigilância e Controle do Aedes aegypti destaca que o abastecimento regular de água também é necessário para que a população não precise acondicionar o líquido, o que pode ser feito de maneira inadequada. Outro aspecto salientado por ela é a necessidade de investimento em educação nas comunidades sobre o assunto.