As ruas de Gramado ficaram lotadas toda a tarde deste sábado (3). Encontrar uma vaga para estacionar na área central foi tarefa praticamente impossível. Nas calçadas, o fluxo de pedestres era intenso e ininterrupto.
A maioria dos restaurantes, da Rua Coberta e arredores, esteve o tempo todo com as mesas das áreas externas ocupadas. Mas, dentro das lojas, era possível perceber que o limite de capacidade estava sendo cumprido. Funcionários ficavam nas portas controlando a entrada e oferecendo álcool em gel aos clientes.
Entre a quinta-feira (1) e às 11h deste sábado, 13.802 veículos passaram pelas três praças de pedágio sob administração da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), que ficam na RS-115 e RS-235, em direção a Gramado. A quantidade é bem menor do que a do feriadão de Carnaval, quando foram 24 ,4 mil veículos em apenas uma das praças.
A professora Daiane Alves, 43 anos, é de Capão da Canoa, mas está com a família em um apartamento que tem em Gramado. Ela foi ao Centro, à tarde, para comprar chocolates e deparou com uma fila em frente à loja.
– Estamos só dentro do apartamento, com medo da pandemia, mas como tinha que comprar uns chocolatinhos, viemos aqui e já vamos nos recolher. Estamos achando muita gente – disse a professora.
Em seguida, um funcionário da loja saiu pela porta e avisou às pessoas que não fizessem fila, porque o estabelecimento poderia ser multado por gerar aglomeração. Havia filas no lado de fora de várias lojas.
A gerente de uma loja de chocolates, Dirlene da Silva Rodrigues, disse que, apesar de a cidade estar cheia, o movimento está bem abaixo do que seria em uma Páscoa normal.
– Com esses decretos, essas regras, está bem complicado de trabalhar – relatou.
Ela espera que a fase de restrições acabe logo:
– O ano passado já foi bem ruim. Esse ano deu uma melhorada, mas não é o que a gente esperava. Estamos com muita coisa em estoque. Nos preparamos para esse momento (Páscoa) e, aí, como deu essa segunda onda, tudo trancado, com muita restrição... estamos tentando.
Outros dois setores estão entre os mais afetados pela pandemia em Gramado, os de gastronomia e hotelaria. André Cavichioni é dono de dois restaurantes, um hotel e uma pousada. Ele estava satisfeito com o movimento deste sábado, mas diz que ainda contabiliza o prejuízo dos últimos meses.
– O movimento de novembro, dezembro, janeiro deste ano, foi 60% menor do que no mesmo período do ano passado – lamentou.
Sobre a liberação para abertura na véspera da Páscoa, o empresário aprovou, mas argumentou que melhor seria se fosse durante todo o feriadão e em horário estendido até as 20h para o setor de alimentação:
– Poderia ser melhor se pudéssemos abrir na sexta, sábado e domingo. Está dentro da expectativa o movimento hoje (sábado). Pena que não podemos abrir amanhã (domingo).
O restaurante de Cavichioni na Rua Coberta é um dos diversos que penduraram cartazes em protesto às restrições do decreto estadual. A frase "Todo serviço é essencial", faz alusão ao critério que permite funcionamento presencial aos finais de semana apenas do comércio essencial, como supermercados e farmácias.
Fiscalização fez trabalho de orientação
Uma placa na entrada da cidade e outra na Rua Coberta, um dos principais pontos turísticos de Gramado, alertavam para o uso obrigatório da máscara. Além disso, um carro da Vigilância Sanitária municipal com sistema de som circulava pelas ruas centrais advertindo sobre a obrigatoriedade. Ainda assim, tinham pessoas sem a proteção caminhando pelo Centro.
Na maior parte da tarde, a reportagem não encontrou fiscais verificando se os estabelecimentos do comércio em geral atendiam as regras quanto à capacidade máxima de público e se cumpriam os protocolos estipulados pelo decreto estadual. Às 18h, dois fiscais da Vigilância Sanitária – um municipal de um estadual – começaram a percorrer os restaurantes que ainda estavam atendendo a clientes na Rua Coberta e arredores. Os estabelecimentos foram orientados sobre a necessidade de fechamento. Minutos antes, já era possível ver funcionários de muitos locais limpando as mesas, após a saída dos últimos frequentadores. Diante do número restrito de fiscais municipais, Gramado recebeu reforço de cinco fiscais estaduais neste feriadão. A prefeitura informou, por meio da assessoria de imprensa, que a atuação é "orientativa e educativa".
O município também teve aumento no efetivo da Brigada Militar, com 36 policiais do Batalhão de Choque e da cavalaria de Porto Alegre. Eles fizeram rondas em viaturas e a pé. Os PMs que chegaram na Sexta-feira Santa ficam na cidade até a segunda-feira, dia 5.
Governo permitiu abertura apenas neste sábado
Pressionado pelo setor do comércio, na última quinta-feira, o governo estadual permitiu a abertura de lojas, estabelecimentos e prestadores de serviços neste sábado. Para isso, esses locais estariam sujeitos às regras equivalentes a um dia de semana. Ou seja, o comércio não essencial em geral, academias, salões de beleza poderiam operar entre 5h e 20h. Bares, restaurantes e lancherias poderiam atender de forma presencial até as 18h e nas modalidades de pegue e leve e drive-thru até as 20h. A telentrega está liberada em qualquer horário. A liberação não vale para este domingo, que segue com suspensão geral das atividades.
Para os supermercados, o limite de funcionamento é 22h em qualquer dia da semana. As atividades essenciais, como farmácias, clínicas médicas, postos de combustíveis, entre outros, não têm restrição de horário.
Parques temáticos, de aventura, jardins botânicos, zoológicos e museus, entre outros espaços de cultura e lazer, seguem proibidos de receber público externo na bandeira preta e na vermelha (limite para quem está em cogestão) em qualquer dia da semana. A permanência em praias, praças e parques urbanos também segue restrita e estão liberados apenas para atividades físicas individuais.
O governador Eduardo Leite também prorrogou a restrição de horários às atividades econômicas entre 20h e 5h. A regra começou no dia 20 de fevereiro e terminaria neste domingo (4), mas foi estendida até a próxima sexta-feira, dia 9.