O cânion Itaimbezinho, no Parque Nacional Aparados da Serra, é uma das apostas de Cambará do Sul para reaquecer a economia turística do município, fortemente afetada pelas restrições da pandemia. O cânion ficará aberto até o domingo de Páscoa e voltará a fechar na segunda-feira (5). O espaço não reabriu quando houve a liberação da cogestão aos municípios porque, segundo o secretário de Turismo, Tiago Lima, o parque tem cerca de 10 funcionários e a empresa que opera o local terá contrato encerrado. Desta forma, a pandemia, somada às dificuldades relatadas pela empresa Hope Serviços em disponibilizar transporte aos trabalhadores e até efetuar o pagamento aos colaboradores, fará com que volte a ser fechado após o feriado.
Por volta das 9h desta quinta-feira, a reportagem encontrou apenas um casal no Itaimbezinho. O engenheiro agrônomo Rafael Venson, 29, e a noiva, a servidora pública Juliana Postal, 33, saíram de Santo Antônio do Sudoeste (PR) ainda no domingo para passar a semana na terra dos cânions. Na Sexta-feira Santa eles farão o movimento contrário do esperado. Em vez de aproveitar o feriado em viagem, eles preferiram justamente fugir da possibilidade de aglomeração.
— Saí às 5h de carro e cheguei às 15h de domingo direto pra Cambará. Hoje eu já estava indo embora quando fiquei sabendo que o cânion reabriu e vim conferir. Me senti mais seguro aqui do que na minha cidade. Está bem tranquilo, na pousada em que estou só tinha mais um casal. Agora, na minha cidade é mais frio que aqui, viu?!
Juliana se disse encantada com a paisagem.
— Os cânions são maravilhosos, é uma vista incrível. Tive um pouco de receio por causa da pandemia, mas me senti bem segura.
Ao contrário do Itaimbezinho, o cânion Fortaleza abriu desde que foi liberada a cogestão dos municípios. Por ter apenas um funcionário na portaria, não há impeditivo, conforme Lima.
Ainda assim, é necessário atuar com limitação de pessoas. Caso passe de 500, será feito um rodízio de entrada.
Liberação no sábado é alívio para hoteleiros
A notícia de que o governador Eduardo Leite liberou o comércio não essencial para abertura na véspera de Páscoa entusiasmou os empreendedores locais no final da manhã desta quinta-feira. A região de Cambará já havia solicitado que os lojistas estavam dispostos a trocar o próximo sábado pela segunda-feira. De acordo com o secretário Lima, a ideia era trocar, já que o comércio e restaurantes abrem até as 18h em dias de semana. Mesmo com a permissão para funcionamento no sábado, a Sexta Santa será de portas fechadas.
— Foi uma luta abrir ao menos no sábado para que as pessoas possam salvar ao menos este mês (economicamente). Não achamos que terá grande movimento, mas vai aumentar. Pelas regras, poderemos utilizar até 70% da capacidade hoteleira — diz Lima.
O prefeito Ivan do Amaral Borges (MDB) irá publicar um decreto com a autorização para funcionamento no sábado. A presidente da Associação de Empreendedores Turísticos de Cambará do Sul (Aeturcs), Kelly da Fonseca, afirma que abrir comércio e restaurantes, ao menos neste feriado, era uma das principais reivindicações do setor.
— Tivemos semanas bem mais quentes, com mínimas de 15 graus. Este é o primeiro frio do ano. Não negamos a existência do vírus, mas há locais tradicionais que irão fechar se não tomarmos uma decisão agora. Não tivemos nenhum caso de contágio ligado ao atendimento ao visitante. Estamos preparados para receber o turista neste feriado para que possamos salvar o mês de abril — diz.
De acordo com a proprietária da pousada Corucacas, fundada há 26 anos e pioneira no turismo rural, Beatriz Isoppo Trindade, a abertura dos restaurantes no sábado facilitará as refeições dos hóspedes. Por conta das regras, ela deixou de oferecer comida nas instalações. Os visitantes acionam delivery durante a hospedagem. Beatriz afirma que a pousada, com 30 lugares entre apartamentos e três cabanas, já está com 70% de ocupação. Como o local é ao ar livre, é um dos mais procurados durante a pandemia.
— O feriado de Páscoa sempre foi um dos melhores para mim. Neste, com a abertura do comércio no sábado, eu chegaria a 100% de lotação, mas não posso passar dos 70% — diz.
Pousada vai reabrir, ainda que tardiamente
Rogério Borges, 57, é proprietário do Hotel Fazenda Vale Dourado e da Pousada Pôr do Sol, em Cambará do Sul. Até esta quinta-feira (1º), ambos os locais de hospedagem estavam fechados. Apesar da baixa procura, Borges afirma que reabrirá nesta sexta-feira (2), mediante a procura de hóspedes no balcão, respeitando o limite máximo de 30% de ocupação.
— Agora com a bandeira preta ficamos todo esse tempo fechado. Estamos, na verdade, com os hotéis fechados. Talvez nós reabrimos agora para atender uns hóspedes que estejam passando pela cidade ou vindo visitar os parques nacionais que abriram agora novamente. Com todas as restrições que a gente atendeu, graças a Deus, nunca tivemos um surto dentro dos nossos hotéis, não tivemos contato com o vírus. A gente se cuida bastante — salienta Borges.
Além do uso de máscaras, álcool gel e o distanciamento social para a prevenção do coronavírus, Rogério conta que também terceirizaram o café da manhã das hospedagens para que seja servido fora do hotel e em um espaço maior. A abertura dos restaurantes apenas no sábado também gera preocupação no empresário.
— Se o turista vem para sexta e sábado, ele precisa de refeição no domingo também, pelo menos o café da manhã, e você não tem essa refeição. Está bem complicado mesmo. O prejuízo é enorme. Não sei quanto tempo vamos conseguir nos manter dessa forma aí. Temos que receber o turista se ele quiser nos visitar, e os parques estiverem abertos, com todos os protocolos e todos os cuidados — desabafa Rogério, que precisou demitir funcionários e vender uma propriedade por causa dos prejuízos gerados pela pandemia.
Apesar disso, e da insistência pela retomada, Borges acredita que o momento ainda é de reclusão, em que as pessoas precisam esperar mais um pouco para retornar novamente.
— Não pode haver aglomerações, porque se não nós vamos voltar de novo, mais uma onda, e aí tudo vai ser perdido. Já que nós fizemos esse esforço de um ano todo, não custa mais um pouco. Acho que temos que ter essa consciência de que, infelizmente, alguém vai perder os seus negócios, alguém vai passar por dificuldades, mas a gente tem que pensar que temos que vencer essa pandemia e cada um tem que dar a sua parcela — destaca.
Ocupação de 5% na quinta-feira
O baixo número de procuras por hospedagens também é encontrado em Gramado. No Hotel Canto Verde, por exemplo, que completa 40 anos em 2022, a ocupação na tarde de quinta-feira era de 5%, ou seja, dos 33 chalés que são disponibilizados, apenas quatro estavam ocupados.
— Está bem baixa, por conta do comércio e restaurantes fechados. Houve liberação para o sábado, o funcionamento até as 18 horas, esperamos que de última hora melhore, mas não será nem 15% de ocupação. Péssimo para um período em que, em 10 anos, sempre estivemos lotados — lamenta Cristiano Canali Doval, 42, gerente geral do espaço.
Cristiano explica que o Canto Verde fez grande investimento na questão de equipamentos de segurança e maquinário para higienização. O hotel, inclusive, contratou um curso de medicina do trabalho com participação de todos os funcionários para terem consciência de como receber os hóspedes e até mesmo se autoprevenir e evitar meios de contágio. Ele destaca a disponibilização de um QR Code por onde os hóspedes passam controlar e mapear a circulação das pessoas.
— Onde cada hóspede passa, ele bate uma foto do QR Code, porque se o hóspede transitar aqui pelo hotel e posteriormente voltar para a cidade dele e apresentar sintomas de coronavírus, os próprios meios de saúde conseguem saber por onde essa pessoa infectada transitou. Então, a gente fez esse cadastramento junto à Vigilância Sanitária. Com esse QR Code, eles conseguem fazer esse mapeamento e um controle circulatório das pessoas.
O gerente aponta que, além de todos os cuidados, atualmente o café está sendo servido diretamente nos quartos para evitar a contaminação cruzada das pessoas que transitam pelo salão. No momento, o espaço kids, a sala de jogos e a piscina estão fechados a fim de evitar aglomerações.
Na Pousada Betânia, também em Gramado, a situação é a mesma. A baixa procura por hospedagens predominava até a tarde desta quinta-feira, segundo Jorge Luiz Fedrizzi, funcionário do local. Fedrizzi aponta que não há uma boa expectativa para a chegada de turistas à cidade.
— Acabei de receber mais um cancelamento. Não tem muita procura nem pelas mídias, nem por rede social e nem por telefone. Está bem difícil — comenta.