O ano letivo começa em datas diferentes na rede particular de Caxias do Sul. O calendário sugerido pelo Sindicato do Ensino Privado (Sinepe), que representa escolas particulares do município, sugere o retorno no dia 22 de fevereiro. Na cidade, no entanto, colégios como São José e Madre Imilda recebem os estudantes na segunda-feira (15) e o La Salle Carmo e o La Salle Caxias retomam as atividades na quarta-feira (17). Outros como o São João Batista já retornaram. Cada instituição tem autonomia para definir a data de retorno às aulas, desde que cumpridos os 200 dias letivos previstos em lei.
Com a experiência adquirida em 2020, os colégios garantem estar mais preparados para seguir no ensino híbrido em 2021. Apesar do termo ter sido usado durante todo o ano passado, é preciso esclarecer que essa metodologia não é como educação a distância e, por isso, especialistas têm chamado o ensino remoto de híbrido porque o processo alia os métodos de aprendizados online e presencial. Na prática, como foram impedidas da noite para o dia de continuar com aulas presenciais, as instituições de ensino passaram essas aulas para o ambiente virtual no mesmo modelo.
As escolas estão se preparando para receber os alunos com adaptações nas salas, o que garante o retorno presencial diário para algumas séries e o escalonado para outras. Também intensificaram os treinamentos das equipes para garantir as aulas síncronas - com parte da turma em modo presencial e outra acompanhando ao vivo pela internet, de casa. Os pais têm sido informados por meio de comunicados, grupos de conversa e publicação de circulares sobre os preparativos para o início das aulas.
Outro ponto que segue em aberto é a obrigatoriedade das aulas presenciais para os estudantes que não são do grupo de risco. Esse é um pedido do Sinepe e que está em análise pelo gabinete de crise do governo do Estado. Até que seja tomada uma decisão, segue valendo o modelo adotado em 2020, com parte da turma na escola e outra parte recebendo atividades em casa e a possibilidade de as famílias optarem pelo ensino presencial ou remoto.
Os colégios devem continuar seguindo os Planos de Contingência elaborados em 2020 e respeitar o sistema de bandeiras - que, atualmente, autoriza aulas em regiões de bandeira amarela, laranja ou vermelha - além dos decretos de cada município. Já na área pedagógica, seguem valendo as normativas publicadas pelo Conselho Estadual de Educação (CEEd/RS).
O presidente do Sindicato, Bruno Eizerik, avalia que o retorno gradual às aulas presenciais ainda em 2020 foi fundamental na organização do novo ano letivo, já que permitiu tanto às escolas, quanto às famílias entender a nova realidade de ensino e se adaptar aos protocolos de saúde, necessários para combater o contágio:
— No último ano, não houve registro de surtos ou aumento nos casos de covid-19 em função da volta às aulas, o que demonstra que o ambiente escolar é um local seguro para nossas crianças e jovens. As instituições aprenderam muito no ano passado. Entendemos que é necessário rever algumas questões na retomada das aulas em 2021.
Em reunião com o COE-Estadual, em janeiro, o Sindicato apresentou reivindicações para as atividades de ensino, como a volta presencial das aulas e a obrigatoriedade do retorno — exceto para alunos do grupo de risco —, além do sistema de cogestão de bandeiras para o setor educacional e a flexibilização do número de alunos por sala de aula, não restringindo a 50% da turma, mas, sim, vinculando o número de alunos à capacidade da sala, mantendo o distanciamento.
Escolas se preparam para receber alunos em sala de aula
Para se adequar à nova realidade e manter a segurança de alunos, pais, professores e funcionários, os colégios particulares têm investido em reformas estruturais e formação pedagógica aos colaboradores para adaptar os conteúdos ao modelo de ensino necessário para driblar a pandemia. No São José, por exemplo, os alunos da Educação Infantil e Fundamental I (1º ao 5º ano) podem ir durante toda a semana para a escola. A medida foi protocolada e aceita pelo COE municipal
— Vamos ter ensino híbrido para todos os níveis da Educação Infantil à terceira série do Ensino Médio. Na Educação Infantil e Fundamental I existe a possibilidade de os estudantes virem 100% presencial — explica o vice-diretor Jorge de Godoy
A escolha de mandar a criança para a escola é da família:
— Quem se sentir seguro e onde o estudante não tiver comorbidades nós estaremos recebendo-os todos os dias, com aula presencial.
Para isso, a escola fez reformas e reduziu o número de alunos por turma.
— Remodelamos o espaço físico e diminuímos o número de estudantes por turma, observando a capacidade de cada sala de aula, preservando o distanciamento físico. Nossa preocupação foi com o estudante e não com o estético — ressalta o vice-diretor.
No Fundamental II, do 6º aos 9º anos, e no Ensino Médio, que vai da 1ª a 3ª séries, os estudantes são divididos em números pares e ímpares, possibilitado também a todos participarem do ensino presencial. Porém, não todos os dias da semana, mas, sim, em escalas para evitar aglomerações. Assim, os alunos terão aula presenciais dia sim, dia não:
— Com o andamento vamos verificar a possibilidade da vinda presencial de todos os que tiverem interesse desde que tenhamos espaço físico e mediante a não presença de alguns colegas pela opção da família. Nesses níveis faremos um processo de observação e consulta nos primeiros dias. Nosso protocolo para o retorno às atividades presenciais continua o mesmo e o rigor do acompanhamento também, tanto por parte dos estudantes como por parte dos colaboradores, para mantermos o nível zero de contaminação dentro do colégio.
Cerca de 1,8 mil estudantes estão matriculados atualmente na escola.
No Carmo, da creche III ao 2º ano do Ensino Fundamental, que é o final da alfabetização, os alunos terão aulas presenciais todos os dias. Esse é um dos desejos dos pais para garantir, inclusive, a socialização das crianças depois de passarem meses fora da sala de aula.
— Estamos readequando diversos espaços para manter o distanciamento físico e garantir a prevenção, os cuidados com a saúde e também as aulas presenciais — explica o Diretor do La Salle Carmo, Roberto Carlos Ramos.
Do 3º ano do Ensino Fundamental ao 3º Ano do Ensino Médio, os estudantes vão ter escalas:
— Será um dia sim, um dia não. O rodízio será em dois grupos, respeitando distanciamento de 1,5 metro e capacidade de 50% da turma.
Ele afirma que a ideia era que todas as turmas tivessem aula um dia sim e outro não, como em 2020. Mas, diante da cobrança dos pais, decidiram dividir as turmas em espaços alternativos e contrataram mais sete professores.
— Vamos realocar outros espaços e dividir as turmas para que eles venham todos os dias. Há outros espaços na escola, como auditório, sala de jogos, que vão ser usados como sala de aula para acolher o pedido das famílias. Voltamos atrás para que eles pudessem vir todos os dias e garantir o ensino de qualidade — destaca.
No La Salle, os alunos da Educação Infantil ao 1º ano do Ensino Fundamental também terão aula presencial todos os dias, enquanto os estudantes do 2º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio vão ter aulas escalanodas. A escola também passou por reformas para garantir o retorno das crianças ao colégio.
No Murialdo, os alunos da Educação Infantil, 1º e 2º anos do Ensino Fundamental (anos iniciais) e 3ª série do Ensino Médio serão atendidos 100% de forma presencial. Os alunos do Turno Integral também terão aulas 100% de forma presencial. A partir do 3º ano do Ensino Fundamental à 2ª série do Médio, as aulas serão ministradas na modalidade presencial e remota, de forma escalonada, conforme o critério de turma A e turma B de acordo com a listagem de chamada, iniciando com a turma A na 2ª, 4ª e 6ª feira, e turma B na 3ª e 5ª feira, invertendo-se na semana seguinte.
Pais preocupados com o ensino
Parte dos pais que tem filhos matriculados no Carmo cobra a presença diária dos filhos na escola. Principalmente dos mais pequenos, que estão em fase de alfabetização, e no Ensino Fundamental.
— Tenho dois filhos, um no 3º e um no 5º, de sete e nove anos. Participo de dois grupos (WhatsApp) e os pais estão bastante revoltados com o formato de volta às aulas, com o modelo híbrido.
Ainda segundo a mãe, a escola aceitou 200 novos alunos, e isso provocou ainda mais revolta entre os pais, que questionam como o colégio aceita matrículas se não se preparou melhor para receber alunos presenciais.
— A escola tem espaço para adequar mais turmas 100%, principalmente do Ensino Fundamental. As crianças estão sendo prejudicadas com isso porque o ensino em casa não é o mesmo. Estamos todos preocupados com isso.
Os pais organizaram abaixo-assinados para cobrar que a escola promova melhorias e modificações para receber as turmas presenciais. A direção emitiu duas circulares na tarde da última quarta-feira (10) para avisar aos pais que os alunos da creche III ao 2º ano do Ensino Fundamental terão aulas presencias. Contudo, os pais cobram que pelo menos as séries iniciais estejam nas salas de aula todos os dias.
— Meu filho está no 3º ano do Fundamental e entendemos a dificuldade que o colégio enfrentou em 2020. Mas também questionamos a falta de planejamento, porque a escola tem condições de se adequar e até alugar espaços para receber as crianças em período integral, com todos os cuidados — conta o pai de um menino de oito anos, que também prefere não ser identificado.
Ele faz parte de um grupo onde estão 350 pais que defendem que pelo menos as crianças tenham acesso às aulas presenciais todos os dias.
— O colégio aceitou mais de 200 novas crianças. Se antes já estava difícil de ter os alunos na escola diante das restrições, como eles colocam mais de 200 novos estudantes? Nosso sentimento é que a escola pensou apenas no lado financeiro. As crianças menores têm dificuldade em se concentrar em aulas online, eles cansam, perdem o interesse, fora o desgaste emocional. Meu filho tem oito anos e ele sofreu com esse formato de ensino. Levamos ele ao psicólogo porque não tinha mais vontade de estudar. A situação vai piorar porque agora ele tem que ficar online 3 horas e meia. Como vamos fazer para ele absorver o conteúdo? — questiona ele.
Ele desabafa:
— Estamos indignados com essa postura porque o colégio tem que oportunizar esse contato das crianças com o professor em sala de aula. Os maiores tem mais autonomia, mas os pequenos precisam dessa troca para aprender. A escola tem que ter soluções melhores.
Um dos abaixo-assinados online é para a escola e o outro voltado à prefeitura de Caxias do Sul e ao Estado.
O Diretor do La Salle Carmo, Roberto Carlos Ramos, afirma que o colégio concluiu o ano de 2020 com 1.748 alunos, e conta atualmente com 1.762. Segundo ele, o acréscimo se deu basicamente no Ensino Médio:
— Deixamos de matricular 50 crianças na Educação Infantil e em outros níveis temos lista de espera também. Porém, não colocamos alunos a mais e, sim, mantivemos os que tínhamos matriculados. Optamos pela aula integral porque os pequenos não conseguem acompanhar as aulas online muito tempo. Os 1º e 2º anos são o alicerce para a vida. Então, como houve defasagem no processo de alfabetização, priorizamos esses alunos. Os maiores têm mais facilidade de aprender online.
Sobre a possibilidade de alugar um imóvel, o diretor explica que a prática seria ilegal:
—Nós abrimos espaços e fizemos ajustes porque para acolher os alunos tem que ter estrutura. Não iremos alugar um prédio porque tem que ser aberto todo um processo junto ao Conselho Nacional de Educação. Lamentamos não poder acolher todas as crianças, mas vamos seguir no caminho legal.