O cenário de ausência de alunos nas escolas de Caxias do Sul em função da pandemia começou a ser parcialmente modificado nesta semana nas escolas estaduais e desde o mês passado nas particulares. Na última quarta-feira (28), a rede estadual retomou encontros presenciais para o Ensino Médio, enquanto as escolas particulares voltaram com parte do Ensino Fundamental. Na rede particular, o Ensino Médio voltou entre setembro e início de outubro.
Mesmo que a liberação tenha ocorrido, a realidade é de baixa adesão dos estudantes. Impasses envolvendo ações do Cpers/Sindicato e falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) envolvem a comunidade escolar pública. Nas instituições de ensino particulares, a informação é de que há adaptação eficaz de alunos e professores às plataformas digitais, o que mantém o maior número de matriculados em casa.
Conforme a psicopedagoga, Simone Martiningui Onzi, um dos motivos para a falta de interesse no modelo tradicional é que muitas famílias não sentem segurança para enviar os filhos ao ambiente escolar.
— Não é em relação às escolas e suas precauções, mas ao próprio vírus e com a possibilidade de contaminação da criança e familiares. Por isso, alguns optam por aguardar a vacina — explica Simone, que também coordena o o curso de Pedagogia da FSG Centro Universitário e é mestre em Gestão Educacional.
Para a especialista, há, ainda, o fato de ser final de ano:
— As famílias que estão em home office já adaptaram as rotinas e como o retorno está bem próximo ao final do ano, irão permanecer no modelo síncrono online. A adaptação das próprias crianças ao sistema síncrono de ensino e, também por conta da mesma qualidade de quem está na sala de aula, preferem manter o formato até o próximo ano — diz, completando que outro influenciador é a convivência diária de alguns alunos com familiares que integram os grupos de risco.
Para o presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe), Bruno Eizerik, a avaliação de adesão depende de cada escola e da idade dos alunos. De acordo com o presidente, o ensino remoto atinge os objetivos de forma mais qualitativa com alunos dos anos finais do Fundamental e Ensino Médio. Com os pequenos, existe a necessidade dos pais, que precisam trabalhar, além da reação positiva das crianças com a proximidade do professor.
— Tudo depende muito. Temos exemplos que nos mostram todos os alunos de uma mesma turma voltando e de outra, na mesma escola, nenhum. Não existe uma regra. Temos visto que, a medida em que as aulas voltam, o número de alunos cresce. A tendência é que acabem voltando mais, dentro do limite — afirma.
Condições das escolas estaduais são um agravante
A situação envolvendo a difícil decisão dos pais também passa pela estrutura apresentada pelo Estado. Na rede pública, é realidade a falta de acesso à internet para que alunos tenham aulas virtuais em casa. Por conta disso, os pais ou responsáveis buscam trabalhos impressos semanalmente nos colégios. Segundo explica a integrante da equipe diretiva do 1º Núcleo do Cpers/Sindicato, Alessandra Lazzari, que atua em escola estadual, os pais percebem que não há condições sanitárias para retorno dos filhos.
— Eles vão às escolas e veem que a realidade não é adequada para a volta. Há defasagem na questão estrutural. Não há ambiente para ventilação em muitas das escolas. Muitas janelas estão emperradas. Os pais, vendo isso, se posicionaram pela permanência dos alunos em casa. Há turmas em que nenhum voltou — cita.
Com menor adesão do que na rede particular, os alunos de escolas estaduais recém iniciaram a volta. O retorno, no entanto, é marcado por turbulência. De um lado, a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) orientou o reinício na quarta-feira, mas o Cpers/Sindicato informou que uma liminar obtida pela categoria está em vigor e que irá denunciar as escolas que receberam os alunos. Na rede estadual, as aulas acontecerão de segunda a quarta-feira. Desta forma, houve apenas um dia de aula presencial. A expectativa é de que o retorno siga na próxima terça-feira (3). A liminar obtida na Justiça exige que cada escola tenha uma vistoria de setor da saúde para validar o retorno. Sobre o assunto, a 4ª CRE não se pronuncia.
Na quarta, de 14 escolas estaduais consultadas pela reportagem, nove abriram. O maior número de alunos presentes foi registrado no Instituto Cristóvão de Mendoza. Sessenta estudantes compareceram de um universo de cerca de mil no total de alunos do colégio. Já na Escola Melvin Jones, apenas sete compareceram no turno da manhã. As escolas que não abriram as portas alegaram receio pela questão jurídica envolvendo a liminar.
A volta em Caxias é tardia em relação ao calendário do Estado. A falta de equipamentos de proteção, que deveriam ter sido enviados para início em 20 de outubro, interrompeu os planos. Desta forma, muitas escolas recorreram ao caixa próprio, denominado de Autonomia Financeira, para adquirir objetos como tapetes sanitizantes, máscaras e álcool gel. Conforme a 4ª CRE, os materiais são enviados de forma gradativa.
Realidade nas particulares
De acordo com o levantamento efetuado pela reportagem nesta sexta-feira (30), as principais escolas particulares de Caxias mantêm aulas presenciais para menos da metade dos alunos. No Colégio La Salle Carmo, 63 alunos de um total de 174 do Ensino Médio voltaram. O número muda a cada sexta-feira a partir de novas decisões dos pais. Em relação aos anos finais do Ensino Fundamental, a quantidade chega a 129 dos cerca de 400. Conforme a idade diminui, a adesão aumenta. O exemplo fica claro quando se percebe que a Educação Infantil aumentou de 40, no início de outubro, para 110, até esta sexta-feira (30).
— Temos um clima de bastante tranquilidade em relação à adaptação (virtual). Os professores consideram que o processo pedagógico fluiu bastante — diz a supervisora educativa do colégio, Adriana Steinmetz.
A realidade é similar no Colégio São José. Segundo o vice-diretor Jorge de Godoy, 40% do Ensino Médio retornou. São 416 alunos divididos em dois grupos, que vão em dias diferentes para evitar aglomerações. Nos anos finais do Ensino Fundamental, que também retornou na quarta-feira, a volta atinge 50%. Quando se fala em Educação Infantil o número sobe para 80%.
O Colégio Madre Imilda têm 10% dos estudantes de Ensino Médio presentes e 30% dos anos finais do Ensino Fundamental. O total de alunos do colégio é de 930 em todos os níveis.
No Colégio La Salle Caxias, 20% a 30% dos alunos do Ensino Médio retornaram, assim como no Ensino Fundamental II. Diferente dos outros, o La Salle teve o retorno também do Ensino Fundamental I, de anos iniciais, nesta semana. O nível apresentou cerca de 50% de presença, assim como a Educação Infantil. No Cetec/UCS, a realidade virtual é ainda mais firme. Os cerca de 900 matriculados, entre Médio e Técnico, seguem de forma 100% online.
O calendário do governo do Estado sugeriu a retomada do Ensino Médio em 20 de outubro, anos finais do Ensino Fundamental em 28 de outubro, e anos iniciais em 12 de novembro. Em Caxias, as estaduais iniciaram o Médio na quarta e não há previsão para a retomada do Fundamental. Já na rede particular, a quarta-feira foi de início dos anos finais do Fundamental e a previsão na maioria delas é de início dos outros anos em 3 de novembro, com exceção do La Salle Carmo, que tem previsão para retomada em 12 de novembro.
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