— Eu estou na "prisão do bem", no conforto da minha casa. Minha família não me deixa sair e eu obedeço porque eu não quero pegar o vírus e não quero que quem eu amo pegue. Então, para cuidar deles, tenho que cuidar de mim.
Foi com essas palavras que Luiza Foralosso Stedile, 87 anos, contou como está se protegendo do coronavírus. A simpática moradora de Antônio Prado disse ainda que o esposo, Leonardo Stedile, 94, com quem divide a vida há 67 anos, também respeita o isolamento. O casal está no grupo prioritário da vacina contra a covid-19, na fase 1, mas ainda sem data para receber a imunização. Isso porque as poucas doses recebidas da CoronaVac em Caxias do Sul foram direcionadas aos profissionais de saúde que atuam na linha de frente, aos idosos que vivem em asilos, indígenas e quilombolas; já as doses da Oxford/Astrazeneca são destinadas exclusivamente aos profissionais da saúde.
Mesmo sem saber quando chegará a sua vez de receber a vacina, dona Luiza tem esperança que a imunização irá ajudar a combater a pandemia:
— Eu e meu marido estamos contentes e acreditamos que a vacina ajude. Teve toda uma briga, mas esperávamos muito por esse momento de esperança, e ele chegou. Vamos fazer a vacina. Eu tenho 87 anos, mas não quero ir para o outro lado, eu tenho uma família que cuida de mim como se eu fosse uma pérola preciosa. Tenho todos os motivos para me cuidar e me manter bem.
Para ela, a paciência é uma das maneiras de lidar com a espera.
— Sei que estou entre os prioritários, mas antes de nós há aqueles que estão há meses lutando para salvar vidas. Eles cuidam de todos e nada mais justo dos que os profissionais da saúde serem vacinados primeiro. Tem uma certa ansiedade, mas vou esperar tranquilamente pela minha vez. Vou me sentir segura com a vacina, mas vou seguir com todos os cuidados — afirma a idosa.
Sobre o desrespeito às regras, dona Luiza tem um recado aos mais jovens que são flagrados frequentemente em festas clandestinas, sem máscara e compartilhando comidas e bebidas:
— Quero pedir aos jovens, com quem sempre me dei bem porque trabalhei em escola: não brinquem com essa doença. Levem esse vírus a sério. Se saírem de casa, se não se importam com o que o vírus faz, não levem essa doença para os seus pais e avós que estão se cuidando.
Recuperada de covid e à espera da vacina
Moradora de Caxias do Sul, Erci Terezinha De Carli Rizzotto, 74, também está à espera da vacina contra a covid-19. Ela está na segunda fase da campanha de imunização, fase que prevê a vacinação dos idosos de 60 a 74 anos.
Este, aliás, é o maior grupo entre os prioritários para imunização em Caxias: segundo estimativa da Secretaria Municipal de Saúde, feita com base nos dados da última campanha de vacinação contra a H1N1, bem como nos números do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI), estimativa populacional do IBGE e também dados do Serviço da Atenção Domiciliar (SAD), são 41,6 mil pessoas.
Não saber quando será vacinada, já que para a campanha avançar e chegar até a fase 2 é necessário novos repasses e novas diretrizes do governo do estado e do Ministério da Saúde, dona Erci segue na expectativa. Ela tem redobrado os cuidados porque já enfrentou a doença. Em setembro, ela e o esposo, Arlindo José Rizzotto, 74, foram infectados pelo coronavírus.
— Eu tive covid-19 e, apesar de não ter sido internada, fiquei com 50% do pulmão comprometido. Meu esposo também teve, mas não teve problemas. Fiz duas tomografias recentemente e, mesmo que tenha melhorado um pouco, meu pulmão ainda não está limpo — conta.
Ela conta que o casal aumentou os cuidados enquanto aguarda a vacina.
— Estamos nos cuidando ainda mais agora porque há a possibilidade de se contaminar novamente. A primeira eu passei, mas não sei se passo por outra. Assim que a vacina estiver disponível para a minha faixa etária eu vou fazer. É uma esperança de combater esse vírus que levou tantas vidas — lamenta Erci, ressaltando que é preciso paciência e tranquilidade para controlar a ansiedade.
Especialista recomenda cuidados mesmo depois da vacinação
A coordenadora da Infectologia do Hospital Geral (HG) de Caxias do Sul, a médica Viviane Buffon, comemora o começo da imunização contra o coronavírus. Para ela, a chegada da vacina reduzirá o número de pessoas infectadas pelo coronavírus e precisando de internação hospitalar.
A primeira etapa da vacinação contemplou profissionais da área da saúde que estão expostos continuamente a pessoas com a infecção por covid-19. A próxima etapa é destinada aos idosos, a faixa etária mais atingida pelo vírus. Os idosos com mais de 75 anos, em geral, são mais frágeis, com doenças associadas, e com mais riscos de agravar o quadro, caso sejam infectados. Por isso, a imunização começa com os idosos institucionalizados, que são aqueles que vivem em asilos, e em sua maioria, tem problemas de saúde.
— É fundamental vacinar esse grupo pois ficarão menos suscetíveis a hospitalização. Notou-se durante esses meses de pandemia uma prevalência grande de idosos acometidos, sendo que destes muitos apresentavam doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. A vacinação é nesse momento o melhor caminho que temos para prospectar dias mais seguros — afirma a infectologista.
A especialista alerta que mesmo depois da aplicação das duas doses da vacina é preciso manter cuidados:
— A dica é: vacinem-se quando chegar o seu momento e mantenham os cuidados. É importante salientar que a imunidade é conferida após a segunda dose da vacina. Dessa forma, precisamos manter todos os cuidados previamente já conhecidos por todos nós, como o uso de máscaras, higiene das mãos, uso de álcool gel e manter distanciamento físico. A recomendação até o momento é seguir as precauções. O abandono das máscaras e demais cuidados ainda não acontecerá. Precisamos ver os números de infectados e óbitos declinar para que novas orientações sejam feitas à população — aponta a médica.
Canalize a ansiedade
Para a psicóloga Joselaine de Barros, especialista em comportamento, é essencial ter em mente que a ansiedade é necessária para motivar o ser humano diariamente.
— A ansiedade é positiva porque ela nos move e nos motiva. Se a gente não tiver um mínimo de ansiedade, a gente não consegue fazer as coisas no dia a dia, trabalhar, fazer as nossas coisas de casa — afirma.
A terapeuta ressalta que quando se tem uma espera, como é essa questão da vacina, a ansiedade pode estar potencializada, então ela sugere atividade para canalizar esse sentimento:
— Estamos em época de safra da uva, as pessoas mais idosas, que têm esse hábito e gostam de fazer geleias, podem usar esse tempo para produzir as geleias para quando puderem tomar café com os filhos e netos, quando puderem se reunir novamente.
Joselaine finaliza:
— Eu gosto de usar uma metáfora: a pandemia é como se nós estivéssemos atravessando uma ponte. Nós estamos de um lado e querendo chegar do outro lado. Agora com a vacina estamos quase na outra margem. Falta muito pouco para a gente atravessar a ponte e passar por mais essa dificuldade. Logo vamos estar protegidos, vacinados. Temos que canalizar nossa ansiedade nessas coisas boas. A solução para o problema está chegando, vencemos a pior parte e podemos acreditar, ter esperança de que vamos chegar bem do outro lado.