A jornalista Silvia Dalcin Dalmas, 30 anos, é natural de Carlos Barbosa, vive em Dubai, nos Emirados Árabes, e comemora ter sido vacinada nesta terça-feira (19). Ela deixou a Serra há cinco meses, em plena pandemia, para trabalhar. Lá, a vacina chegou na metade de dezembro — há a da Pfizer e a da Sinopharm disponíveis. Dubai tem cerca de 1,3 milhão de habitantes.
Ela sequer precisou agendar para ser imunizada e só conseguiu porque tem carteirinha de residente — turistas estão excluídos do benefício. A vacina é para nascidos nos Emirados Árabes e residentes, já que a população é predominantemente formada por estrangeiros.
— Meus amigos fizeram (a vacina) ainda em dezembro e me explicaram como funcionava. É muito simples, não precisa agendar. É só chegar em algum dos pontos de vacinação espalhados pela cidade e mostrar a identidade emiradense. Todos os meus amigos e conhecidos aqui já se vacinaram. A meta do governo é imunizar pelo menos 50% da população. Em apenas um dia, foram vacinadas mais de 80 mil pessoas nos sete Emirados (ficando atrás apenas de Israel) — conta Silvia, que relata as impressões do momento da vacinação:.
— Tive azar, porque nos dois primeiros locais que fui, não foi possível: um estava fechado, o outro, depois de meia hora esperando, finalizou as imunizações no dia. No terceiro, finalmente, consegui e foi muito rápido. Esperei por alguns minutos na fila, me chamaram para o cadastro e verificar a pressão. As únicas perguntas que me fizeram foram se eu estava grávida ou se planejava ter filhos em seis meses. Em seguida, passei para a outra sala, para receber a dose. Ao final, eles entregam uma carteirinha com a data para fazer o reforço, 21 dias depois.
A vacina nos Emirados é gratuita e para toda a população. A única restrição é em relação à Pfizer, que só está disponível para grupos prioritários. De acordo com Silvia, o governo encoraja muito que todos os cidadãos se imunizem:
— Na minha opinião, os Emirados foram um exemplo no combate a covid-19. O governo sempre tratou a questão com muita seriedade. Quando os casos começaram a se espalhar em março, foi realizada uma quarentena rigorosa. Ninguém podia sair de casa nem para ir ao mercado, por um mês. Apenas com autorização do governo. Aos poucos, tudo foi se flexibilizando e foi um dos primeiros países a abrir novamente para o turismo. Quando eu cheguei, em agosto, o país já estava recebendo turistas.
Os pais de Silvia seguem morando na Serra gaúcha e a diferença entre os dois países gerou um certo receio dos familiares:
— Quando contei para os meus pais (que vivem em Carlos Barbosa) que pretendia fazer, eles ficaram um pouco apreensivos, com um pouco de medo, afinal muita gente fala para não fazer. Depois conversamos e eles concordaram que eu deveria aproveitar a oportunidade. Entre os riscos de não saber como meu corpo vai reagir caso eu seja contaminada pelo vírus e os riscos de não saber como meu corpo vai reagir à vacina, eu prefiro o segundo. Até agora não senti nada. Apenas muita dor no braço onde foi feita a vacina. Mas já me informaram que é normal ter febre ou sintomas de gripe.
O início da vacinação no Brasil gera uma grande expectativa para quem está aqui e quem observa do outro lado do mundo.
—A possibilidade de fazer a vacina é algo que provoca vários sentimentos em mim. Me sinto realmente privilegiada, mas eu não consigo ficar 100% feliz com isso enquanto que as pessoas que eu amo não puderem fazer também. Muita gente me escreveu, dizendo que está ansioso para isso, e fico com o coração apertado ao ver que no Brasil ainda vai demorar muito para que todos recebam. De qualquer forma, o que me deixa feliz é que pelo menos eu serei uma pessoa a menos no mundo transmitindo esse vírus. Mal posso esperar para voltar ao Brasil e poder abraçar as pessoas sem receios, em especial minhas duas avós, que eu não abraço há mais de ano — diz Silvia.