A vacinação simbólica de duas profissionais da saúde marcou o início da campanha em Bento Gonçalves. Por volta das 15h, o prefeito Diogo Siqueira e a secretária municipal de Saúde, Tatiane Misturini Fiorio, conduziram o encontro. Bento é o segundo município da região com mais doses: um total de 1,9 mil, um número acima do estimado pela Secretaria Municipal da Saúde, que era de mil vacinas.
As primeiras vacinadas foram a enfermeira Edna Navarro Correa, 35 anos, que trabalha na UTI adulto do Hospital Tacchini e a técnica de enfermagem Maria de Fátima Troian Comin, 52, que atua na UPA de Bento, desde 2005. Ambas estão desde o início da pandemia na linha de frente no combate ao coronavírus.
Aplicaram a vacina a técnica de enfermagem Elisângela Meotti, e a coordenadora do Laboratório, Giceli Flores.
Confira o momento em que Edna e Maria de Fátima foram vacinadas com a primeira dose:
Enquanto estava sentada, à espera da aplicação da vacina, Edna Corrêa revela que passou um filme em sua mente.
— Lembrei imediatamente do dia em que recebemos o primeiro paciente com covid-19, em Bento Gonçalves. Foi no dia do meu aniversário, em 18 de março (2020). Quando eu cheguei em casa, eu desabei no choro, estava inconsolável. Porque meu sentimento era de preocupação. Eu dizia para o meu marido e, para a minha filha (de seis anos), que eu tinha tratado de uma pessoa com covid o dia todo no hospital e estava com medo de infectá-los em casa — conta Edna, que é enfermeira da UTI adulta do Hospital Tacchini há 10 anos.
Edna diz que essa angústia tem sido diária e, talvez, por zelo e medo de que os amores da sua vida fossem infectados, ela tem sido disciplinada nos cuidados, desde o uso dos equipamentos de segurança à higiene criteriosa. A enfermeira revela inclusive, que tem medo de tirar a máscara no hospital, mesmo que seja para um lanche.
— Nós já sabemos como lidar com as outras doenças, mas cada dia aprendemos algo novo sobre a covid. Por isso, trabalhamos o tempo todo sob pressão, por causa do medo do vírus. Eu confesso que evito tomar um café ou um copo d'água com medo de tirar a máscara no trabalho — desabafa Edna.
A enfermeira explica que apesar da campanha de vacinação emergencial ter iniciado, as pessoas não podem se descuidar dos protocolos de prevenção ao contágio.
— O que nós temos vivenciado desde março do ano passado, até agora, é chocante. Ninguém que está do lado de fora de um hospital tem ideia do cenário com que precisamos lidar diariamente. Eu peço, por favor, para que todos cuidem de si e dos outros. Ninguém merece viver a dor que vivenciamos todos os dias dentro do hospital — argumenta.
Após a aplicação da vacina, Edna diz ter sentido uma espécie de alívio. É como se a carga pesada sobre os ombros tivesse sido aliviada imediatamente.
— O alívio que sinto é desses meses todos de cansaço, de luta, de estresse, em que eu chegava em casa exausta e, muitas vezes, só chorava. Então, enquanto eu tomava a vacina eu agradecia, dizendo: "Graças a Deus". Essa vacina traz um ânimo, sabe, um sentimento de leveza e, agora estou vacinada, para continuar dando o meu melhor — explica.
Uma nova etapa que se inicia
Maria de Fátima estava terminando o seu plantão na UPA, que desde 2005 é das 19h às 7h, quando foi informada de que seria uma das primeiras a ser vacinada em Bento Gonçalves.
— Fui pega de surpresa. Foi emocionante quando me falaram e eu agradeço de coração às minhas coordenadoras, por terem me dado essa oportunidade — conta.
A técnica em enfermagem não vê a hora de que a imunização possa alcançar mais pessoas.
— Espero que seja o início do fim da pandemia. Essa é uma nova etapa, um novo ciclo que se inicia. Gostaria que todas as pessoas em Bento Gonçalves pudessem, rapidamente, serem imunizadas _ deseja.
Desde março, Maria de Fátima tem atuado na linha de frente ao combate à covid-19. Todos os dias têm sido exaustivos, e têm exigido não apenas um alto nível de excelência, mas de resiliência, explica.
— A pandemia tem sido muito desgastante para todos nós da área da saúde e também para os pacientes. Muitos deles ficam isolados, sem contato nenhum com seus familiares.
Apesar desse cenário, assim que tomou a vacina, Maria de Fátima revela que brotou em seu coração um sentimento de gratidão pela vida e também se sente revigorada para encarar a nova etapa do combate ao coronavírus.
— Ainda estamos em uma pandemia, mas agora que estou imunizada, é como se nem lembrasse do sofrimento e do desgaste, tanto físico quanto emocional, que temos enfrentado — conforta-se.