O número de pacientes internados com coronavírus nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de Caxias do Sul teve uma redução de 52% de 12 de setembro até a manhã desta segunda-feira (5). Atualmente, 34 pacientes estão hospitalizados, sendo que nem todos são caxienses, mas mesmo assim entram na contagem já que ocupam leitos de hospitais do município. Este é o menor número em 23 dias, uma vez que no dia 12 havia 52 pessoas nas UTIs.
O consultor para projetos de risco, que tem se dedicado a fazer análises sobre os números da pandemia, Isaac Schrarstzhaupt, avalia que, inicialmente, os números realmente mostram uma tendência de queda:
— Tanto nos confirmados de covid-19 em UTIs, quanto nos confirmados usando respiradores e nos suspeitos de coronavírus há uma redução. Do dia 27 de setembro em diante tivemos um aumento nas internações gerais em UTI. Aí vem uma pergunta crucial: como está o número de positividade, calculado a partir dos dados de testes? Nós não temos como bater o martelo e garantir com 100% de certeza se a queda é real pois precisaríamos cruzar essa informação com os testes realizados e calcular a positividade. Se a positividade baixou, aí sim seria uma queda confirmada.
Ele explica que, por exemplo, comparando Porto Alegre com Nova Iorque, duas cidades que liberam os dados de testes diários, há como ver esta diferença.
— Em Porto Alegre, a curva de testes é muito similar a de novos casos diários. Isso quer dizer que os testes são reativos. Ou seja, conforme as pessoas vão chegando, elas vão sendo testadas. Quando é assim, não há garantia de que a redução de casos seja real, pois pode ser apenas redução na testagem — ressalta.
Em Nova Iorque, segundo ele, existe uma curva de testes muito mais alta do que a curva de casos positivos. Ao analisar os dados deles, se percebe que, quanto mais testes, menos casos:
— Lá, os testes são pró-ativos porque estão testando muita gente para controlar o contágio. Um gráfico assim garante que a redução é real. Se os dados de testes estão muito similares aos dados de casos a gente pode até dizer que estão caindo, mas com um pé atrás.
Mesmo assim, o consultor considera que os dados de confirmados em hospitais reduziram, mas frisa que eles foram substituídos por internações em UTI por outras doenças. Schrarstzhaupt alerta:
— De fato, com esses dados o número de confirmados com covid-19 vem caindo, mas isso não significa que a pandemia acabou. Pela leitura, fica claro que, quando a internação começa a aumentar ou a diminuir, ela é resultado de piora ou melhora de contágios que aconteceram há 15 ou 20 dias — aponta.
"Com redução ou não de casos, a pandemia ainda não acabou", alerta secretário da Saúde
A taxa de leitos de UTI ocupados é um dos indicadores usados pelo governo do Estado para definir a bandeira da região no Modelo de Distanciamento Controlado. A Serra está na cor laranja, de risco médio de contágio. Em 12 de setembro, a taxa era de 77,2%, com 122 internados para 158 leitos. Até as 10h30min do dia 4 de outubro Caxias contava com 55 leitos de UTI ocupados pelo SUS (o que equivale a 75%) e 64 leitos da rede privada com pacientes, o que também equivale a 75%. Nesse total constam pacientes com todas as doenças, não apenas com covid-19. O número de casos confirmados também tem reduzido, segundo o secretário de Saúde, Jorge Olavo Hahn de Castro.
— A taxa de ocupação de leitos de UTI está diminuindo. Estamos com 75%, sendo que no final de agosto estávamos com quase 90%. Se analisarmos o painel covid no site da prefeitura, o Virvi Ramos tem a maior taxa de ocupação, mas isso é porque é onde está instalado nosso hospital de campanha.
Castro ressalta ainda que, ao mesmo tempo que a taxa de pacientes de coronavírus reduz, a ocupação de pessoas internadas com outras doenças continua:
— Percebemos que a taxa de ocupação de pacientes infectados diminui, mas não está diminuindo a mortalidade. Alguns ficam até duas semanas internados e infelizmente não resistem ao vírus. O número de casos tem diminuído também, mas, claro, temos que lembrar que para cada caso confirmado tem 10 que não foram diagnosticados. A estimativa é que quase 90 mil moradores de Caxias já tenham sido contaminados.
O secretário alerta que o contágio segue e, para evitar a disseminação da doença, é necessário respeitar o distanciamento físico, usar máscara e evitar aglomerações.
— Não se pode abrir exceção quanto aos cuidados. Tem que usar máscara, higienizar sempre as mãos, passar álcool gel, manter isolamento físico. Quem é do grupo de risco só pode sair em caso de necessidade e é preciso evitar aglomerações. As medidas sanitárias e os protocolos são obrigatórios e essenciais à saúde da população — frisa.
Ele alerta ainda que, com o retorno de diversas atividades e, consequentemente, com o aumento na circulação de pessoas, é preciso observar os números:
— Com o aumento de pessoas nas ruas e convivendo pode ter aumento do contágio. As pessoas tem que ter em mente sempre que a pandemia ainda não acabou. Reforço que devem ser mantidos todos os protocolos e as medidas serão cobradas e fiscalizadas pelo município porque é uma maneira de combater a disseminação da doença.
"A tendência é melhorar os índices com o fim do inverno, mas a contaminação continua existindo", aponta infectologista
A infectologista Giorgia Torresini, que está à frente do combate ao coronavírus no Hospital do Círculo, também considera que os dados mostram redução nos indicadores da pandemia. Contudo, ela deixa claro que, mesmo com o fim do inverno, a contaminação segue, e é preciso se familiarizar com a existência do vírus até que seja encontrada a vacina.
Ela afirma que nas UTIs, nas duas últimas semanas, foram registrados menos casos e as internações também reduziram o tempo de permanência porque os pacientes ficam dois ou três dias hospitalizados e tem alta.
— Essa redução acontece porque agora é um manejo conhecido. Ou seja, já conhecemos a cronologia do vírus e sabemos como lidar com o avanço dos sintomas. Temos que ficar atentos porque quando há uma redução muitos podem se iludir que vamos estar com esse quadro resolvido, que a pandemia acabou. Mas, infelizmente, acredito que teremos pelo menos mais um ano assim pela frente — destaca a médica.
A infectologista alerta ainda que, com o retorno das atividades e a vida voltando ao novo normal, há também a retomada gradual das cirurgias e dos tratamentos que muitos pacientes deixaram de fazer por receio de ir até os hospitais, e isso também impacta nos leitos hospitalares:
— Como os casos vão continuar, há uma preocupação com a possibilidade de aumentar a taxa de ocupação e acontecer um esgotamento nos leitos de UTI porque tem pessoas doentes e que precisam do hospital para tratar as demais doenças.
A especialista complementa ainda que os índices tem melhorado, mas é preciso avaliar que, às vezes, a queda nas notificações ocorre porque voltou a atrasar o resultado dos exames. Assim, há dias em que os números caem, para logo em seguida subirem outra vez. Ela finaliza:
— O cenário parece favorável porque saímos do inverno, mas isso não significa de maneira alguma que os índices vão ficar 100%. A doença tem esse ritmo de altos e baixos e será assim por um bom tempo, já que o vírus segue circulando em todos os lugares, a contaminação existe, e ainda teremos surtos em alguns locais.