O valor da conta de água referente ao mês de maio foi inesperado para muitos moradores de Caxias do Sul. Diversos clientes do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) reclamam da cobrança fora da normalidade e com grande diferença em comparação com meses anteriores. Conforme o diretor-presidente da autarquia, Ângelo Alberto Barcarolo, o aumento do valor da fatura pode ser consequência de duas situações: consumo excessivo durante este período de isolamento ou vazamento de água nas residências.
Segundo Barcarolo, a falta da leitura dos hidrômetros dos últimos três meses pode ser um dos fatores responsáveis para o aumento da conta de água. Durante este período, o cálculo nas residências foi feito por meio de uma média aritmética referente aos últimos 90 dias. Com a retomada do serviço, com 50% dos leituristas em 8 de maio, parte dos clientes tiveram a leitura normalizada, enquanto outros continuaram a depender da média. Conforme o Samae, o serviço foi restabelecido por completo em toda a cidade somente na última segunda-feira (1º). Por isso, as faturas podem ter gerado um valor acima do esperado em razão do excesso de água que passa da média.
– A cobrança em algumas faturas está tendo divergência porque possivelmente foi onde houve o consumo maior que a média calculada durante este período – explica Barcarolo.
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O diretor enfatiza que um dos motivos que levaram a esse aumento pode ser não só o fato de as pessoas estarem mais em casa, mas como também a higiene redobrada que é feita neste período de pandemia, que, consequentemente, resulta em mais gasto de água:
– Como houve a questão do isolamento social é evidente que tivemos um aumento de consumo neste período. Além de que estudos apontam da necessidade de manter sempre a higienização além da sua normalidade.
Outra possível justificativa, conforme Barcarolo, para o valor expressivo é o vazamento de água nas residências. Ele diz que não tem como afirmar, sem uma análise prévia, onde realmente pode ter ocorrido vazamento e não gasto excessivo. Já que para o Samae, é comum atender diariamente casos de vazamento na cidade. Ele ressalta que quando o leiturista verifica o hidrômetro, já é possível identificar se houve excesso de gasto.
– Claro que isso (vazamento) não se dá em todos os casos. Tem situações pontuais, onde houve uma situação gritante (no valor da fatura). Então estamos analisando os casos possíveis de vazamento. Agora, com a normalidade da leitura em 100%, vai ser nos colocado a realidade absoluta da situação – comenta.
A orientação é que o cliente solicite um pedido de revisão de lançamento pelos canais de atendimento disponíveis (veja no final da matéria). Ao abrir o protocolo, o Samae analisará o caso. Se for constatado qualquer erro no valor da fatura, a autarquia garante o reembolso.
– O Samae ressarcirá todas as situações adversas que houverem depois de uma análise. O valor será restituído em contas seguintes – afirma o diretor.
A situação descrita pelos clientes, contudo, é que o contato com a autarquia tem sido complicado. Uma moradora do bairro Jardim Iracema, que prefere não se identificar, relata que tenta conversar com o Samae desde a última sexta-feira (5), porém eles não respondem o que é solicitado. A jovem de 25 anos se mudou há três meses para o novo bairro. Ela comenta que a conta nunca tinha vindo tão cara:
– Desde março eu pago R$ 40,00, o que eu acho normal para duas pessoas e uma criança gastar (família dela). A conta desse mês veio R$ 336,00. É praticamente o valor do aluguel da minha casa. Não sei o que vamos fazer, porque é um absurdo de caro.
Em retorno a moradora, durante o atendimento foi respondido que é preciso aguardar, pois há muita demanda.
O vigilante Hugo Trindade da Silva, 51 anos mora com a esposa e o filho no bairro Cidade Industrial há 9 anos. Ele relata que também nunca recebeu uma fatura com alteração tão grande:
– A minha conta vinha em média R$ 65. Eram raríssimas as vezes que aumentou além disso e esse mês para minha surpresa veio R$ 190. Eu estou tirando fotos há cada dois dias do relógio para eu acompanhar o consumo e é muito menos do que eles (Samae) dizem.
Ele ainda acrescenta:
– Eu tenho a média de consumo de 7 a 8 metros cúbicos desde o início. Não pode, simplesmente, dar média 17 e colocar na conta que foi vazamento. Não é! Eu já tive vazamento em que minha conta veio R$ 82.
Ao se deslocar à autarquia para pedir revisão do valor, Silva reparou que havia outras pessoas no local para reclamar do mesmo problema com diferença de até R$ 300 na conta.
– Eu não paguei, mas se tiver que pagar R$ 190 de água eu vou simplesmente pedir para parcelar, porque não tenho como pagar esse valor em uma tacada só. Poderia até dizer que é por conta da pandemia, mas eu e minha esposa estamos aposentados e sempre estamos em casa. O único que passou a ficar em casa é meu filho que tem 15 anos. Mas ele passa a manhã inteira dormindo, então o consumo da água dele é o mesmo se ele estivesse indo à escola. Não tem uma lógica – conta.
O diretor do Samae garante que não há descaso com os consumidores:
– É evidente que contatamos divergência, ninguém está dizendo que não houve. O que estamos explicitamente colocando para a população caxiense é que nós vamos resolver pontualmente sim, ressarcindo nas contas supervenientes e a partir do diagnóstico que eu tiver aqui na condição de presidente perante o setor de TI que nós possamos revolver as questões internamente via recálculo das contas, nós vamos prontamente informá-los.
Barcarolo afirma que enquanto não for concluído o ciclo de leitura retomado na segunda passada, poderá haver divergências nas contas. A situação deve ser normalizada somente no mês que vem.
Para os clientes que não quiserem ou não tiverem condições de pagar a fatura, da mesma forma que já foi anunciado em março, a água não deverá ser cortada. A medida é adotada em decorrência dos efeitos causados pelo coronavírus. No entanto, com o atraso do pagamento, o cliente pode estar sujeito à juros. Uma opção oferecida pela autarquia é o parcelamento do valor. Barcarolo diz que ainda é analisado juridicamente e tecnicamente se terá acréscimo nessas parcelas em específico.
Por fim, o diretor do Samae pede compreensão da comunidade para resolução de todos os casos relatados:
– Nós queremos que a população fique calma, é uma situação excepcional. Nós sabemos que quando recebemos uma conta que se verifica situações que não condizem com a realidade, a gente fica indignado. Mas é importante frisar que nós resolveremos todas as situações.
Como relatar o problema
Para evitar grande circulação de pessoas na sede do Samae, a autarquia alerta os clientes sobre a importância de relatarem o problema, inicialmente, nos canais de atendimento.
::Telefone: (54) 3220-8600
::Whatsapp: (54) 99917-2187
::Plantão 24 horas: 115
::E-mail: samae@samaecaxias.com.br
Contas de luz também registram aumento
O Procon de Caxias do Sul tem recebido notificações por centenas de consumidores da Rio Grande Energia (RGE), em razão dos valores cobrados em faturas emitidas em maio. Segundo o presidente do Conselho de Consumidores da RGE, Claiton Gaieski Pires, o alto valor pode se estender nas faturas até final deste mês.
A função dos leituristas também estava suspensa devido à pandemia. Durante o período de 10 dias de não leitura, foi realizado a média dos últimos 12 meses dos consumidores para definir o valor a ser pago. Com isso, Pires enfatiza que a discrepância do valor da conta de luz pode ser efeito do cálculo aritmético. Entretanto, a companhia ressalta que desde 15 de abril, o serviço retornou com 100% dos funcionários na medição de energia elétrica.
– Teve o reflexo muito grande no número de consumidores nesses 10 dias sem leitura. A cobrança feita por media implica em valores que muitas vezes podem não ter uma correlação direta com o consumo efetuado no mês. Então suponha que o cliente teve um consumo mais elevado em dezembro, a média vai ser mais alta – explica.
Conforme Pires, após analise, algumas cobranças já tiveram o valor corrigido em faturas emitidas ainda em maio.
Outro fator destacado pela RGE, citado também pelo Samae, é que o valor excessivo nas contas pode ser em razão do alto consumo durante o isolamento social.
O metalúrgico Israel Ferreira Graminho, 35 anos, mora com a esposa, dois filhos e enteado no bairro Cidade Industrial. Ele relata excesso na cobrança na conta de luz e água desde abril.
– Não sei o que está acontecendo, mas é estranho essas duas contas aumentarem de dois meses para cá. O excesso na conta de luz varia entre R$ 110 e R$ 112 reais a mais. Na de água varia de R$ 80 a R$ 100 a mais – conta.
Segundo Graminho, desde que são realizadas obras pelo Samae na rua Gerson Andreis, próximo de sua casa, houve interferências em conta de água de vários moradores.
– No Samae quando entramos em contato sempre dizia a mesma coisa que no momento estava fechado. Estamos sempre de mãos atadas, porque não podemos ir até a recepção do Samae e nem da RGE por causa do isolamento. Por telefone é sempre a mesma história “não dá; não tem como; não podemos; vamos regularizar” – desabafa.
Pires salienta que mesmo que o cliente não consiga contato com a RGE, ele deve seguir insistindo até obter retorno.
Canais de atendimento da RGE
::Site: https://www.rge-rs.com.br/institucional-rge
::Telefone: (54): 0800 970 0900
::Facebook: https://www.facebook.com/rgecpflenergia