A suspensão de aulas em escolas de Caxias do Sul em virtude da pandemia do coronavírus altera a rotina dos pais, mas principalmente, das crianças menores que ainda precisam compreender melhor as medidas de prevenção. As escolinhas infantis particulares terão aulas suspensas a partir desta quinta-feira (19). Nos últimos dias, por conta da Covid-19, a frequência dos alunos já era bem inferior.
Agora, com o fechamento das escolas por tempo indeterminado, surge uma questão: como lidar com os pequenos que agora passam os dias em casa para que entendam que esse não é um período de férias?
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— Falar a verdade é essencial. Sempre falamos a verdade para a criança numa linguagem que eles entendam, conforme a idade deles. Também temos que reforçar com eles o que aprendem na escolinha: lavar as mãozinhas sempre com sabonete e água, conversar sobre o que não vemos, nos casos de germes e vírus, mas que podem nos deixar doentes, e de forma lúdica ensinar como eles podem se cuidar — explica a psicóloga Cristina Dolores Reolon, que atua em uma escola infantil do Centro da cidade.
Ela ressalta ainda que é importante esclarecer que, bem diferente do recesso escolar normal, é um momento de cuidado com a saúde:
— Elas têm que saber que não estão de férias, que não é aquele momento de passear, ir para a piscina, para o shopping. Este é um momento diferente, e elas têm que seguir uma rotina de atividades em casa, como se estivessem na escola.
A coordenadora pedagógica Natália Peretti tem a mesma opinião:
— As crianças precisam saber o que está acontecendo no mundo, que estamos em um período em que é preciso cuidado, porque há um vírus que gera uma doença respiratória, e que é um momento de ficar em casa, porque esse vírus pode passar de criança para criança quando tossimos e espirramos. A explicação lúdica irá fazer com que eles entendam de uma forma leve e não fiquem assustadas, mas percebam que devem cuidar ao espirrar e tossir.
A pedagoga orienta manter uma agenda diária, como os horários para sono, alimentação e banho, para que o pequeno perceba que essa não é uma pausa de férias comum. Brincadeiras antigas, fora da época da tecnologia, e exercícios de organização da rotina podem ser uma boa opção para fazer a meninada se divertir:
— Colocar as crianças para desempenhar tarefas do lar também é uma maneira de entretenimento e dá para fazer tudo brincando. Se os pais estiverem trabalhando em casa, os pequenos também podem brincar de escritório, e diversas outras atividades para que fiquem ocupados. Tem ainda as atividades de imaginação, desenhar, escrever cartinhas, cantar músicas, brincar com fantoches e encenar teatros. E, claro, eles precisam também gastar energia, jogar bola, brincar com o animal de estimação no pátio, e há ainda os momentos em que brincam sozinhos, e que são necessários na rotina deles.
A coordenadora pedagógica Cláudia Bedin também orienta os pais e responsáveis a estimular as crianças a manter uma rotina semelhante a da escolinha:
— É um momento de resgatar brincadeiras antigas, fazer teatro, mímicas, atividades de casa, como ajudar a preparar as alimentações, ou arrumar a cama, e evitar as tecnologias. Elas podem desenhar, fazer teatro de fantoches, pintar, e brincar, para manter um ritmo semelhante ao que tem dentro da sala de aula nas escolinhas.
PAIS, MÃES E A ROTINA DOS FILHOS
A assistente social Daiana Maria Batista, 33 anos, é mãe de Luma Batista Nunes, quatro anos, e Isis Batista Nunes, dois anos e 11 anos. As duas ficarão em casa com o pai, que não irá trabalhar devido a pandemia de coronavírus, a partir desta quinta-feira. Ela conta que ainda na terça-feira (17), o casal se preparou para conversar com as meninas e explicar que este é um momento em que não vão passear:
— Nos programamos para falar com as crianças de maneira calma e tranquila com cuidado para não deixá-las assustadas, mas para que entendam que nesse momento elas não vão passear, elas estão em casa, mas não estão de férias. A escolinha fez um excelente trabalho neste sentido. A mais velha chegou em casa com um desenho do coronavírus e a mais nova nos ensinou a lavar as mãos. As duas também nos contaram o que aprenderam, como o vírus é transmitido e porque não vão para a aula por enquanto.
Daiana ressalta ainda que tem um grupo com outras mães e que trocam informações e sugestões para manter a rotina dos pequenos:
— Trocamos informações para manter uma quarentena brincante e com leveza para as crianças. No grupo há professoras e pedagogas que nos orientaram e foi um momento de solidariedade e cuidados com o outro que é essencial nesse momento. Estamos unidos e tranquilos para combater a doença e manter a saúde das crianças, mas também atentos para que eles entendam que não estão de férias, e tenham atividades do dia a dia repletas de brincadeiras, atividades lúdicas e ocupem parte do dia como se estivessem na escola.
Proprietária de uma confeitaria e de um café, Suelen Rizzotto, 33, é mãe de Luís Otávio, oito, e de Maia, de um ano e seis meses. O mais velho acompanhou a mãe até o trabalho na última terça, e nesta quarta-feira ficou com a sogra dela.
— Trouxe ele, mas logo ele fica entediado, aqui não é um espaço onde tenha como se entreter, e não consigo parar para brincar com ele. A pequena vou ter que deixar com a minha sogra enquanto seguir trabalhando. Vamos manter atividades lúdicas, brincadeiras, teatro, para tentar distrair os dois. Os meus pais estão em isolamento porque têm mais de 70 anos. Minha mãe é minha sócia, mas eles não estão saindo de casa porque estão na faixa etária de risco.
Suelen ressalta que em breve terá que ficar em casa com os filhos porque trabalha com encomendas para eventos e os pedidos foram cancelados:
— Na segunda-feira, em uma hora, mais de vinte eventos foram cancelados pelos próximos dois meses. Minha esperança é atuar no Delivery para conseguir manter os compromissos do mês.