A aprendizagem profissional é uma oportunidade que pode fazer a diferença na vida dos jovens. O aprendizado teórico e prático prepara os adolescentes para a realidade do mercado de trabalho. O Exército de Caxias do Sul, que também proporciona essa qualificação aos jovens, enquanto prestam serviço militar, inovou ao buscar certificação junto ao programa de Aprendizagem Profissional. O 3º Grupo de Artilharia Antiaérea (3º GAAAe) da cidade será a primeira organização militar a certificar a formação profissional dos jovens. Na prática, as atividades que já eram desenvolvidas pelos adolescentes agora serão reconhecidas e certificadas nos currículos. A adesão do Exército conta com a certificação de cinco programas de aprendizagem profissional : auxiliar mecânico - auto, auxiliar mecânico - elétrica, motorista, cozinheiro e garçom. Todos com percentual de aulas teóricas de 30,90% e um total entre teoria e prática de 851 horas, como previsto no programa.
Com a adesão do Exército como entidade formadora de aprendizado, Caxias passa a contar com 14 instituições parceiras para incentivar os jovens a construírem um futuro melhor. Atualmente, a Aprendizagem Profissional é considerada o melhor programa de inserção do jovem no mercado de trabalho. As empresas de médio e grande porte são obrigadas a contratar 5% , no mínimo, a 15% , no máximo, do total dos empregados que demandem formação profissional.
A ideia de ser tornar parceira do programa surgiu da tese de doutorado da advogada Sandra Liana Sabo de Oliveira. Graduada em Direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), Mestre em Direitos Fundamentais e Relações de Trabalho pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e doutoranda em Direito Público na Universidade de Coimbra (UC), ela escreveu sobre Políticas Públicas de Empregabilidade aos Jovens. O conhecimento do tema e a proximidade com o Exército, visto que é esposa do subcomandante do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea (3º GAAAe) Júlio Cezar Dutra de Oliveira, inspirou a iniciativa. Sandra procurou o gerente regional da Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia (antigo Ministério do Trabalho e Emprego), Vanius Corte, há cerca de cinco meses, para apresentar a proposta.
Propósito Social
Motivada por um propósito social e acadêmico, Sandra se tornou a mediadora do diálogo entre a organização militar e o Ministério.
— Em um dos capítulos da minha tese avalio os modos concretos e plausíveis de realização das políticas públicas de empregabilidade aos jovens e dentre estas visualizo novas medidas públicas de capacitação profissional dos jovens à inserção no mercado de trabalho. Assim pela afinidade e proximidade com a formação do soldado, resolvi trazer como estudo de caso na minha tese a possibilidade de reconhecimento jurídico da capacitação profissional do jovem que se qualifica na própria organização militar durante o período do serviço militar que estão saindo do Exército e retornando a vida civil — conta Sandra.
Vanius Corte ressalta que ao fiscalizar as atividades realizadas pelos soldados ficou evidente que os jovens já eram qualificados, e a certificação irá atestar que estão aptos para o mercado.
— O Quartel já faz uma qualificação dos jovens mais intensa e forma profissionais para o mercado, e com a adesão ao programa, eles são oficialmente formadores de aprendizagem profissional e o Exército é qualificado e tem cursos que ninguém mais tem, podendo suprir a demanda, já que há empresas que alegam que não encontram o número de aprendizes exigido por lei. O jovem terá qualificação, reconhecimento das atividades, a possibilidade de aumentar a renda e ter a possibilidade de ingressar no mercado — explica Vanius.
O comandante do 3º GAAAe, coronel Leandro Fernandes Moraes, ressalta que a certificação qualifica uma profissionalização que já existia no Exército. Ele explica que quando o jovem, que prestou serviço militar, chegava ao mercado de trabalho a atividade profissional não era reconhecida pelas empresas que desconheciam o processo de qualificação dos jovens.
— As horas/aulas práticas e teóricas vão ficar registradas em nossos boletins administrativos, e isso irá legitimar ainda mais a aprendizagem pelas quais os jovens passam durante o serviço militar. O certificado irá refletir uma qualificação diferente de outras seleções, porque aqui nós vamos selecionar os soldados conforme aptidões físicas e intelectuais. Com a adesão, o Exército de Caxias do Sul será reconhecido como uma entidade formadora de aprendizado profissional e que irá expedir o certificado, que irá enriquecer os currículos.
Pioneirismo e sonho de expandir capacitação
Para Corte, o pioneirismo do 3º GAAAe pode expandir a iniciativas para demais cidades brasileiras onde os jovens têm menos acesso a programas de qualificação profissional.
—Os jovens faziam os treinamentos no Exército, mas não tinham certificação e ao se cadastrar como entidade formadora de cadastro profissional, a organização militar irá abrir a possibilidade de parcerias com demais unidades em municípios brasileiros onde os jovens não tem essa possibilidade. Em Caxias, contamos com 14 parceiros, mas há cidades em que não tem nenhuma entidade cadastrada e com a expansão da iniciativa não apenas os jovens, mas o próprio Exército vão ser beneficiados. Os jovens porque tem um chance de qualificação e inserção no mercado e o órgão militar porque amplia sua função ao formar profissionais — explica Corte.
O comandante Moraes ressalta que o Exército está realizando um sonho, e que a ideia é expandir a capacitação, que ocorrerá em horário de expediente, portanto, sem gastos extras de recursos orçamentários.
—Conseguimos validar cinco habilitações, que eram as mais fáceis de serem feitas, mas temos o sonho de expandir essa iniciativa para beneficiar mais soldados. Tivemos 3090 jovens em condições de servir, e destes 2100 eram voluntários. Embora na lei prestar serviço militar seja obrigatório, há anos na prática ele se tornou voluntário devido a credibilidade do Quartel. Com essa qualificação os jovens terão uma melhor inserção no mercado de trabalho aliado a todo o preparo que eles recebem com o serviço militar. A expectativa é que aumentem os voluntários em servir porque a certificação profissional é uma chance de buscar espaços melhores e nós cumprimos nossa missão de entregar a sociedade pessoas melhores — ressalta o comandante.
Se o projeto for ampliando, considerando que aproximadamente 70 a 80 mil jovens em todo Brasil prestam serviço militar, poderiam ser beneficiados em torno de 20 mil jovens brasileiros.
Sandra reitera que a certificação aproxima o meio militar do mercado de trabalho e possibilita oportunidades a quem presta serviço.
— Os benefícios serão bons para todos: uma ampliação da Aprendizagem Profissional no âmbito da Secretaria do Trabalho; possibilidade do soldado sair com certificado legalmente reconhecido da qualificação profissional que teve durante o serviço militar, facilitando a colocação no mercado do trabalho; aspecto social do Exército, proporcionando capacitação profissional aos jovens que prestam o serviço militar, utilizando-se de instrutores militares qualificados na área de formação e de alguns voluntários civis. Assim, o Projeto Soldado Cidadão segue com a qualificação profissional de jovens não contemplados com a Aprendizagem Profissional, como, por exemplo, o soldado artilheiro combatente que não teria qualificação similar no meio civil.
Oportunidade de ingressar no mercado
Hoje, na prática, há previsão de qualificar no 3º GAAAe aproximadamente 39 soldados, nas duas áreas envolvidas no projeto: cozinha e a oficina mecânica. Na cozinha do quartel em Caxias, são preparadas 800 refeições diariamente, com o auxílio de soldados. Um soldado mais antigo comanda os novatos, entre eles, Bruno Dalpra Zuanazzi, 18 anos. Ele é um dos jovens que ingressou no Exército em março deste ano. Dalpra, como é chamado no Quartel, foi voluntário, ou seja, quis prestar serviço militar. Pelo perfil, o jovem cursaria mecânica, mas aceitou o desafio de aprender a cozinhar:
— Gosto de cozinhar, mas foi um desafio, aprendi tudo aqui. Muitos jovens gostariam de ter essa chance porque vamos aprender uma função, nos qualificar e sair do Quartel, certificados e preparados, com o reconhecimento de que estamos aptos a trabalhar lá fora —ressalta orgulhoso.
Já Eduardo Guerreiro, 18, serve os oficiais da corporação durante as refeições. Ele atua como garçom, e mesmo tímido, não esconde o entusiasmo com as possibilidades presentes no mercado.
— É uma experiência e uma chance única que vivemos. Ao entrar sempre pensamos que vai ser ruim porque temos que aprender a lidar com situações que não estávamos acostumados e aos poucos aprendemos e esse aprendizado vamos levar para a vida. Eu já trabalhava nessa área, mas era mais tranquilo a demanda. Aqui no Quartel estou me qualificando e tenho a instrução necessária para me colocar bem no mercado — comemora Guerreiro.
O cabo Matheus Rodrigues Dutra, 24, será qualificado em mecânica. O setor é um dos motivos de maior orgulho e alegria do 3º GAAAe de Caxias do Sul. O grupo recebeu o Certificado do Sistema de Gestão ISO 9001:2015 na execução da manutenção preventiva e corretiva das viaturas operacionais e administrativas. O selo foi entregue em 30 de maio deste ano e é um reconhecimento internacional que qualifica o setor. Para Dutra, a aprendizagem é uma oportunidade.
— Na oficina do Exército aprendo a teoria na prática. Vou sair daqui preparado para trabalhar, e é uma chance que temos que aproveitar — afirma Dutra.
Feira de Aprendizagem Profissional
Em 28 de novembro será realizada em Caxias do Sul, a Feira de Aprendizagem Profissional da Serra Gaúcha. A abertura do evento ocorre a partir das 9h, no Centro de Eventos dos Pavilhões da Festa da Uva.
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