O que mais incomoda estudantes e professores de universidades e institutos federais é o enquadramento de que as instituições são focos de balbúrdia, segundo classificação do ministro da Educação. É um equívoco.
No campus de Farroupilha, por exemplo, 10 acadêmicos dos cursos de Engenharia Mecânica e Engenharia de Controle e Automação se dedicam a descobrir soluções para o futuro do transporte. É uma atividade que exige muito estudo, prática e perseverança.
Richard Alan Tosetto, 28 anos, morador de Bento Gonçalves, integra e coordena a equipe Lanceiros Negros, que trabalha num protótipo de eficiência energética. A ideia consiste em construir um veículo leve o suficiente para economizar combustível. Egresso da escola pública, Tosetto é aluno do IFRS há três anos.
Em 2018, ele e colegas desenvolveram um baja, veículo usado em disputas entre estudantes de engenharia. Neste ano, o desafio é ainda maior e o grupo trabalha pesado para participar em setembro do Shell Eco-marathon da Shell Brasil, competição que desafia estudantes a projetar e construir veículos que percorram a maior distância com a menor quantidade de energia.
Segundo o professor e coordenador de Pesquisa e Inovação do IFRS Farroupilha, Rafael Corrêa, o chassi do protótipo é de alumínio e a estrutura externa privilegiará plástico. Os acadêmicos usam motor de baixa potência. A atividade, portanto, requer muito estudo, prática e checagem de resultados. A indústria, por sua vez, absorve o conhecimento para produzir veículos mais eficientes e todos saem ganhando.
– É o segundo projeto que desenvolvemos. As empresas acompanham as equipes e identificam alunos para o mercado de trabalho, pois as ideias acadêmicas são inovadoras. Estudar no IFRS é interessante porque há cursos técnicos, temos maquinário, coisas que não tem em outras faculdades. Aliás, o nosso projeto ficará na faculdade e outros alunos poderão usar para trabalhos de aula – conta.
No projeto do baja, a equipe conseguiu patrocínio de empresas para ferramentas e peças automotivas. Neste ano, há dúvidas de como será apresentado o protótipo devido ao corte de verbas.
– Esse ano precisaria de transporte para ir ao evento, mas não sabemos se vai ter – diz o professor Rafael.
Alunas estão criando unidades meteorológicas
Entre as diversas atividades desenvolvidas pelo IFRS em Farroupilha, uma delas é especial: o projeto Praticando Ciências no 9º ano - Meninas na Ciências, que já beneficiou cerca de 50 alunas desde 2017. A atividade leva estudantes na faixa dos 14 anos para estudos e práticas científicas nos laboratórios do IFRS. Lá, elas vivenciam o dia a dia do Ensino Superior e aprimoram o conhecimento com equipamentos que não estão disponíveis em escolas públicas. O Meninas na Ciências quer desmistificar o conceito de que exatas é território de homens.
Neste ano, o Praticando Ciências foi suspenso temporariamente para dar lugar um projeto ainda mais bacana e desafiador. Segundo a mentora e coordenadora do projeto de extensão do IFRS Delma Tânia Bertholdo, cerca de 15 alunas de quatro escolas do Ensino Fundamental e de uma escola do Ensino Médio trabalham para criar estações meteorológicas automatizadas. Com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o grupo vai montar as unidades dentro dos colégios e, a partir de 2020, monitorar o clima. Para isso, precisam aprender sobre as variáveis climáticas e leituras de sensores, entre outros.
– O projeto é para dois anos de trabalho e neste ano é a parte mais pesada, que é a montagem. Como já temos recursos definidos do CNPq, tudo vai dar certo – diz a professora Delma.
Vinicius Grazziotin De Cezaro, diretor-geral da Secretaria de Educação de Farroupilha, teme perder um importante parceiro da prefeitura. Ele cita as formações continuadas dos 700 professores da rede municipal.
– São cursos gratuitos, pois se tratam de dois entes públicos. O corte afeta toda uma cadeia e podemos perder um parceiro importante – lamenta.
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