A fila de pacientes que aguardam por um transplante de órgão ou tecido e moram em Caxias do Sul é de 83 pessoas. O dado do Ministério da Saúde é atualizado desta segunda-feira (8). A maior parte dos pacientes espera por um transplante de rim, o que corresponde a 58 casos deste tipo em Caxias do Sul, ou 70%. Na sequência, 19 pacientes aguardam por uma córnea, quatro por transplante de fígado e dois por pâncreas. Mas o dado que mais chama atenção em relação à doação em Caxias do Sul é que, na maioria dos casos, a família do paciente com morte cerebral nega o auxílio a pessoas que dependem destes órgãos.
Segundo o Ministério da Saúde, isso acontece em 58% dos casos na cidade. O motivo principal é a demora na entrega do corpo para a família, o que corresponde ao motivo alegado para a negativa em 57% das respostas. O restante das justificativas se distribui entre o desejo de manter a integridade do corpo do familiar, desconhecimento da vontade de doar e motivo religioso.
Alguns órgãos podem ser de um doador vivo. É o caso da doação de um dos rins, parte do fígado, medula óssea e parte do pulmão. Os demais casos são de doador falecido, com morte cerebral, situação que exige autorização documentada de um familiar para o transplante ocorrer.
A enfermeira do Hospital Pompéia, que atua no setor de doação de órgãos, Ana Paula Concatto Casagrande, explica que a demora para a liberação do corpo pode ser de 10 a 12 horas.
— A partir do momento em que a família diz "sim" para a doação de órgãos, é realizada uma bateria de exames muito específicos nesse doador, que irá apontar os órgãos que são viáveis para transplante, e também a pessoa que vai poder receber. Então, temos que achar pessoas muito parecidas com aquela pessoa que está doando os órgãos. Por isso que normalmente, e geralmente, esse processo demora tanto. Porque, às vezes, as pessoas que estão na fila moram em outras cidades e aí têm que se deslocar até centros cirúrgicos para fazer o transplante.
Segundo Ana Paula, no entanto, nunca aconteceu de a demora ser de mais de 24 horas em Caxias do Sul. Em outras cidades, ela comenta que pode até ultrapassar esse tempo, mas é, de qualquer forma, um período muito mais longo que o normal.
Os órgãos retirados são encaminhados em geral para Porto Alegre, caso dos rins, por exemplo, onde são feitos exames de compatibilidade. Só depois esses órgãos são levados até o hospital onde será feita a cirurgia para implantar o órgão no paciente que aguarda na fila. No caso de ossos e córneas, o exame de compatibilidade e o transplante podem ser feitos em Caxias do Sul. No caso dos rins, o exame é feito em Porto Alegre, mas Caxias faz a implantação para pacientes da região da Serra que estão na fila. Os exames e a cirurgia de transplante dos demais órgãos, como coração e pulmão, por exemplo, são feitos somente em Porto Alegre.
Já em relação ao diagnóstico sobre a morte cerebral, Ana Paula explica que ele é seguro, e o processo conta com três médicos diferentes.
— O Brasil é um dos poucos países do mundo inteiro que fazem em três etapas o diagnóstico de morte encefálica. São dois testes clínicos e um teste de imagem. Os testes têm que ser feitos por três médicos diferentes. É muito específico e esse exame de imagem é o que chamamos de "exame ouro", porque é o que realmente vai confirmar se o paciente tem a circulação de sangue no cérebro.
A enfermeira acrescenta que a morte encefálica, ou cerebral, é irreversível, não sendo possível recuperar o cérebro por meio de cirurgia ou medicação.
Para que um transplante de órgãos ocorra, é necessária a compatibilidade de tipo sanguíneo entre o doador e o receptor. No caso das córneas, que são tecidos, isso não é necessário. Entre outros fatores de compatibilidade, está o tamanho do órgão.
— Não é possível, por exemplo, transplantar um pulmão de um homem de 1,80 metro para uma mulher de 1,50 metro, exemplifica Ana Paula.
Durante a manhã desta terça (9), uma equipe do Hospital Pompéia realiza uma atividade com distribuição de material informativo e de conscientização e explicações sobre a doação de órgãos. A atividade ocorre em frente ao hospital até o meio-dia.
O presidente da Associação Rim Viver de Caxias, Evandro Pinho Neckel, é paciente regular de hemodiálise três vezes por semana há sete anos. Ele explica que o tempo de espera por um rim novo varia. Pode ser de vários anos, mas é difícil não ser de pelo menos um ano.
Antes de tudo, no entanto, a pessoa que aguarda por um rim precisa estar em condições de saúde adequadas para receber o novo órgão transplantado. É o caso de Neckel, que segue fazendo tratamento para poder entrar na fila do transplante.
Pessoas que estão na fila há menos tempo podem passar na frente de outros pacientes devido à compatibilidade com o doador. Se houver mais doadores, maior é a chance de quem está na fila de espera ter compatibilidade para receber um rim novo.
Por isso, Neckel afirma que é importante aumentar o número de doadores. E, para isso, as pessoas precisam deixar claro para a família que querem doar.
— É importante que as pessoas falem para os pais, irmãos, amigos, primos, enfim, que, na hora de partir, se tiverem órgãos em boas condições, querem que sejam doados.
Nos três primeiros meses deste ano, 20 pacientes de Caxias receberam órgãos e tecidos doados. A maioria recebeu córneas, o equivalente a 15 pessoas. Dois pacientes receberam fígado, dois pacientes ganharam um novo rim e um paciente fez um transplante de pulmão. No ano de 2018 inteiro, 78 pacientes de Caxias receberam órgãos e tecidos, sendo 61 córneas, o que soma 78% dos casos. Já para o transplante de rim, cuja fila é maior, 13 pessoas foram contempladas.