Das homenagens a Naiara, a mais visível ganhou o muro da casa do comerciante Laerte da Silva, no bairro Belo Horizonte, zona norte da cidade. O grafite do educador social Andrigo Fernando Martins Barbosa retratava a menina como um anjo na esquina da Avenida dos Metalúrgicos com a Rua dos Cesteiros, mas desaparece aos poucos.
Acostumado a trabalhar com crianças em situação de vulnerabilidade social, a intenção de Andrigo era alertar pais e comunidade sobre os riscos que afligem a juventude e manter viva a história da menina. Um ano depois, a lembrança perdeu espaço por causa de uma obra na casa. Parte do rosto da representação de Naiara e as frases estão encobertos por uma viga, palanques e outros materiais de construção.
— O grafite está se apagando, dentro do mesmo contexto que a história da Naiara. Ressalto que não é uma opressão e sim resultado da construção que o dono do muro precisou fazer. Só que isso vai nos tirando da memória reflexões que, em algum momento, tiveram importância. Os pais que passavam pelo grafite viam aquilo como lembrança e alerta — lamenta Andrigo.
O pedreiro Sebastião Ferreira, responsável pela construção, desconhecia a homenagem e sentiu constrangimento ao saber que encobriu a representação de Naiara.
— Só fui me flagrar disso quando já estava tocando a obra. Se eu tivesse visto antes, teria colocado a viga em outro ponto, por dentro — diz Sebastião.
O dono da casa cedeu a propriedade para o grafite porque achou importante a lembrança de uma criança que só conheceu por meio de reportagens. Segundo ele, houve interesse dos moradores nas primeiras semanas após o crime e muitas pessoas paravam para observar o grafite.
— Com o tempo, deixaram de parar aqui e olhar. Vou pedir para refazer — revela o comerciante.
Laerte afirma que a obra era necessária e deixará espaço no muro para um novo desenho de Naiara. Andrigo, porém, tem outros planos e esboçou uma nova arte da menina. O objetivo é encontrar um espaço público ou privado na comunidade onde a criança residia, na zona sul de Caxias, o que faria mais sentido, na visão dele. Contudo, alguém teria que ceder o muro.
— Comecei a perceber o esquecimento de Naiara por conta das manifestações nas redes sociais. Houve toda uma movimentação na época e isso foi sendo deixado de lado. Minha contribuição é estimular uma lembrança, que se torne um alerta. A ideia não é estética, mas sim a mensagem que ela passa— conclui Andrigo.