Confira o depoimento de uma frequentadora do Al-Anon de Caxias do Sul, grupo que reúne familiares e amigos de alcoólatras. O relato foi interpretado por uma atriz convidada.
"Meu nome é Tania. Meu pai parou de beber quando adoeceu. Depois, acabou falecendo. Ele não era violento, como muitos são, mas era uma pessoa chata, não aceitava nada, nada estava bom. A minha mãe sofreu muito. Ele não deixava de sustentar a família, nunca foi violento, mas se transformava em outra pessoa. A gente estava sempre em dúvida se podia falar alguma coisa, se podia fazer alguma reclamação, se podia fazer algum comentário. Com o tempo a gente começou a perceber que a saúde dele não estava boa. Mas ele não aceitava que tinha que parar de beber. Era uma convivência sempre de muita dor. Aquela convivência era doentia. Com o tempo, a pessoa que está doente do alcoolismo percebe que tem algo errado, que as pessoas estão se isolando e ela também começa a se isolar. Comigo, graças a Deus, não aconteceu os casos que vi em outras famílias, de violência. Eu sabia de pais que batiam nos filhos e nas esposas. E eu tinha medo que fosse acontecer. Essa doença acaba com a família toda. A gente faz de conta que convive, mas a gente quer fugir. A gente não sabe que é uma doença. Eu não sabia. Então, eu condenava o meu pai e a minha mãe. Eu achava que ela tinha que se separar dele e ia resolver todos os problemas, mas na verdade, não. Ele era um doente. Ela, no fundo, sabia que ele era doente e não podia abandonar. A gente não abandona uma pessoa doente. A gente adoece junto ou mais até. A gente cria neuroses, medos, traumas, que a gente só vai tentar resolver no tratamento. Mesmo que faça muito tempo que a gente tenha convivido com essa pessoa, a gente vai precisar de tratamento para o resto da vida. É como uma homeopatia. Não vai ter uma solução imediata".