Pessoas que procuraram nesta sexta-feira a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte, em Caxias do Sul, reclamaram da demora para conseguir uma consulta médica. A espera para pacientes classificados como código azul (não urgente) passou das seis horas. A direção da UPA garante ter colocado seis clínicos gerais e três pediatras no plantão e relaciona a lotação e demora a casos sem gravidade, ou seja, que poderiam ser atendidos nas unidades básicas de saúde (UBSs).
Entre os pacientes, estava Vitor José Meneghazzi, morador de Forqueta. A mulher dele, Nelci Lídia Meneghazzi, afirma ter chegado na UPA pouco antes das 9h. Meneghazzi foi classificado com o código azul e só conseguiu atendimento por volta das 15h. Durante o tempo de espera, a saúde dele declinou. O homem permaneceu em uma cadeira de rodas, vomitou e quase desmaiou. Antes de ir para o plantão médico, Nelci tinha ligado para a UBS do bairro e foi orientada a buscar atendimento na UPA, unidade por onde já havia estado com o marido na terça-feira.
— Meu marido vomitou, teve falta de ar e não conseguia caminhar. Levar uma hora tudo bem, mas ficar todo esse tempo ali esperando desse jeito. Ele não se aguentava mais de dor. Gritava de dor e ninguém atendia. Diziam que tinha que esperar — relatou Nelci.
Outra paciente que enfrentou dificuldades foi a atendente de restaurante Vitória Barbosa da Silva. Ela chegou perto do meio-dia. Por volta das 16h, ainda esperava ser chamada para a consulta na UPA.
— Saí de muito cedo de casa e perdi o dia inteiro de trabalho. Fui na UBS, não tinha médico e mandaram lá para o Geral (hospital). Fui atendida pela enfermeira e ela disse lá só era caso de emergência. Vim para cá e fiquei esperando, esperando e mandaram esperar — reclamou Vitória.
Versão da UPA
A coordenadora de enfermagem da UPA, Marilda de Andrade, disse à reportagem que todos os pacientes passam por uma triagem para evitar que alguém em situação de risco fique muito tempo esperando.
— Aqui a gente trabalha com classificação de risco. A cor vermelha é para emergência, a laranja é atendimento em até 10 minutos) e assim vai. O usuário de UBS, que poderia ser consulta eletiva é classificado como azul. O que deveria ser feito nesses casos: a UBS deveria atender essa demanda e deixar os casos de urgência para cá. Por isso que tem essa demora de atendimento —disse Marilda.
A coordenadora também voltou a ressaltar qual é a função da UPA.
— O nosso papel é fazer o trabalho intermediário entre a rede básica e o terciário, que é o hospital. A gente faz esse link, que é o paciente chegar aqui mal e ser internado ou tratar sua patologia e ser liberado. O paciente azul que fica aqui quatro, cinco horas é aquele com dor de garganta, dor na costas, uma crise hipertensiva já tratada e ocasiona isso. Então, tem essa lista enorme de espera e esse tempo bastante ocioso para o atendimento de cor azul.
Segundo a profissional, 60% dos atendimentos na UPA são de pacientes sem gravidade e muitos não precisariam passar pela consulta médica de urgência, uma vez que envolve, por exemplo, a troca de receita.
— Nenhum paciente que aqui chega não vai ser atendido, mas não necessariamente precisa passar por uma consulta médica. Aí o serviço social referencia ele, faz contato com a UBS.
Sobre o caso de Vitor José Meneghazzi, Marilda explicou que ele foi classificado como paciente de código azul.
— Muitas vezes, o paciente não tem nenhum sinal alterado, com o decorrer do tempo de espera, ele começa a alterar alguma coisa e tem que ser feita a retriagem. Se há alteração, se reclassifica o paciente em outra cor. No caso, ele (Meneghazzi) foi reclassificado para verde em função do vômito e pressão. Ele chegou quase 11 horas da manhã (a mulher de Meneghazzi disse ter entrado antes das 9h). A gente tem monitorado por tempo, buscamos no sistema que hora chegou. Chegou como azul, então estava dentro do prazo. Foi atendido por volta das 15h, dentro do prazo de classificação — detalhou Marilda.
Secretaria garante que todos são atendidos
Em nota enviada à reportagem, a Secretaria Municipal da Saúde reiterou que o quadro de profissionais da UPA está completo, com seis médicos clínicos, três pediatras e um dentista. Do total de seis clínicos, quatro atendem nos consultórios e dois nas salas de observação.
A secretaria admite que nesta sexta a demora estaria "um pouco maior que o habitual" e a relaciona à alta demanda de usuários com queixas urgentes, classificadas com as cores amarela e verde, que têm prioridade no atendimento.
Das 7h às 16h15min, segundo a nota, o serviço de urgência e emergência já havia recebido cerca de 85 pacientes com classificação de risco verde e amarela e 175 usuários com classificação azul. A secretaria acrescenta que os casos verdes e amarelos demandam mais tempo de atendimento: passam pela consulta, normalmente necessitam de algum exame, precisam voltar a falar com o médico após o resultado do exame e, depois, geralmente recebem alguma medicação. Por vezes, o médico ainda precisa ver novamente o paciente após a administração dos remédios, enquanto alguns ficam em observação.
"Na tarde desta sexta-feira, por volta das 16h15min, havia cerca de 55 usuários aguardando atendimento na UPA 24H, todos com classificação de risco azul. Aqueles que necessitavam de uma assistência mais rápida, em função de seu quadro de saúde inspirar mais cuidados, já estavam todos em atendimento", diz a nota, que reafirma ainda reafirma que todos os usuários que buscam a UPA 24H são atendidos, sempre respeitando a classificação de risco de cada um, com prioridade àqueles que necessitam de cuidados mais imediatos.