Pelo menos 20 municípios da Serra podem ser beneficiados com os novos editais que o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) prepara para reduzir exigências na manutenção de rodoviárias no Estado. Isto ocorre porque só nos últimos seis anos, 73 rodoviárias fecharam as portas, deixando a população desassistida e tendo que adquirir passagens em locais improvisados.
Ainda que operando com dificuldades, boa parte destes terminais rodoviários ainda opera na Serra. No entanto, a saída para a manutenção dos serviços é parceria com as prefeituras, que costumam bancar parte do aluguel ou outros benefícios, ou reduzir a estrutura, transformando-as em ponto de venda e compra de passagens.
Nos últimos três anos, as rodoviárias de Nova Petrópolis, Flores da Cunha, Guaporé e Serafina Corrêa fecharam as portas e passaram por mudanças no formato do atendimento. No final de 2015, a de Bom Jesus também não renovou a concessão, mas voltou a operar logo depois.
O novo pacote que o Daer agora prepara tem cerca de 200 novos editais, em que vai reduzir as exigências visando aumentar a atração de concessionários. Ainda sob análise, a estimativa é de que sejam publicados no início do próximo ano.
Entre as mudanças no processo de licitação promovidas para potencializar o interesse de empresários e baseadas no Plano Diretor do Sistema Estadual de Transporte, sancionado em 2016, o Daer está reclassificando muitas estações. Espécie de aluguel pago por qualquer licitante ao Estado para antecipar o valor que ele vai arrecadar no futuro, a outorga será exigida apenas nos editais de estações de categoria 1, que são rodoviárias de tamanho maior, como Bagé, Cruz Alta, Erechim, Passo Fundo, Pelotas, Santana do Livramento e Tramandaí.
* Com Vanessa Kannenberg, GaúchaZH
Estão incluídos no pacote do Daer os municípios:
Bom Princípio
Cambará do Sul
Caseiros
Esmeralda
Arroio do Sal
Curumim (Capão da Canoa)
Bom Jesus
Flores da Cunha
Guaporé
Nova Bassano
Nova Petrópolis
Nova Prata
Veranópolis
São Francisco de Paula
Ipê
Salvador do Sul
São Jorge
Serafina Correa
Vila Flores
Vista Alegre
Veja como está a situação nos municípios da Serra:
Flores da Cunha
A rodoviária fechou as portas no início de 2015. A Aldino Francescato e Cia Ltda, que administrou o terminal por 19 anos, entregou a concessão ao Daer por considerar que o negócio não era mais sustentável financeiramente. Desta forma, a Expresso Caxiense abriu uma unidade que comercializa suas passagens e serve como ponto de embarque e desembarque. É a única empresa de transporte metropolitano que opera no município. A estrutura contempla banheiro, sala de espera e funciona das 6h10min às 18h30min.
—A pessoa que operava não tinha mais lucro, porque as pessoas acabavam comprando passagens pela internet. Só o serviço de passagens não tem vantagem econômica, é preciso atrelar serviço de cobranças bancárias, lanchonete_ opina a secretária de Planejamento, Meio Ambiente e Trânsito, Ana Paula Ropke Cavagnoli.
Flores da Cunha é uma das cidades que será inserida no novo pacote previsto pelo Daer. A secretária acredita que mesmo com os benefícios que prometem atenuar os gastos de administradores de rodoviárias, não deve haver interessados no novo formato.
— Eu acho bastante difícil alguém querer reassumir a rodoviária. Não faria mais sentido, não há mais lucro_ opina.
A antiga estrutura da rodoviária, segundo Ana Paula, se transformou em um comércio de roupas.
Nova Petrópolis
A rodoviária de Nova Petrópolis fechou em 2014, por falta de interesse econômico do proprietário da concessão. Transformou-se em terminal rodoviário e agora, segundo o secretário de Planejamento, Coordenação, Trânsito e Habitação, Hermann Deppe, o contrato foi prorrogado há cerca de um mês até 2020. O contrato é firmado entre prefeitura e proprietários do prédio onde funciona o terminal. A Administração Municipal firmou um acordo com taxistas, empresários, comerciantes, empresas de ônibus e cooperativas do município, no qual todos se comprometeram a contribuir com o pagamento do aluguel do prédio onde funcionava a Estação Rodoviária, criando um Terminal Rodoviário no local.
Funcionando apenas como terminal, a estrutura serve para passageiros embarcarem e desembarcarem e conta com banheiros e estrutura de espera, além de guarda-volumes. É ali também que os turistas encontram táxis e outros comércios. A venda de passagens ocorre somente dentro dos ônibus.
— A prefeitura procurou parceria e ajuda pagar o aluguel. Pagamos cerca de 80% do aluguel, e o restante há colaboração de empresas, lojas que se interessam para pagar o restante. Para nós, foi uma saída mais viável_ explica Hermann.
Serafina Corrêa
O funcionamento da rodoviária chegou a ficar ameaçado no ano passado, quando o proprietário decidiu fechar as portas após desacordo com prefeitura e Câmara de Vereadores sobre repasses para ajuda de custeio. A partir de janeiro de 2019, a prefeitura repassará metade do valor do aluguel para ajudar na manutenção do serviço, que chega a vender a mil passagens diárias.
— Nós aqui temos tudo: banheiros, salas fechadas, box coberto, temos uma boa estrutura para quem chega_ afirma o proprietário da concessão, Marcelo Iesbik.
Para não operar no prejuízo, a saída do proprietário é somar venda de lanches e alimentos. Ainda que a venda de passagens seja alta, chegando a 30 mil mensais, são viagens curtas e baratas: a com maior saída é para Guaporé, com custo de R$ 6,20.
Guaporé
Para que o serviço não fosse extinto, houve a abertura de um ponto de venda de passagens em outro local, com estrutura reduzida. Como não há subsídio do poder público, e a procura de passagens não é tão expressiva, o proprietário da concessão cogita fechar o terminal rodoviário no próximo ano. Por isso, há a esperança de que o novo pacote do Daer possa beneficiar também a unidade e, assim, seguir com a manutenção do serviço aos moradores de Guaporé.
— Hoje eu não fecho com lucro algum. Nós pagamos mais de R$ 3 mil de impostos, preciso pagar uma funcionária para atendermos em 12 horas_ afirma o proprietário, Idilar Donida Bassani.
O espaço funciona das 6h10min às 21h, e o maior volume de passagens é no trajeto Serafina Corrêa/Dois Lajeados, ao custo de R$ 6,20. O novo terminal rodoviário fica a 100 metros da principal avenida.