A comunidade de Forqueta, em Caxias do Sul, uniu-se para cobrar providências quanto ao atendimento precário na unidade básica de saúde (UBS) do bairro. Faltam médicos clínico-geral e pediatra, enfermeiro e até de servidores para atender ao telefone e ofertar agendamento de consultas, serviço comum em outras UBSs. Em assembleia com representantes da UBS e do Conselho Municipal da Saúde, ocorrida na noite de segunda, a comunidade mostrou que o déficit alcança, em média, 13 consultas diárias. Além disso, com a única clínica-geral entrando em férias nesta semana, a situação deve ficar ainda mais crítica. As soluções apresentadas pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS), segundo os moradores, são temporárias, com transferência momentânea de servidores para a localidade.
_ O bairro é distante das unidades de pronto-atendimento do Centro, e principalmente os idosos, os que mais usam, estão sendo muito prejudicados. É fundamental que o quadro médico esteja completo para suprir a demanda mínima, que já está defasada _ defende o presidente da Associação de Moradores de Bairro (Amob) Forqueta, Dagoberto dos Santos Júnior.
Segundo ele, a única enfermeira do quadro está em licença. Dos dois médicos que deveriam prestar atendimento, somente um segue na equipe, e está de férias nesta semana. O cargo de estágio, que ajudaria nas funções de atendimento no turno da manhã, também está em aberto. Das cerca de 20 consultas, em média, que eram realizadas por dia no local, o número caiu para cerca de nove. Dessas, cinco são preenchidas por agendamento, que agora tem de ser feito pessoalmente, enquanto as demais têm de ser disputadas por quem se dispõe a encarar a fila na madrugada.
— Minha mãe não conseguiu mais agendar as consultas por telefone, e foi às 5h para a fila tentar ficha. Ela tem saúde para isso, mas há muita gente que não. E para as pessoas idosas, fica ainda mais difícil, porque eles não conseguem ir com tanta facilidade ao Centro. Já havia poucos médicos e, com o déficit, está caótico _ relata a analista jurídica Dariane dos Santos Giacomini, moradora de Forqueta.
Representante da comunidade no Conselho Municipal da Saúde, Susane Lume afirma que a mobilização dos moradores leva em conta, também, a defasagem do quadro de servidores da UBS e a estrutura _ eles sonham com uma cobertura para que os moradores obrigados a esperar na madruga fiquem, ao menos, menos expostos ao frio e à chuva.
— A UBS não acompanhou o crescimento considerável da população. Nós estamos sofrendo bastante com o atendimento reduzido, mas é notável que o bairro precisa, além do quadro completo, de mais médicos _ defende Susane.
O Pioneiro entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde por diversas vezes na tarde da terça, mas não obteve retorno.
Na UBS do Centro, faltam quatro médicos
A situação na UBS de Forqueta não é exceção, garante a titular do Conselho Municipal de Saúde, Fernanda Borckhardt. Um levantamento prévio, feito pela conselheira a pedido do Pioneiro, constatou problemas graves no quadro de servidores em pelo menos quatro UBSs. A mais grave é a UBS Centro de Saúde, que fica na Rua Pinheiro Machado, no Centro. Dos cinco clínicos-gerais que o postinho contava, há apenas atendimento parcial de um médico, que dá consultas nas tardes de terça, quarta e quinta-feira. Um outro profissional é emprestado, quando necessário, da UBS São Vicente. Existe também problemas na pediatria: há atendimento parcial de um pediatra, três dias por semana, em meio turno.
— Neste postinho, chegou a ter três médicos de manhã e dois à tarde. Agora, nos encaminham para as UBSs São Vicente, Sagrada Família... E quem não tem condições de pagar o ônibus para ir até lá? — questiona o empresário Renato Carra, usuário do Centro de Saúde.
A titular do Conselho Municipal de Saúde elogia, no entanto, a mobilização de Forqueta, e acredita que mais comunidades devam reativar seus conselhos locais de saúde para exigir mudança no atendimento:
— Este é o único caminho para que os bairros busquem seus direitos básicos de saúde: mobilização e debate.
O DÉFICIT*
Centro: A UBS tinha cinco clínicos, e agora há atendimento reduzido pela metade de um médico. Há falta de dois pediatras, não há odontólogo.
Vila Ipê: um técnico de enfermagem, um médico, cinco agentes comunitários.;
Desvio Rizzo: três técnicos de enfermagem, odontólogo e um enfermeiro
Mariani: dois técnicos de enfermagem e um médico,
* Informações repassadas pelo Conselho Municipal de Saúde.
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