Há vida em um ponto marcado por tragédias e onde os tristes desfechos de acidentes se tornaram ponto de referência: a Curva da Morte. Desde 2011, foram registrados mais de 100 casos e quatro mortes apenas nesse ponto, média de quase uma vida perdida por ano. Foram 28 tombamentos e 17 capotamentos no Km 47 da ERS-122, em Farroupilha. Os números são fornecidos pelo Comando Rodoviário da Brigada Militar e são atualizados até segunda-feira.
Os moradores dos dois lados da rodovia falam com naturalidade do lugar, embora já tenham perdido as contas de quantos carros e caminhões já viram perder o controle e descer barrancos e invadir terrenos.
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A tranquilidade de Sete Colônias, pertencente ao 4ª Distrito de Farroupilha, só é quebrada por estrondos causados pelo choque entre veículos ou de derrapagens, na tentativa de vencer a acentuada curva. Desde a metade de julho, um pardal na descida pouco antes da curva tem inibido a alta velocidade e diminuído os acidentes.
Por outro lado, um cheiro é sempre característico: o de lona dos freios de caminhões que descem em direção a Porto Alegre, castigados na chegada ao trecho. Aos 59 anos, Adelino Menti conhece bem esse cheiro. Da casa dele, distante cerca de 100 metros da beira da curva, consegue ver os caminhões vencerem o obstáculo em forma de ferradura. Nos primórdios, chegou a ajudar a socorrer gente presa às ferragens, mas diz que já viu tanta colisões que é difícil lembrar de detalhes.
- Vi famílias inteiras morrerem aqui. E poderia ter sido até a gente. É muito triste ver gente que trabalha, luta, morrer assim, sem mais nem menos - analisa.
A moradia fica abaixo do nível da pista, mas distante cerca de 100 metros. Ela foi erguida antes de a estrada ser asfaltada, processo que iniciou na década de 1970 e impulsionou o aumento da velocidade e, consequentemente, acidentes. Apesar de a família ter visto incontáveis veículos descerem barranco abaixo, felizmente a casa jamais foi atingida.
Casado com Anita, 55, Adelino criou três filhas, de 28, 26 e 21 anos, moradoras da sede do município, e não pensa em deixar Sete Colônias. Ao lado do irmão, Ademar Menti, 65, cultiva mudas de videiras em uma propriedade vizinha.
- Eu gosto do que faço e gosto daqui. Os acidentes são coisas de segundos, o cara tem que se cuidar, mas às vezes é coisa de Deus - diz o católico, que agradece por nunca ter sido vítima do Km 47.
*colaboraram André Fiedler (Rádio Gaúcha Serra) e Jean Prado (RBS TV)
Serra Imobilizada
"Vi famílias inteiras morrerem aqui", diz morador da Curva da Morte, em Farroupilha
Adelino Menti, 59 anos, diz que já perdeu as contas de quantos feridos ajudou a socorrer
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