*Siliane Vieira (interina)
Há um bom tempo a indústria fonográfica mudou radicalmente de moldes e a internet passou a ditar movimentos interessantes. O download ganhou força ao passo que os discos - aqueles que um dia já ocuparam a maior parte do meu suado dinheirinho - foram ficando cada vez mais caros e inacessíveis. Muitos artistas se posicionaram contra o download gratuito - lembram do chororô do Metallica contra o Napster? - enquanto outros enxergaram no novo processo uma oportunidade.
Hoje, claro, ainda compramos discos - eu, por exemplo, tenho curtido adquirir alguns títulos em vinil, apesar da facada no rim a cada vez que olho um preço - mas é inegável que a facilidade de encontrar tudo que queremos ouvir disponível online mudou para sempre a nossa maneira de consumir música (sem falar nos filmes). Se por um lado é triste ver algumas lojas de CDs praticamente às moscas, por outro é uma completa maravilha encontrar ao alcance de um clique a discografia completa daquela banda escandinava estranhíssima de quem você só ouviu falar - coincidência ou não - justamente por causa da internet.
Mas toda essa introdução sem novidade alguma tem um propósito. Estive no show de uma banda que gosto muito neste fim de semana e saí pensando: ainda bem que temos as apresentações ao vivo. Ouvir músicas que você adora sendo executadas a pleno suor e pulmões por quem as fez é um dos contatos mais viscerais com a arte, seja num teatro ou num boteco underground. Fato é que ainda não inventaram download para essa sensação maravilhosa de sintonia, de pertencimento.
Óbvio que escutar músicas que amamos em casa, no carro, na rua (ah, os fones de ouvido, que linda invenção) é sempre bom. Uma apresentação ao vivo é muito mais complexa, envolve desde a estrutura do lugar que abriga o show até o estado de espírito dos músicos no dia. Talvez justamente por isso seja quase mágico quando tudo conspira e você consegue lavar a alma berrando junto com o vocalista.
Voltando ao mercado, a maioria das bandas entendeu que é possível viver de shows, de fazer turnê. As grandes gravadoras perderam força e mecanismos como os financiamentos coletivos têm apontado rumos interessantes. Não há lados certos ou errados, são caminhos que os próprios artistas e seu público vão descobrindo juntos.
Mas o que eu queria dizer mesmo é, se possível, não perca a oportunidade de ver suas bandas preferidas em performances ao vivo. Às vezes rola uma decepção, mas quando é bom, é como se a gente se sentisse fazendo a própria roda da música não perder o giro.
* O colunista Gilberto Blume está em férias.
Opinião
Siliane Vieira: não inventaram download para essa sensação maravilhosa de sintonia
Ouvir músicas que você adora sendo executadas a pleno suor e pulmões por quem as fez é um dos contatos mais viscerais com a arte
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