Aprovada em dezembro do ano passado, a nova lei dos táxis sequer foi aplicada e pode ser alterada porque desagrada a categoria em Caxias do Sul. Um dos itens mais polêmicos é a obrigatoriedade do concessionário exercer a função diariamente. Muitos profissionais estão aposentados ou alugaram os veículos para terceiros, e na prática teriam que voltar para o trabalho.
Na tarde desta quinta-feira, taxistas descontentes chegaram a interromper uma reunião explicativa sobre a nova legislação na Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade por não aceitarem a exigência.
A regra da jornada mínima é óbvia por se tratar de uma concessão individual, mas não é cumprida em grande parte da frota de 316 táxis. Isso abre brecha para o aluguel, arrendamento e venda das concessões, algo ilegal. Os negócios irregulares inclusive forçaram o Tribunal de Contas do Estado (TCE) a congelar a transferência de propriedade em Caxias do Sul desde 2011, a partir de denúncias veiculadas em série de reportagens do Pioneiro.
Agora, quem não provar que está trabalhando no táxi corre o risco de ser multado ou perder a concessão. Por esse motivo, os concessionários devem morar em Caxias e exercer a função por pelo menos 30 horas semanais. O descontrole atual resulta em problemas de atendimento à população à noite e aos finais de semana.
Na próxima semana, os vereadores Pedro Incerti (PDT) e Zoraido Silva (PTB) protocolam projeto para alterar o artigo sob a alegação de que muitos taxistas não estão no volante por questões de saúde, por exemplo.
O presidente do Sinditáxi, Adail Bernardo da Silva, cita quatro viúvas de taxistas mortos em assaltos na cidade. Por lei, elas são herdeiras e deveriam dirigir os veículos todos os dias. A tarefa, porém, é desempenhada por outros motoristas por motivos variados.
- Isso só prejudica os taxistas mais antigos, que estão aposentados, doentes e não podem trabalhar. De onde eles vão tirar a renda? Vão tirar esse direito dessas mulheres? - questiona Adail.
Um taxista abandonou o encontro desta tarde aos gritos afirmando que não colocaria os filhos no serviço, uma possibilidade prevista na lei. A Cooperativa de Consumo dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários (Coocaver) segue a posição do Sinditáxi.
- Não somos obrigados a trabalhar depois que paramos por aposentadoria ou outro motivo - alega o presidente da entidade, Joaquim Bueno dos Reis.
A categoria também tentar mudar a regra do táxi executivo. Pela lei, os 32 veículos distribuídos na Rodoviária e no Aeroporto deverão ser da cor azul, ter quatro portas, leitor de cartão de crédito, ar condicionado e bagageiro maior. Os demais carros continuam sendo brancos com uma pequena faixa azul.
- As concessionárias trabalham com padrões diferentes de cores, como vamos fazer para o achar o azul padrão? Nossa sugestão é manter a cor branca e implementar uma faixa vinho para diferenciar o executivo do táxi convencional - adianta Adail Bernardo da Silva.
De acordo com Zoraido Silva, as alterações serão debatidas em reunião com a categoria e com o Executivo. A intenção é levar o projeto de lei para votação em 60 ou 90 dias.
ALGUMAS EXIGÊNCIAS DA NOVA LEI
:: Fica limitado em um o número de prefixos de que o permissionário poderá ser titular
:: O permissionário deverá possuir domicílio em Caxias
:: Para os prefixos que não possuírem condutores auxiliares registrados pelo permissionário, fica dispensada, aos domingos e feriados, a execução da jornada mínima
:: Ficam permitidas as transferências da permissão aos herdeiros legatários ou aos meeiros (que têm direito à metade dos bens), com base no direito sucessório
:: São vedados o aluguel, o arrendamento, a subpermissão, a alienação ou qualquer outra forma de negociação da permissão de táxi
:: Extinta a permissão, o prefixo será recolocado em serviço e redistribuído mediante licitação
:: Por ocasião do protocolo do requerimento de transferência as partes devem firmar declaração da inexistência de aluguel, negociação ou qualquer tipo de comercialização da permissão de táxi
Transporte público
Lei do táxi poderá ser novamente alterada em Caxias do Sul
Taxistas não concordam com obrigatoriedade de exercer função todos os dias
Adriano Duarte
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