A prisão em Caxias de dois rapazes e de um adolescente com uma lista de 20 modelos de veículos para serem furtados ou roubados é o retrato de um crime registrado diariamente me Caxias. No domingo, Gabriel Jerônimo da Silva Costa, o Botinho), 23 anos, e Vinícius da Costa Miranda, 20, foram detidos na Rua Tronca, no Centro, em um Ford Ka, instantes depois de uma tentativa frustrada: o furto de um Ford Fusion. Não tiveram êxito porque não sabiam soltar o freio de mão.
Com eles, a Brigada Militar apreendeu um revólver calibre 38 com numeração raspada, celulares, uma quantia em dinheiro e a lista de veículos. Os nomes de ambos, apesar de desconhecidos da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), têm passagens pela polícia. Gabriel tem antecedentes por furto qualificado, homicídio, tráfico de drogas e receptação de veículo. Vinícius, por porte ilegal de arma. O delegado Joigler Paduano prefere não levantar suspeitas antes das investigações.
- É cedo para dizer se eles integram uma quadrilha ou não. Tem muita gente envolvida em roubo e furto de veículo. Mesmo quando eles não integram uma organização, eles sabem para quem levar o carro, quem é o receptador. Os criminosos se conhecem - justifica o delegado.
Quase dois carros são roubados por dia (com emprego de violência) em Caxias do Sul - a média é 1,75, ou sete carros a cada quatro dias. E outros quatro carros são furtados (sem ação violenta), só que diariamente. O primeiro semestre de 2014 encerrou-se com números que garantem a Caxias a posição de segundo lugar no Estado no ranking de roubos e furtos de carros: 318 foram roubados e 757 foram furtados entre janeiro e junho deste ano - 1.075 ao todo.
O roubo ou furto de veículo alimenta várias indústrias do crime. Carros mais novos, como os da listagem (quadro) do trio preso domingo, normalmente são clonados e circulam com documentos falsos, inclusive em outros Estados, como Santa Catarina e Paraná, escolhidos pela rota: é relativamente perto, mas longe do local de origem, e os bandidos ainda apostam na falta de troca de informações entre as polícias.
Clonagem ou desmanche
Caminhonetes, como Triton e Toyota, são levadas para o Paraguai, onde também são clonadas ou trocadas por drogas, normalmente uma ação entre quadrilhas. Os veículos, alguns com preços em torno de R$ 100 mil, chegam a ser vendidos por R$ 4 mil no país vizinho pelos criminosos.
- As pessoas têm uma visão simplista do tráfico, principalmente quando se fala de maconha. O que se percebe é que o criminoso não é só traficante. Óbvio que o pequeno traficante é receptador daquela bateria roubada. Mas o grande traficante recepta automóvel para trazer a droga. Todo o crime é articulado - esclarece o delegado Mário Mombach.
Já carros de modelos mais antigos vão para desmanches e abastecem o comércio ilegal de peças. Este ano, uma operação da Defrec fechou um desmanche clandestino em São Giácomo, na beira do Arroio Tega, e prendeu duas pessoas.
Cerca de 70% dos carros furtados ou roubados são recuperados e, até junho, 68 pessoas foram presas em flagrante por receptação. Dos carros recuperados, a maioria é encontrado abandonada pela cidade. Na maioria das vezes, são carros furtados para a retirada de peças para a troca por drogas ou usados em assaltos e depois desprezados.
OS BAIRROS
- No caso dos roubos, a maioria dos assaltos ocorre em bairros de classe média alta, como Exposição e Madureira.
- Os criminosos costumam agir no final do dia, quando os moradores chegam em casa.
- Já os furtos ocorrem em locais com aglomeração de veículos, como hospitais e mercados.
- Carros mais antigos, que não possuem chave codificada, são o alvo, como Monza e Chevette.