No site da clínica da cirurgiã plástica Saly Kich, 49 anos, localizada na elegante Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, no Rio de Janeiro, três depoimentos de pacientes atestam a competência da médica, integrante da equipe de ex-alunos de Ivo Pitanguy, o mais conhecido cirurgião plástico do país.
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para os 100 anos do Hospital Pompéia
Antes, porém, de integrar o seleto grupo e mudar para o Rio de Janeiro, esta caxiense descendente de alemães estreou a primeira turma de residentes do Hospital Pompéia. O cirurgião Mario Fedrizzi, fundador e chefe da residência médica do Hospital Pompéia durante 12 anos, lembra com orgulho da ex-pupila:
- Entre 20 e poucos candidatos, ela e mais outro candidato foram aprovados nas provas escritas e na entrevista, que fazíamos questão de que fosse bem rigorosa para ter certeza de que o residente iria aguentar a pressão dentro de um hospital grande e complexo como o nosso. A Saly ela era uma jovem muito tranquila e estudiosa, tanto é que obteve um aproveitamento de mais de 80% na prova escrita, quando o normal é 70%, 75%. Para ela, não tinha hora ruim - recorda o médico.
Radicada no Rio desde 1996, Saly estudou na Escola Santa Tereza, no Cristóvão de Mendoza e cursou Medicina na Universidade de Caxias do Sul (UCS) até se formar, em 1993. No ano seguinte, iniciou a residência em cirurgia geral. Foram dois anos de muito trabalho, mas também de muito aprendizado e lições para a vida.
- O Pompéia era um hospital de grande movimento e se fazia de tudo, desde cirurgias eletivas até emergência. No meu primeiro plantão, tivemos de atender uma vítima de acidente de carro, um politraumatizado com ruptura de baço. Ficamos horas em cirurgia para tentar salvar a vida dele. Foi a minha primeira prova de fogo. Graças ao rápido atendimento e à competência da equipe, o paciente saiu com vida e eu tive a certeza de que estava no lugar certo. Nunca mais esqueci este episódio. Isso passou a ser quase que uma rotina nos dois anos seguintes - revela Saly.
A medicina, conta ela, não foi sua primeira opção. Saly também prestou vestibular para os cursos de Psicologia e Biologia, aos quais dedicou alguns semestres e acabou abandonando para dedicar-se à área da saúde.
- A estética do corpo e da alma sempre me atraiu. Sempre achei que podemos melhorar do ponto de vista interno e externo por isso fiz cirurgia plástica e faço psicanálise até hoje - revela.
A médica integrou a primeira turma de residentes na área de cirurgia geral do Pompéia, na época coordenada por Fedrizzi e pelo médico Ricardo Santos. Foi uma boa oportunidade de seguir sua especialidade favorita sem precisar se deslocar para outra cidade e ficar longe da família. Por serem pioneiros, os jovens residentes precisaram se dedicar ao máximo, confirma ela:
- Como éramos apenas dois residentes, trabalhávamos muito, dando três a quatro plantões por semana. Foi um ano de muito trabalho e estudo. Também iniciamos a publicação de trabalhos para a Revista Científica do hospital. Era exaustivo, mas gratificante porque o que aprendi nos dois anos que passei pelo Pompéia serviu para eu alcançar meu objetivo, o de ser uma profissional competente, e entrar para uma das melhores escolas de pós-graduação de cirurgia plástica do país, a do professor Ivo Pitanguy.
- Apesar de um rotina complexa no hospital, enfrentando cirurgias de todos os tipos, a Saly manteve a delicadeza da mulher. E sempre deixou claro que aqueles dois anos no Pompéia seriam uma fase, um aprendizado para conquistar o que ela realmente queria, que era a cirurgia plástica. Não é à toa que chegou onde está - afirma Fedrizzi.
No seleto grupo de alunos de Pitanguy, Saly especializou-se em cirurgia estética e reconstrutiva. Esta última, afirma ela, foi a que mais lhe marcou: o período em que tratou de pacientes queimados.
- A gente tratava o paciente que ficou com sequela da queimadura. Havia momentos muito difíceis, ao tirar o curativo, por exemplo. Eles são muito dolorosos, mesmo com sedação. É muito difícil trabalhar com esse sofrimento, lidar com o paciente sentindo dor acordado... E a gente conhece as histórias de vida das pessoas, vê crianças pequenas com queimaduras terríveis, causadas por uma panela quente que caiu do fogão... E se frustra em ver como a saúde é precária no país, como o governo não dá assistência, não faz um trabalho profilático - comenta a cirurgiã.
Hoje, em função da rotina corrida, Saly confessa que não tira férias há um bom tempo:
- Ao viajar, vou num pé e volto noutro. É difícil ficar afastada do trabalho. A minha rotina é consultório, cirurgia todo dia. O carioca faz muita plástica, o que faz do Rio de Janeiro a segunda cidade com o maior volume de cirurgias plásticas do país, só perdendo para São Paulo.
Quando encontra uma brecha na agenda - ou a saudade aperta, Saly deixa a Cidade Maravilhosa e vem a Caxias visitar a família. E matar a saudade da vida menos agitada que cidades como Caxias oferecem. Da vida mais simples. Da cultura e dos valores familiares que parecem mais valorizados. Sem esquecer do churrasco preparado com dedicação e esmero pelo pai e que reúne toda família à mesa.
Cirurgia plástica
100 anos do Pompéia: conheça Saly Kich, uma das primeiras residentes do hospital
Médica está radicada no Rio desde 1996 e é integrante da equipe de ex-alunos de Ivo Pitanguy
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