Dona Amélia Stocker Witt, 67 anos, é o que se pode chamar de testemunha ocular. Há 32 anos, a floricultura dela é vizinha do Hospital Pompéia. Atrás do balcão, montando buquês, coroas e arranjos, Amélia acompanhou os momentos difíceis pelos quais a instituição passou, principalmente na década de 1980 e início dos anos 1990. São tempos que ela jamais esquecerá.
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para os 100 anos do Hospital Pompéia
- Era uma época de muita falta de dinheiro, muita pobreza. Nem sei quantas dívidas o hospital acumulava para conseguir atender todo mundo que chegava aqui. Havia muita tristeza, porque não se via a luz no fim do túnel - afirma.
Para Amélia, o trabalho das Associação das Damas de Caridade foi - e ainda é - fundamental para manter o Pompéia de portas abertas. A atuação das damas se dá tanto na arrecadação de fundos para custear as despesas quanto no trabalho de confecção de enxovais para gestantes pobres. Ela mesma lembra de ter doado lençóis, toalhas de banho e roupas para serem costurados e doados pelo Pio Sodalício a pacientes ou para serem aproveitadas no brechó mensal.
- Não tenho vergonha de dizer que também pedi roupas usadas para os clientes da floricultura para dar ao hospital. Eu já fui pobre e sei o que é passar necessidade - conta Amélia, que hoje vive em uma propriedade em Linha Temerária, interior de Nova Petrópolis, onde cultiva rosas, gérberas, crisântemos, cravos e mais uma dezena de plantas decorativas.
De quando em quando, a horta da florista também reforçava com verduras e legumes a cozinha (e a refeição) dos doentes. Dona Amélia é respeitada entre as damas por colaborar e organizar almoços em prol do Pompéia.
- Já fizemos almoços para até mil pessoas nos Capuchinhos, em São Romédio... A gente corria para vender ingresso, corria para organizar tudo, mas era uma satisfação no final sobrar um dinheirinho. Naquela época, qualquer real que entrasse era lucro. Hoje, me orgulho de dizer que ajudei a colocar um tijolinho no hospital - afirma Amélia.
O sufoco, recorda a florista, só começou a aliviar quando a Sociedade Beneficente São Camilo assumiu a administração do Pompéia.
- Antes disso, vi muito administrador assumir e largar o cargo logo depois, deixando o Pompéia pior do que estava. O pulso firme do Francisco Ferrer (atual administrador) foi que ajudou a salvar esse hospital da morte - acredita.
Apesar de fazer sua vida vendendo flores em frente a um hospital, Amélia confessa que não gosta muito desses lugares. É que as lembranças amargas voltam à mente, reavivando na mente a perda de um filho com apenas 11 anos.
- Passei por muitos hospitais com ele. Esses lugares me trazem lembranças ruins. A cada pessoa que perdia um ente querido, eu me via de novo naquela dor - confessa Amélia, que começou a trabalhar com flores ainda na época do antigo mercado público, no final da década de 1960.
Por circular diariamente no pátio do hospital (a atual floricultura, que já funcionou em um espaço de 2mx3m na esquina da Julio com a Marechal Floriano, está encravada no jardim do Pompéia há 18 anos), Amélia acompanhou ainda a rotina desgastante de médicos, enfermeiros e outros funcionários da instituição. Mas também alegrou-se com histórias de felicidade, de agradecimento.
- Muita gente já foi à floricultura mandar flores em agradecimento pelo trabalho desses profissionais, já vi pais eufóricos, sem saber o que dizer quando iam presentear a esposa que recém tinha dado à luz no hospital. Mas para mim, a coisa que mais marcou foi testemunhar a felicidade dos pacientes doentes conseguirem uma vaga para se tratar - afirma.
Vizinha
100 anos do Hospital Pompéia: florista acompanha alegrias e tristezas de pacientes e funcionários da instituição há 32 anos
Amélia Stocker Witt também auxiliou em almoços em prol do hospital e doando roupas para os bazares do Pio Sodalício
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