A família de Rogério Cardoso Junior, 10 anos, sempre diz que ele nasceu duas vezes. Uma quando veio ao mundo, em 8 de maio de 2002. Outra quando recebeu alta do Hospital Pompéia, no dia 2 de agosto de 2010, após 31 dias internado em estado grave.
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para os 100 anos do Hospital Pompéia
O menino, com oito anos na época, deu entrada na emergência do hospital no dia 2 de julho de 2010, trazido por uma ambulância do Samu. Ele voltava da escola e atravessava um trecho movimentado da Avenida Benjamin Custódio de Oliveira, bairro Planalto-Rio Branco, a 200 metros da casa onde morava com a mãe, quando foi atropelado por um carro. O impacto jogou o menino longe. Aparentemente, nenhum ferimento grave no corpo, apenas alguns machucados nas mãos e no joelho.
O problema é que o impacto atingiu em cheio a cabeça da criança, resultando em um quadro de traumatismo craniano. Em coma, Rogério passou 25 dias na unidade de terapia intensiva (UTI) do Pompéia.
- Quando o meu filho ligou para avisar do acidente, eu e o meu marido corremos para lá, para saber o que tinha acontecido. Inicialmente, eu passava o dia todo do lado de fora do hospital, esperando notícias, porque só pai e mãe podem entrar. Mas o pessoal do serviço social e a psicóloga foram muito atenciosos comigo, sempre que me viam vinham trazer notícias, contavam alguma coisa sobre ele - recorda a avó Geni Maria Cardoso, 64.
Três dias depois, Geni pôde ver o neto. Foi um baque: ele não abria os olhos, não se mexia. Com a autorização do serviço social do hospital, daquele dia em diante a avó passou a fazer companhia ao menino durante o dia, enquanto outros parentes se revezavam durante a noite.
- A gente sabia que ele estava vivo, mas ele não respondia a nada, voltou a usar fralda, se alimentar por sonda. Aí eu ficava lá, passava creminho na mão dele, que estava com a pele toda machucada, cantava... As enfermeiras disseram até que a minha voz estimulou o Rogério a abrir os olhos. Acho que ele gostava de saber que eu estava ali, cuidando dele - revela Geni.
A assistente social Simone Viecelli lembra com carinho de Geni e da batalha de Rogério para continuar vivo. De início, o prognóstico era de que ele nem fosse sair da UTI com vida.
- Quando ele saiu, alguns médicos nem acreditavam que ele fosse voltar a andar e falar. Se o Rogério está bem hoje, falando, andando, frequentando a escola, é pelo investimento que os avós fizeram nele. Ela era uma avó muito carinhosa, muito atenciosa. Ficava o dia todo ao lado dele, conversando, rezando - afirma Simone.
Como a mãe de Rogério não estava mais capacitada a cuidar dele e o pai não tinha condições de assumir esse papel, coube aos avós a tarefa de assumir a guarda do menino já na saída do hospital. Com a guarda provisória em mãos, Geni e o marido, o mecânico Evênio Coelho Cardoso, 64, ainda contaram com a ajuda de funcionários do Pompéia, entre eles, Simone, para receber a guarda definitiva do menino.
- Eu sabia da situação difícil que o meu neto estava. Havia o risco de ele ir para o Conselho Tutelar e acabar indo para outra família ou até ficar num abrigo. Um dia, então, eu fui à igreja, pedi para Deus me dizer o que fazer. E ele me falou pela palavra (Bíblia). Não lembro bem qual é o texto, mas dizia que o que eu estava me preocupando ia se aproximar de mim, mas que seria uma coisa de vida, não morte. E dizia que Deus iria operar uma obra na minha vida. Foi o que aconteceu - revela Geni.
Aposentada e com os três filhos já criados, Geni e Cardoso recomeçaram tudo de novo, desta vez com o neto. E ela sabia que não seria um recomeço fácil: Rogério não caminhava, não falava e precisava se alimentar com sonda. Haveria ainda gastos com leite especial, fraldas, assistência médica...
Hoje, o menino faz fisioterapia, fonoaudiologia e recebe acompanhamento médico regular. Tudo contou para que um ano após o acidente o garoto já estivesse caminhando e falando. No início de 2011, ele também voltou à escola, a Padre Antônio Vieira, no bairro São José, onde ele mora com os avós. No primeiro semestre, Geni o conduzia de cadeira de rodas.
Passado um ano após o acidente, o menino voltou a caminhar com o andador, e depois, sozinho. E hoje, quando vão até o centro da cidade, Rogério e a avó não deixam de reencontrar os amigos no Pompéia. Numa dessas visitas, ainda na cadeira de rodas, o menino presenteou a todos com uma novidade:
- Ele levantou da cadeira e deu alguns passinhos para a gente ver. Fiquei tão contente que corri para chamar os médicos que atenderam ele. Todos comemoramos juntos - afirma Simone.
Era Rogério voltando a ser criança, retomando a vida normal que a violência do trânsito se encarregou de interromper por algum tempo.
Recuperação
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