A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se sensibilizou com a tragédia climática que afetou o Rio Grande do Sul e atendeu ao pedido de Juventude, Grêmio e Inter. Após um relatório enviado pela FGF, a entidade adiou todas as partidas dos gaúchos em competições nacionais até o dia 27 de maio. E o presidente da Federação, Luciano Hocsman, explicou como se definiu pela suspensão das partidas.
— Desde a semana passada, na verdade, entendemos que talvez o cenário fosse um, e hoje ele é muito mais grave do que a gente imaginou. Tivemos que fazer alguns movimentos, com alguns jogos adiados. E, diante da situação de agravamento da questão climática e das inundações que se abateram sobre o Rio Grande do Sul, começamos a pensar numa situação que não gerasse prejuízo para as equipes e para a competição — destacou Hocsman em entrevista ao Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra.
Confira os principais trechos da entrevista do presidente da FGF:
Decisão pelo adiamento das partidas de clubes gaúchos
— Depois de conversar com presidentes de clubes, com o presidente da CBF e com o departamento de competições, tomamos a decisão, em conjunto, de encaminhar à CBF esse pedido. Foi um relatório de informações acerca do que estava acontecendo aqui, embora a CBF tivesse e tenha todas essas informações sempre atualizadas com eles lá. E fizemos minimamente o que se entendeu como mínimo razoável para que a gente entendesse o que vai acontecer daqui para frente. Não era possível nós ficarmos sempre nesse debate, tem jogo essa semana, não tem? Tem jogo na próxima semana, não tem? Quando é que vai ter? Sai o jogo da Copa do Brasil ou não sai? Sai da Série C ou não sai? Acho que foi muito nesse sentido, e a CBF também foi sensível com a situação aqui do Rio Grande do Sul e tomou essa medida excepcional de adiar os jogos dos clubes gaúchos aqui.
Havia clima para a realização de jogos no RS?
— Eu acho que a questão humanitária pesou. Esse momento que o Rio Grande do Sul está passando, ele se assemelha, mas é muito diferente da questão da Covid, porque atingiu somente a nós aqui. Morreu muita gente. Nossa, eu acho que a gente precisa ter esse mínimo de respeito. E, além disso, tem uma questão que acho que ela precisa ser pensada. Está faltando água no Estado. Como é que tu vai fazer uma partida de futebol gastando água para os atletas tomarem seu banho, por exemplo, quando tem campanhas de racionamento de consumo de água? Tem gente que perdeu suas casas, tem cidade sem luz, cidades devastadas.
Foi feito pedido de paralisar as competições nacionais?
— Por parte da Federação Gaúcha, não. Eu acho que é diferente um pouco da situação que envolveu, por exemplo, a questão da Covid, que era algo no mundo todo. Eu acho que nesse momento, se pensar na paralisação, tem que partir de cada clube. Não é algo que tem que ser proposto pelos clubes gaúchos. Se fosse para parar, se fosse para paralisar, suspender o andamento, isso tem que partir de cada um. É complicado, é um tema sensível. Vou te confessar que eu já tive momentos que achei que tinha que parar tudo, depois eu já tive momentos que o ideal seria que resguardasse, pelo menos, os clubes gaúchos. Tem, evidentemente, a questão do equilíbrio desportivo, então é bem complicado.
Situação de clubes que disputam a Divisão de Acesso
— Essa é uma situação que a gente está analisando com muita atenção. Qualquer prorrogação de contrato, de competição, gera um impacto econômico importante nas suas folhas de pagamento, no seu planejamento financeiro. Eu chamei os clubes mais uma vez para uma conversa amanhã (quarta-feira) pela manhã, muito mais uma atualização do cenário de cada região. Até porque a próxima rodada já está suspensa, que é a rodada do final de semana, e eu acho que dessa forma a gente consegue ter um planejamento mínimo de tempo para que os clubes possam se programar. Nós já estamos pensando num plano para buscar um auxílio econômico para os clubes, eles já fizeram um movimento que nós solicitamos.
Quais alternativas seriam viáveis para fazer esse plano econômico?
— Na verdade, são várias ações. Vão desde solicitações à própria CBF ou buscando também algum tipo de apoio, um projeto de apoio às federações onde a CBF distribuiu um valor para cada uma. Muitas delas disseram que abririam mão desse valor em favor da Federação Gaúcha para que a gente pudesse distribuir aos clubes. É um tema importante porque são muitos jogadores, muitas famílias envolvidas na Divisão de Acesso dependendo exatamente desses recursos que os clubes fazem no pagamento aos atletas.
Próximos passos
— Agora é lutar aqui com todas as forças, cada um do seu jeito, para que se resgate o maior número de pessoas possível, que as pessoas sejam salvas, que as pessoas sejam retiradas com vida dessa situação para que comece uma reconstrução e a gente possa, com calma, pensar na questão do futebol. Fazendo com que os clubes tenham um tempo mínimo para se recuperarem, para fazer o seu retreinamento e não misturar os assuntos e focar hoje toda a força do Rio Grande do Sul, no salvamento dessas pessoas que ainda estão em situação de vulnerabilidade e ilhadas nas suas casas.