Ele trocou o som da viola do interior de Goiás pelo frio característico da Serra Gaúcha. Prestes a completar um ano no Caxias, o técnico Thiago Carvalho pode ser enérgico na beira do campo, mas fora das quatro linhas carrega a tranquilidade dos sotaques goiano e mineiro. Aos 34 anos, o jovem treinador levou o Caxias à final do Gauchão. O bicampeonato pode vir no sábado (8), às 16h30min, na Arena, contra o milionário Grêmio.
Thiago começou no futsal, mas logo foi para os gramados, onde teve sucesso. Atuou nas categorias de base do Vila Nova. Depois, chegou a defender profissionalmente o Cruzeiro, na Série A do Brasileirão. Conforme a irmã Tatianna Carvalho, Thiago chegou a ser treinado pelo pai Gercival no começo da carreira.
— Quando ele foi para o campo, o pai era o técnico na fase de competições. Então, a cobrança triplica. Thiago sempre foi muito dedicado, responsável, tranquilo e caseiro na adolescência. Era muito tímido. Sempre foi um parceiro meu, da mãe e do pai. Ele é do perfil que vocês estão vendo hoje. Sempre foi assim. Para mim é uma referência de comprometimento e honestidade — comentou Tatianna.
Próximo aos 30 anos, o então jogador teve que pendurar as chuteiras após uma sequência de lesões no joelho. Já na Aparecidense-GO deu os primeiros passos fora das quatro linhas. Foi diretor das categorias de base, técnico do time sub-20 e, por fim, da equipe profissional. A irmã não esquece uma conversa com a mãe Claudia, quando as dores no joelho tiravam a alegria do atleta em campo.
— Orávamos muito para ele se recuperar. Um dia minha mãe falou: "tenho que perguntar para ele, se quer voltar a jogar". Daí ele respondeu para a mãe que fazia tempo que não sabia o que era jogar sem sofrer. Ele sempre sentia dor nos treinos e jogos. Ele entregava mais que o limite dele. Daí a minha mãe falou que isso não era vida. Mas ele tinha uma certeza do que ele iria fazer após encerrar — revelou Tatianna.
Muito família, Thiago contará na Arena com uma voz que lhe aconselha na vida. Na arquibancada da casa gremista estará Claudia, para apoiar o filho em mais uma decisão na curta carreira de treinador:
— A mãe chegou em Porto Alegre. Ele é muito família. Estou hoje na Itália, mas se estivesse no Brasil estaria junto com eles. Na alegria e na tristeza. Isso é um pouco Thiago, por isso ele pede a união do grupo — disse Tatianna.
:: PARCERIA DE 4 ANOS
Thiago conta com a ajuda de um auxiliar técnico que virou amigo. Luís Gustavo, 30 anos, tentou ser jogador, mas entrou no futebol através do mundo acadêmico, como preparador físico. O primeiro contato com Carvalho foi em 2015, quando o zagueiro atuava no Boa Esporte e Luís era preparador físico. Depois, a dupla se reencontrou em Goiás.
Quando o técnico iniciou os trabalhos na casamata da Aparecidense, fez o convite ao preparador para ser seu auxiliar. Com passar do tempo, a confiança virou sinônimo de amizade. A sintonia é tão grande que as palavras foram substituídas pelo olhar.
— É um cargo de confiança, é o primeiro elo. Indo para o quarto ano, hoje a gente se entende pelo olhar. Coisas que acontecem e a gente não pode comentar, só no olhar já sabe o que se um não gostou ou se a atitude foi boa. Alguns momentos, quando vou levar algo sobre o jogo, ele já sabe o que vou falar. Após esses anos, a gente tem uma sintonia muito boa.
— O diferencial é o companheirismo. Thiago tem ideias muito claras, é dele isso.
LUÍS GUSTAVO
Auxiliar técnico do Caxias
No primeiro ano de Aparecidense, em 2020, a dupla quase conquistou o acesso, mas a vaga ficou com o Mirassol-SP. No ano seguinte, Thiago teve sequência no trabalho. O resultado foi o acesso à Série C e o título da Série D. Luís Gustavo comenta qual o diferencial da dupla:
— É o companheirismo. Thiago tem ideias muito claras, é dele isso. Ele traz isso como atleta. O meu papel é ajudar e dar suporte. Ele tem muita convicção. O cargo de treinador é de todo momento estar tomando decisão e tem que ter um pouco desta frieza e serenidade. Ele é um cara muito calmo, procura sempre tomar atitudes para ser justo com todos.
:: RECADO ESPECIAL
A família de Thiago Carvalho o acompanha em Caxias do Sul. A esposa Ludmila Rodrigues e o filho Arthur, 11 anos, são presenças certas em dias de jogos no Estádio Centenário. Segundo Ludmila, morar no sul do país sempre foi um desejo.
— Todas as expectativas foram superadas. A cidade é linda, me senti muito bem recebida. O Arthur também se adaptou muito bem na escola. Sou apaixonada pela culinária da Serra e aqui tem lugares lindos. Caxias tem um espaço no meu coração — declarou a esposa e torcedora número 1 do treinador:
Não importa se terá milhares de pessoas na Arena, mas você tem a certeza que estaremos torcendo, orando e pedindo para Deus nos honrar com esse título.
LUDMILA RODRIGUES
Esposa do técnico Thiago Carvalho do Caxias
— Sempre acompanhei todos os jogos, dentro do possível, desde o tempo de jogador, e agora não é diferente. O Centenário tem uma atmosfera diferente com a torcida e não abro mão de acompanhar e dizer que estamos aqui por ele e vamos até o fim. Não importa a circunstância estou sempre na arquibancada com o nosso filho torcendo por ele.
Antes da final na Arena, em Porto Alegre, Ludmila deixa um recado especial ao pai, companheiro de vida e treinador do Caxias:
— Agradeço muito a Deus de viver com você e de ter como parceiro. Nestes últimos meses não teve um dia que não acreditasse onde chegaríamos, pois você passou confiança para nós que era possível. Eu não consigo pensar em outra coisa a não ser trazer este título junto contigo para o Caxias. Eu e o Arthur vamos sempre estar contigo. Não importa se terá milhares de pessoas na Arena, mas você tem a certeza que estaremos torcendo, orando e pedindo para Deus nos honrar com esse título. Nós te amamos e estamos junto contigo em todos os momentos. Vamos juntos buscar este título.