Se quiser conhecer quem ele é, não precisa passar pela estrada de Santos, como diria o Rei Roberto Carlos na música "As Curvas da Estrada de Santos". Aliás, curvas que o Guilherme Maia vai passar como visitante agora, pois a Serra Gaúcha ganhou um novo morador.
O nadador Guilherme Maia decidiu se mudar para Caxias do Sul. Pouco mais de 100 dias após o encerramento da 24ª edição das Surdolimpíadas, o único medalhista de ouro da história do Brasil abraçou a cidade. Ele chegou ao Recreio da Juventude no inicio de janeiro, para os Jogos, e vai permanecer treinando por aqui.
— Minha chegada em Caxias foi uma decisão difícil de tomar. A família me apoiou. Minha mãe ficou um pouco receosa e nervosa. Foi tudo muito corrido, mas deu certo. No término da Deaflympics, decidi ficar pois obtive bons resultados, mesmo perdendo o ouro olímpico. Foi pouco tempo de treino com meu técnico no Recreio da Juventude. Só três meses, mais ou menos — comentou Maia.
Nas Surdolimpíadas de 2022, a primeira realizada na América Latina, Maia conquistou duas medalhas de bronze, nos 100m e 200m livres. O nadador disse que nunca antes tinha sido tão acolhido em uma cidade. Ele nasceu sem audição e revela ter sentido na pele a vibração da torcida momentos antes de entrar na água, no ginásio da Sede do Guarany/Recreio da Juventude.
— Foi incrível. Nunca mais vou esquecer a vibração quando coloquei os pés para o balizamento. Meu corpo arrepiou, me emocionei muito. Senti o chão balançar e vibrar. Ouvi pela primeira vez um ruído como se fosse um "uuuuuu", sabe ? A torcida foi incrível! Nunca na minha vida eu recebi e senti tanto apoio e torcida por mim. Pessoas me reconheciam nas ruas e até em cidades próximas pediam fotos e autógrafos — revelou o único medalhista de ouro da história brasileira, que lamenta não ter conquistado o segundo ouro:
— Só senti muito perder o ouro nos últimos 15 metros. Saí na frente, fiz todas as viradas na frente, mas acabei travando e ficando com a medalha, em 3° lugar. Foi bom. Poderia ter sido histórico. Acho que minha mãe e todos os meninos, sem camisa, naquele frio, com minhas iniciais pintadas no peito teriam se jogado na água.
OLHOS NO MUNDIAL
O frio da Serra Gaúcha não é um adversário para Guilherme Maia. O nadador brinca que na sua terra natal a praia acaba desviando o foco. Já as temperaturas mais baixas o fazem manter o foco na piscina térmica do clube.
Maia é o atual recordista mundial nos 200m livre. O nadador foi o mais rápido das piscinas na Turquia/2017, quando bateu o tempo de 1min52s55. Sob o olhar atento do técnico Régis Mencia, que trabalhou com César Cielo, o foco do surdoatleta é o Mundial da Argentina, em agosto de 2023.
— Agora é muito treino. Muito foco. Muita disciplina. Pretendo trazer mais medalhas, ainda não tenho ouro no Mundial e, se tudo der certo, vou baixar meus tempos com intenção de alcançar o recorde. Mas, para chegar lá, preciso de apoio financeiro. O atleta surdo não é recompensado como o Paralímpico e os ouvintes. Por isso é bem difícil, mas não desisto — finalizou Maia, que possuiu três medalhas de prata e cinco de bronze em Mundiais.
HISTÓRICO
:: Surdolimpíadas Bulgária (Sofia) - 2013
Prata - Guilherme Maia - Natação 100m livre
Bronze - Guilherme Maia - Natação 200m livre
Bronze - Guilherme Maia - Natação 200m borboleta
:: Surdolimpíadas Turquia (Samsun) - 2017
Ouro - Guilherme Maia - 200m livre (recorde olímpico da prova com 1:52.55)
Bronze - Guilherme Maia - 100m livre
:: Surdolimpíadas Caxias do Sul (Brasil) - 2022
Bronze - Guilherme Maia - Natação 100m livre
Bronze - Guilherme Maia - Natação 200m livre
:: Surdolimpíadas Nacional
Ouro - Seis medalhas
:: Sul-Americanos
Ouro - 12 medalhas
Bronze - Três medalhas
:: Mundiais
Prata - Três medalhas
Bronze - Cinco medalhas