Os cinco torcedores do Athletico-PR detidos após a briga entre torcidas organizadas próxima ao Alfredo Jaconi concordaram com a transação penal e terão que ficar afastados dos próximos 20 jogos do clube paranaense. Eles foram acusados de promover tumulto ou praticar violência, conforme o Estatuto do Torcedor. Além desta punição, a Polícia Civil de Caxias do Sul abriu inquérito sobre toda a confusão e, principalmente, uma tentativa de homicídio contra um torcedor de 44 anos do Athletico-PR.
Conforme a Brigada Militar (BM), a viagem da torcida paranaense não foi informada às forças de segurança. É de praxe que os clubes ou as próprias torcidas organizadas façam contato com a polícia da cidade do jogo.
— Sempre é informado o deslocamento e combinado um ponto de encontro para ter a escolta e condução até o portão certo (de entrada no estádio). É de praxe, todos clubes e torcidas sabem como funciona. Desta vez, não houve. Estes dois ônibus vieram por conta e risco. Não tínhamos conhecimento da vinda desta torcida — aponta o major Wagner Carvalho, subcomandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).
Esta falta de aviso é um dos indícios de que o ataque a sede da torcida organizada do Juventude, a Mancha Verde, foi premeditado. Os dois ônibus chegaram antes da abertura dos portões e os torcedores desembarcaram diretamente para a Rua Hércules Galló, onde houve a briga.
— Tínhamos uma guarnição no local, uma patrulha do Canil, que nos pediu apoio imediatamente. Essa torcida chegou de repente e logo aconteceu a briga. Deslocamos rapidamente para conter. Não estávamos preparados porque não havia esta previsão de chegada de torcida (do clube visitante). Inclusive, nas redes sociais não havia animosidade. Sempre fazemos este trabalho de inteligência, mas não tínhamos nenhum alerta para este jogo — explica o major Carvalho.
Após a confusão, os torcedores paranaenses foram proibidos de entrar no estádio. A torcida organizada do Juventude também não pode acessar o jogo com suas identificações e materiais. Os visitantes ficaram nos seus dois ônibus e os aproximadamente 80 passageiros foram identificados. Os cinco detidos são apontados como lideranças daquela torcida.
As imagens da briga mostram duas cenas mais fortes. Uma delas é um torcedor do Juventude sendo espancado. Este homem recebeu atendimento médico, mas teve apenas um corte na cabeça. Ele já prestou depoimento na Delegacia de Homicídio e não quis representar judicialmente contra os agressores.
A segunda imagem forte é de um torcedor do Athletico-PR desacordado na via pública. Ele sofreu um traumatismo craniano e ficou internado em observação em um hospital caxiense. A expectativa é que ele recebesse alta médica na tarde desta quinta-feira (9), após todos os exames preventivos. É sobre esta vítima que a Polícia Civil investiga uma tentativa de homicídio.
— Precisamos avaliar todo o contexto e individualizar a conduta de cada indivíduo. Há uma narrativa que esse torcedor estaria no grupo (de paranaenses) que tentou invadir a sede rival, onde inclusive haviam crianças, mas também há um excesso. Uma conduta que começou como uma legítima defesa e pode ter transposto a legalidade, em razão do excesso praticado. Por isso, iremos intimar os dirigentes desta torcida, a Mancha Verde — aponta o delegado Caio Márcio Fernandes.
A investigação é considerada complexa. O torcedor hospitalizado, informalmente, afirmou que não se lembra do ocorrido. Sobre as imagens, feitas a maioria a uma distância considerável com celulares, uma das dificuldades é que todos estão uniformizados, com roupas semelhantes, em referência as agremiações a que pertencem. No ponto de vista criminal, as condutas devem ser individualizadas.
— Houve uma briga generalizada, mas o ataque para aquela pessoa, quantos participaram? É preciso individualizar as condutas de cada um. Quem praticou uma tentativa de homicídio e quem não. Alguns podem ter cometido o crime de lesão corporal, mas não de homicídio tentado. São vários contextos que precisam ser investigados simultaneamente — explica o chefe da Delegacia de Homicídios.
Os torcedores do Athletico-PR deixaram Caxias do Sul ainda durante o jogo, pouco depois das 20h. Eles foram escoltados pela BM.