Dias após a eliminação na Série D do Campeonato Brasileiro, o gerente de futebol do Caxias, Ademir Bertoglio, concedeu entrevista ao programa Show dos Esportes, na Rádio Gaúcha Serra. O profissional admitiu que pode ter faltado mais qualidade à equipe no momento de decisão e ressaltou os acertos do trabalho realizado durante a competição. Além disso, falou sobre erros e também de um arrependimento por uma atitude cometida por ele.
Ademir Bertoglio foi questionado, na entrevista, sobre os problemas internos durante a competição e a dificuldade de gestão de crises que o Caxias enfrenta, como no episódio da vacinação do técnico Rafael Jaques, que ocasionou na saída do médico Rafael Lessa do clube. O dirigente deu sua versão sobre a história e garante que tudo isso foi uma situação pequena.
Confira a entrevista:
Avaliação de tudo que aconteceu e do insucesso
Em relação ao jogo, tivemos um bom primeiro tempo. Um jogo muito parelho, tanto nós quanto eles poderia ter feito o gol. Levamos o gol muito rápido no segundo tempo. O segundo gol foi num contra-ataque e o terceiro foi situação do jogo, porque os zagueiros se lançaram ao ataque para tentar descontar. Conversei com conhecidos de Natal e eles disseram que o ABC fez a melhor partida do ano. Faltaram detalhes, talvez mais qualidade e atenção nesse jogo final.
Acertos e erros
O erro e o acerto estão muito próximos. No futebol, se ganhou está tudo certo. Se perdeu, está quase tudo errado. Em cima disso, sabemos que montar uma equipe na Série D não é tão simples, porque é a última divisão do Campeonato Brasileiro. O orçamento menor não é o problema, e sim em que clube você está. Estamos no Caxias, que está na Série D, e seu maior rival está na Série A. Existe essa pressão e cobrança. Não é qualquer atleta que pode vestir a camisa do Caxias e ter um desempenho grande. Nós temos essas dificuldades e a questão financeira, às vezes, atrapalha para contratar jogadores de mais qualidade. Entre erros e acertos, ficamos a 45 minutos do acesso. Esperávamos ter conseguido, mas infelizmente não aconteceu.
Maiores acertos e principais erros
Difícil dimensionar o que foi de acerto. Eu vejo que teve atletas que chegaram ainda no ano passado na condição de composição de grupo. Um exemplo é o Erik, que chegou do Três Passos e jogou três partida no Veranópolis na Divisão de Acesso. O Matheuzinho, que estava há sete meses parado e tinha sido sub-23 no Figueirense. Esse tipo de atleta, que com o trabalho feito pelas comissões técnicas, conseguiu ter um rendimento muito bom e acabar a competição como titular. Demonstraram que têm condições de continuar. Quanto aos erros, eles acontecem. A gente faz o melhor para que tudo aconteça. Se a gente soubesse que daria errado, não faria.
Uma situação que eu diria que não faria de novo foi ter discutido com um torcedor, após um jogo. Nunca fui de bater boca com torcedor.
Arrependimento
Tem situações que precisamos tomar as decisões e botar a cara para bater mesmo. Uma situação que eu diria que não faria de novo foi ter discutido com um torcedor, após um jogo. Nunca fui de bater boca com torcedor. A gente sabe que isso toma uma dimensão, porque parece que eu briguei com a torcida do Caxias, e foi com uma pessoa. Isso eu posso me arrepender, porque não é da minha índole.
Ausência de um vice de futebol
A responsabilidade existe com ou sem vice de futebol. Não ter a figura de um vice não é uma escolha minha. Eu sou um funcionário. Foi o clube que optou por não colocar o vice de futebol, mas dentro do Caxias tudo é feito com muita clareza. Vou dar um exemplo de um contrato. Quando é feito um contrato com o atleta, eu faço o acerto com o jogador ou empresário, o presidente assina, o diretor financeiro assina, o atleta assina e a Monalisa, que preenche os papeis, assina. Tudo é feito com clareza. Ninguém esconde nada. Qualquer situação, nós conversamos. Sou um funcionário que, no dia a dia, tenho que mostrar minha capacidade. A questão do vice seria interessante o clube conseguir para dividir as funções e responsabilidade, e até para o próprio clube ter essa pessoa para se dirigir à imprensa e ao torcedor.
Assumir a culpa e preservar o clube
Estou há 30 anos no futebol e 12 nessa função. Eu tenho meu modo de ser. Vou sempre trabalhar e fazer o meu melhor. Vou continuar sendo assim, independente de me prejudicar ou não. Não estou pensando no Ademir, e sim no Caxias. O Caxias vencendo é o que vale. Enquanto estiver chegando próximo em determinado momento vai acontecer. O problema é quando não chega próximo. Estamos batendo na trave e daqui a pouco ela vai entrar. Trabalhando da maneira séria que o Caxias trabalha, vai chegar esse dia.
Gestão de crises
Isso é do meio do futebol. Não é só o Caxias, mas é a maioria do clubes. Os problemas chegam, às vezes, de maneira errada. Às vezes, as pessoas não pensam no Caxias, pensam no ego e viram assunto. Eu diria que nós tivemos alguns atritos, mas na reta final não teve nenhum fato que influenciou no time. Não subimos por questões do adversário ter sido melhor que nós, principalmente no segundo tempo.
Ego do médico do Caxias?
Eu não sei, a reclamação dele não teve problema. Para mim, ele nunca falou nada pessoalmente. Nunca me fez uma cobrança, nunca tivemos um problema. O que virou problema foi depois de uma declaração à imprensa e nem tudo era verdade. Tanto que o departamento médico e a vida do Caxias continuaram.
O Jaques errou, naquele momento, de não ter ido fazer a vacina imediatamente após o dia que estava liberado. Ele já sofreu a punição pública por tudo que repercutiu negativamente na profissão dele.
Quebra de protocolo?
Não teve quebra de protocolo, porque o Jaques ficou 20 dias fora e voltou no 22º dia. Temos que dar explicações de coisas que não fizemos. Naquele momento, não temos que ficar expondo mais o Caxias. Parece que o Caxias é um mundo que não tem ninguém, que não tem controle, e não é assim. Tem várias pessoas trabalhando muito e se doando diariamente. Naquele momento, não era certo conturbar mais o ambiente. A gente leva a culpa e segue em frente.
Vacinação de Jaques
O Jaques não ficou muitos dias fora do período de vacinação, após a idade dele. Ele foi duas vezes no postinho e estava fechado, tinha fila. Ele nunca foi contra a vacina, tanto que a família dele está toda vacinada e o filho viajou para o exterior e tomou a vacina. Eu mesmo, naqueles dias que aconteceu essa ladainha, nem estava no clube, porque eu fui o primeiro infectado, pós-viagem em Itajaí. Na sequência, ele pegou a covid. O Jaques errou, naquele momento, de não ter ido fazer a vacina imediatamente após o dia que estava liberado. Ele já sofreu a punição pública por tudo que repercutiu negativamente na profissão dele. Ao mesmo tempo, depois retomou a carreira e é um grande profissional.
Erro de comunicação
Quando ele (Jaques) voltou, ele disse que queria falar sobre futebol e evitar de falar sobre covid e vacina. Nós estávamos num momento muito delicado, que quase não classificamos e depois enfrentamos a Portuguesa e nós tínhamos a volta. Tinha várias perguntas sobre futebol e uma sobre vacina. Conhecendo Caxias do Sul, eu falei pro Jaques como funciona. O doutor perguntou quem já tomou a vacina e relembrou que o Jaques poderia tomar a vacina após o período da covid. No mesmo dia, eu relembrei o Jaques. O Jaques foi e fez a vacina. Ele foi pra coletiva sem saber as perguntas da coletiva. Quando foi perguntado, ele preferiu falar "próxima". Eu disse que ele tomou a vacina. Foi tudo muito rápido. Ele estava vacinado. Ele fez a vacina e ninguém mais tocou no assunto. Nesse meio tempo, não falamos mais com ele e com o doutor, porque estávamos falando do jogo. Como era algo rotineiro, ele foi e fez, nós não achávamos que precisava comunicar que foi vacinado. Aí deu toda uma celeuma e transtorno por conta de uma coisa pequena. O doutor também não me perguntou. Esse assunto nunca chegou no vestiário e seguiram a vida. Cada dia nesse momento, nosso grupo se fortaleceu com os resultados de campo, que é o mais importante.
Dificuldade na primeira fase gera adversários mais difíceis
A Série D é um campeonato diferente. Não são mais seis jogos como antes. Agora, são 14 jogos. Não só o Caxias, mas outras equipes oscilam. Esse ano, teve atletas que chegaram na semana de estreia. No segundo turno oscilamos pós-saída do Jaques e covid dos atletas. Mesmo com a pior campanha do grupo, fomos a que mais chegamos longe. É uma competição muito traiçoeira.
Jaques continua se Ademir ficar?
A escolha do treinador não é uma atribuição exclusiva do gerente. Eu posso conversar e estar junto, dar minhas opções. É um cargo de confiança do presidente. Eu sei que o Jaques fez um bom trabalho. Não acertou tudo, mas não errou tudo. No final da primeira fase e no mata-mata conseguiu dar um padrão para a equipe e criar um sistema para nossa equipe ficar segura. Só lembrando, que o Jaques disputou a Série D com o São José e subiu, a Série C perdeu no último mata-mata e agora com o Caxias caiu na última fase. Alguma coisa de bom ele tem.