O Caxias não vence há quatro jogos no Campeonato Brasileiro Série D e viu a classificação para a próxima fase da competição ficar ameaçada, com os adversários diminuindo a diferença de pontos para o G-4. A queda de rendimento veio justamente no período em que o técnico Rafael Jaques teve que se ausentar por conta do coronavírus, com um quadro que necessitou internação. O fato do comandante não ter se vacinado, mesmo tendo idade para tal, gerou desconforto com o Departamento Médico.
Na sequência, sete atletas também tiveram que se ausentar por conta da doença. Prevendo a frustração de permanecer na Série D por mais um ano, esses fatos elevaram o tom de cobrança do torcedor grená com o que tem acontecido no Estádio Centenário, exigindo mudanças na comissão técnica e na gerência de futebol. A decisão do presidente Paulo Cesar Santos e seus vices foi de não correr riscos financeiros e de manutenção dos profissionais, acreditando na remobilização para as rodadas restantes.
Nesse período de turbulência, um dos mais cobrados é o gerente de futebol Ademir Bertoglio, que trabalha no clube desde o final de 2019. Em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra, ele respondeu aos questionamentos sobre como o Caxias pretende elevar o desempenho da equipe para a sequência da Quarta Divisão, a sua discussão com um torcedor após a derrota para o Esportivo, os prejuízos da ausência de Rafael Jaques, o fato do treinador não ter se vacinado e a perspectiva de reforços.
ATITUDES APÓS A DERROTA PARA O ESPORTIVO
— Estamos remobilizando o grupo com cobranças internas. Já havia tido a cobrança na semana anterior, e os atletas são conscientes de que podem melhorar. Esse rendimento só vai voltar a existir a partir do momento que tivermos uma postura melhor no dia a dia, nos trabalhos e treinamentos. Não é só o atleta que entra em campo, é hora do homem assumir a responsabilidade. A queda de rendimento acontece no futebol e quem pode nos tirar dessa situação somos nós mesmos. Teve equipe que trocou de treinador e não mudou nada, outras mudam. Então o futebol tem essa variável, de conseguir dar volta em uma situação negativa como essa.
DISCUSSÃO COM UM TORCEDOR
— Estou há dois anos no Caxias e nunca tive problema com torcedores. No sábado (14) de manhã, estava no pátio conversando com torcedores. Na reunião do Conselho Deliberativo eu também participo para tirar dúvida dos torcedores. Esse caso foi uma discussão esporádica. Ele me xingou, eu xinguei ele. Nada demais. Hoje vazaram meu telefone e meu CPF. Mas isso faz parte do futebol. Eu cheguei ao Caxias em 1991 e joguei 10 anos. Estou entre os atletas que mais jogaram e saí com o clube na Série B. Sempre fui um jogador com limitações, mas o torcedor nunca pode me cobrar uma gota de suor e o sangue dentro do campo, pois sempre dei meu máximo. As críticas fazem parte do trabalho. Quando as coisas vão bem, as contratações são certas. Quando as coisas dão erradas, as contratações são erradas. Agora trouxemos cinco ou seis que estavam na Série B ou C para jogar a D. Houve momentos em que a equipe se ajustou, em outros momentos não, junto com os casos de covid-19 que acumularam no momento decisivo.
CELULAR VAZADO NAS REDES SOCIAIS
— Vazaram meu número para a torcida em um Facebook e umas 10 pessoas que mandaram mensagem, mas acabei nem lendo. Não sei de onde são direcionadas essas mensagens. Eu estou todo o dia trabalhando e as portas da minha sala estão abertas para conversas, para contestar, reclamar e ajudar. Nós também precisamos de pessoas que nos ajudem, pois nossa torcida é participativa e sempre ajudou. Depois da sequência de resultados apertados no ano passado, nós nos classificamos na última rodada e a torcida foi nos apoiar antes dos jogos decisivos com o Mirassol. Por isso eu repito: a minha discussão foi com apenas um torcedor, mas isso não representa minha conduta com a torcida do Caxias.
ENTREVISTAS COLETIVAS
- Eu falei que nós, no primeiro tempo, tivemos algumas jogadas com posse de bola. Mas não fomos efetivos, sem entrar na área e caprichar no último passe. Isso é esconder alguma coisa? Não escondi em nenhum momento. Ainda disse que no segundo tempo fomos de forma desordenada. Isso eu falei, acho que ficou nítido para todo mundo. A gente não vai agradar todo mundo. Outro dia minha cara está triste, outro dia estou com sangue no olho. Isso é secundário. Nós temos que ganhar os jogos. Não sou artista, animador de público. Eu estou ali para fazer o trabalho que tem que ser feito. E o futebol não é o que eu falo, é o que as pessoas entendem o que eu falei e para onde querem conduzir a minha fala. Outra situação é das coletivas virtuais que ficaram muito ruins. Nesse momento da pandemia, os assuntos não terminam.
AUSÊNCIA DE JAQUES
— O pessoal tem respeito pela comissão técnica, Célio (Pretto, auxiliar), Anderson (Lazari, preparador físico) e Agnaldo (Silva, preparador de goleiros), como do mesmo modo com o Jaques. Claro que a presença do comandante ela é importante. A gente vê comissões técnicas com 15 ou 20 trabalhando, e nós no Caxias temos uma equipe reduzida. Com também a ausência do Éder (Chaves), analista de desempenho, acabamos perdendo 20% da equipe de trabalho. É um pouquinho de cada coisa negativa que acaba atrapalhando, mas isso não é desculpa. Temos que voltar a vencer diante do Cascavel, que é o líder e melhor equipe da competição. Colocar a cara a bater e ir em busca do resultado.
TREINADOR NÃO SE VACINOU
— Eu vou falar da minha situação. Eu tomei a vacina e peguei a covid. Esse ano, só o um funcionário tinha pego. Nós conversamos diariamente sobre a vacina, e o Jaques iria fazer. Nos dias que ele era para se vacinar, nós começamos com os jogos-treinos com os times da Divisão de Acesso. Nós jogamos pela Série D no final de semana, segunda ou terça tinha os jogos-treino e na quinta já estávamos viajando. Hoje você não sabe qual é a vacina, qual o tipo de reação. Dependendo do sintoma, não participa do treino. Essa situação foi cobrada e, infelizmente, houve essa fatalidade. Mas não podemos jogar para ele a culpa, tanto que eu peguei primeiro. Foi uma questão pessoal dele. Ele disse que ia fazer, mais do que isso eu não posso. Eu tenho 48 anos e fui fazer no dia certo. Não teve desleixo da parte do futebol.
FALTA DE REPOSIÇÃO PARA TONTINI
— O camisa 10 específico está quase em extinção no futebol mundial. O Diogo Oliveira fez alguns jogos bons, outros nem tanto e foi buscada uma mudança de esquema para suprir a necessidade desse jogador, quando jogamos com 3 volantes e 3 atacantes. Fomos buscar atletas para suprir em outras situações, porque hoje na Série D não tem.
RENDIMENTO DE DIOGO OLIVEIRA
— Houve jogos do Gauchão desse ano que ele elevou o nível, depois teve uma virose e caiu de rendimento, tanto que o Tontini entrou no time. Na Série D, ele começou como titular, depois o Jaques optou por outras situações de jogo. No sábado, ele jogou os 90 minutos e não faltou entrega. É um jogador muito experiente, referência no futebol. Hoje se faz um contrato com os atletas por tempo determinado. Ele já jogou mais e sabe disso, pois é um cara que se cobra todo o dia. Como outros atletas que estão tentando essa retomada.
NOVOS REFORÇOS
— Eu espero que possamos fazer um resultado no sábado que nos encaminhe para a classificação. No ano passado, deixamos para contratar quando nos classificamos. Hoje, a nossa ideia era estar em uma situação melhor para poder se reforçar. Agora precisamos de um resultado positivo para ter perspectiva de estar classificados, pois não podemos contratar jogadores para dois jogos, já que o mínimo de contrato é de três meses.