A temporada 2020 do futebol brasileiro foi atípica. Devido à pandemia do novo coronavírus, as competições foram paralisadas e retornaram meses depois. O calendário ficou mais apertado, os atletas tiveram um período de 100 dias de inatividade e, com isso, ficaram mais propensos às contusões. A CBF projetou que 2020 seria um ano com recorde de lesões, pelo menos nas últimas cinco temporadas, devido ao desgastante do ritmo de partidas.
Entretanto, o Juventude conseguiu fugir dessa lógica através de um trabalho equilibrado e integrado entre a preparação física, fisiologia e do departamento médico do clube.
— No início, quando voltamos, foi uma fase muito delicada. Os atletas estavam há mais de 90 dias inativos. Alguns relatam que treinaram por conta, outros com personal. Foi um período crítico e eles sentiram demais o retorno. Três meses de inatividade, praticamente três anos, porque eles normalmente tem 30 dias de férias. Esses 90 dias são equivalentes a férias de três anos. Alguns atletas sentiram bastante. Foi um período crítico para a preparação física para tentarmos minimizar os riscos de lesão. O Juventude vinha de um primeiro semestre com índice de lesão alto — comentou o preparador físico Gian Oliveira.
Os quase quatro meses sem treinamentos e a retomada das competições em um calendário muito apertado exigiu um trabalho intenso para minimizar as lesões musculares dos atletas. E esse planejamento colocado em prática deu certo. O Juventude teve, durante a Série B, 14 lesões entre musculares e articulares. Somente duas lesões musculares de grau 2. Um número considerado baixo. Esse índice pequeno de contusões na temporada, certamente, foi um dos pilares no acesso à Série A. Além disso, houve poucos casos de jogadores preservados, mesmo com a intensa carga de jogos em um curto espaço de tempo.
— Nós tivemos, no início, duas lesões musculares de grau 2, de atletas que não estavam atuando. Esses atletas praticamente não jogaram na temporada. Tivemos desconfortos, que não eram lesões. No final, tivemos duas ou três de grau 1 que o tempo de recuperação foi numa média de sete dias. Se pegarmos os números, a gente revezou muito pouco e tínhamos um grupo com uma média de idade bem elevada. Eu tenho os dados de todos os jogos para mostrar como nossa equipe correu bem. Um exemplo, nosso volante João Paulo, com idade elevada, fazia uma média de 13 km todo o jogo — analisou Gian, que completou:
— Vem sendo trabalhado juntamente com o departamento médico, a fim de avaliar, analisar, junto com nosso departamento de fisiologia, através dos controles de carga para na menor possibilidade ou risco de lesão, a gente tomar algum tipo de providência. A gente tinha alguns indicativos, agora para nós conseguirmos tirar um jogador de um jogo, por exemplo, tinha que ter muitos indicativos que apontassem uma lesão. O João Paulo, por exemplo, contra o Operário-PR, ele foi poupado, porque os indicativos foram grandes. Em poucos casos houve a necessidade de poupar jogadores. Esse trabalho é fruto de uma pré-temporada bem feita. A gente corria risco de ter várias lesões, principalmente pelo tempo de inatividade e pela carga de treinos. Tentamos trabalhar eles para jogar a cada três dias e eles estavam há três meses parados. Esperamos repetir essa dose de sucesso neste ano.
Segundo Michel Vigo, responsável pelo departamento médico do Juventude, essa integração maior entre os setores ajuda no baixo número de lesões:
— A gente tentou fazer uma integração maior entre todos os setores como a preparação física e fisiologia. Além disso, tentamos avaliar os atletas como um todo e buscando acelerar a recuperação de onde houve lesão. Tivemos bastante cuidado, principalmente com a preparação física, porque a pandemia prejudicou bastante. A gente teve algumas lesões, o que era esperado e normal. A integração da equipe, sempre buscando diminuir o número de lesões e acelerar aquelas que aconteceram.
Esse baixo índice de lesões, numa temporada tão atípica, representa que o Juventude está entre os clubes do futebol brasileiro que menos enfrentaram esse problema em 2020. Mesmo com a sequência de jogos em um curto espaço de tempo, o trabalho foi feito e realizado com sucesso.
— Acredito que seja, entre todas as séries, um dos clubes com menos lesões. Até arrisco dizer que foi o clube que teve menos atletas machucados com lesões muscular. Lesões de trauma, tivemos duas que foram o Samuel Santos e o Wagner, mas essas não tem como prever e prevenir. Fora isso, uma das chaves do sucesso foi não perder jogadores machucados e ter quase todo o plantel à disposição — afirmou o preparador físico.
Um exemplo que comprova o trabalho da preparação física, fisiologia e departamento médico é o meia Renato Cajá, 36 anos, destaque do acesso. Ele participou de 34 dos 38 jogos do Juventude na Série B. Um atleta com idade elevada, mas com alta intensidade e sem lesões, mesmo com um histórico recente ruim.
— Quando fui contratado pelo Juventude, fui buscar informações a respeito dele. O pessoal da Ponte Preta me falou que na última passagem dele, ele se machucou e teve algumas lesões. Inicialmente, nós precisávamos colocar ele numa forma atlética. O Cajá perdeu peso, aumentou a massa muscular. Por incrível que pareça, ele era o jogador mais intenso da nossa equipe. Ele não percorria longas distâncias, mas quando percorria era em intensidade alta. Um jogador com a idade dele, jogou quase todos os jogos e sendo decisivo, foi excelente — comentou Gian.
Tecnologia e trabalho do departamento médico
Durante a Série B, o Juventude teve poucos problemas com lesões, mas algumas importantes. Na 32ª rodada, o atacante Rafael Grampola retornou de lesão, antes do período estimado e marcou o gol da vitória contra a Ponte Preta, 2 a 1. O atacante Capixaba estava praticamente fora dos jogos finais da Série B. No entanto, o departamento médico do Ju conseguiu, em rápido trabalho, colocá-lo em condições e ele retornou na última rodada da Série B contra o Guarani.
Segundo os fisioterapeutas do Juventude, Jean Michelon e Ricardo Finger, em 2020, a direção investiu na modernização da fisioterapia e equipamentos e isso ajudou no tratamento de várias lesões.
— Nos tivemos um baixo número de lesões, pela interação entre departamento de saúde e com o departamento físico, sendo elaborado um trabalho preventivo para evitar lesões na Série B. A rápida cura dos atletas se deve ao investimento realizado pela direção do Juventude que modernizou o setor de fisioterapia com aparelhos de ponta, usados por grandes clubes — afirmou Jean Michelon.
Agora, a preparação física também deve ter mais um incremento em materiais para melhorar o trabalho.
— Agora que subiu, existe a possibilidade de trocarmos nossa academia, melhorar muito nosso departamento de preparação física e quanto à fisiologia, nós temos o controle de CK, que é uma enzima que apresenta o dano muscular, nós temos uma câmara de termografia, que monitora áreas de calor para ver uma área mais quente que a outra e os motivos. Temos também o monitoramento de carga interna. Na Série A, estamos fazendo levantamento de outras necessidades e provavelmente o clube vai melhorar a parte de preparação física e fisiologia — finalizou o preparador físico, Gian Oliveira.