Ex-zagueiro do São Paulo e da seleção uruguaia, e atual dirigente do clube paulista, Diego Lugano esteve na Serra Gaúcha nesta quarta-feira (28). Investidor em um hotel em Antônio Prado, ele concedeu entrevista ao Jornal Pioneiro, relembrou confrontos com o Juventude, a oportunidade em que quase jogou no Rio Grande do Sul e falou sobre a possibilidade de tornar-se treinador.
Leia mais:
Investidor em hotel de Antônio Prado, ex-jogador Diego Lugano visita a Serra
Saiba quem é o ídolo da seleção do Uruguai que está investindo na Serra
CONFRONTOS COM O JUVENTUDE
Lugano defendeu o São Paulo de 2003 a 2006 e, depois, em 2016 e 2017. Neste período, enfrentou o Juventude em sete oportunidades, seja por Campeonato Brasileiro ou Copa do Brasil. Quatro desses confrontos foram na Serra Gaúcha.
— Fiz um gol aqui, no ano de 2005. Tínhamos jogado domingo, em Fortaleza, com 40ºC, e quarta-feira de noite aqui, um frio. Isso só acontece no Brasil, de 40ºC a 0ºC — relembra Lugano.
O jogo que ele se refere é a vitória do Juventude, por 2 a 1, sobre o São Paulo, no dia 31 de junho de 2005, pelo Campeonato Brasileiro. Na ocasião, Lugano marcou o gol paulista aos 35 minutos do segundo tempo e foi expulso aos 49.
Outro confronto que o ex-zagueiro relembrou foi o jogo do dia 22 de setembro de 2016, pela Copa do Brasil. Na ocasião, o Juventude havia vencido o jogo de ida por 2 a 1, no Morumbi. Em Caxias do Sul, o São Paulo venceu por 1 a 0, mas não foi o suficiente:
— A última (partida) foi em 2016, desclassificação na Copa do Brasil. A gente ficou fora — relembra.
GRATIDÃO
Na carreira, além da Seleção Uruguaia e do São Paulo, Lugano passou pelo PSG-FRA, Cerro Porteño-PAR, Nacional-URU e Fenerbahçe-TUR, entre outros. O ex-zagueiro lembra alguns nomes que foram importantes durante seu percurso no futebol.
— Muitas pessoas, como qualquer profissão. Você, quando começa, tem que estar no lugar certo, na hora certa e com a pessoa certa. Tem que coincidir todas as estrelas, para que dê certo. Futebol especialmente é isso, oportunidade de você estar preparado. Então, sempre tem treinador, tem algum amigo que recomenda. Enfim, no Uruguai, o Diego Aguirre foi o treinador que me viu pela primeira vez. Graças a ele eu cheguei ao São Paulo, com 20 anos. No São Paulo, tinha um presidente, Marcelo Portugal Gouvêa, que me trouxe sem me conhecer, nunca me viu jogar, nunca viu nem uma foto minha. Me trouxe pela confiança em Aguirre. Depois, depende de mim, obviamente, para dar certo — relembra Lugano, que também agradece ao Brasil:
— Sou muito grato ao São Paulo e ao Brasil por tudo o que me deu. Como sempre digo, recebi muito mais do que dei e do que posso dar.
QUASE JOGOU NO RS
No ano de 2012, Lugano quase vestiu a camisa do Grêmio. O presidente do Tricolor, Fábio Koff, entrou em conversações com o atleta junto com o diretor de futebol da época, Rui Costa:
— Eu estava no PSG e o Grêmio estava saindo daquela situação complicada, da Segunda Divisão. Teve um jogo eliminatório em Montevidéu, contra o Equador. Um dia antes ou dois, chegou a delegação do Grêmio para fazer uma proposta, que era muito boa. Mas, principalmente, o que me chamou, que me balançou, foi que o Rui Costa, que era diretor esportivo naquela época, estava implantando uma nova etapa, um novo estádio, nova direção, e eles queriam uma imagem forte, um líder. Eu disse para ele: "mas eu não tenho nada a ver com o Grêmio, eu sou São Paulo, sou uruguaio, por que eu?". Aí ele me contou que fizeram uma enquete com os torcedores, de quem deveria ser essa figura, e 85% falaram que teria que ser Lugano. Aquilo me surpreendeu, porque futebolisticamente eu não tinha nada a ver com o Grêmio — conta Lugano.
No entanto, a resposta dele foi negativa, em decorrência do carinho e da promessa que havia feito a torcedores de outro clube tricolor: o São Paulo.
— Naquele momento, eu fiquei muito surpreso, muito grato e só não tomei a decisão de vir, por causa do São Paulo, porque eu fiz a promessa para a torcida de que se voltasse para a América do Sul seria para o São Paulo. Bom, como bom uruguaio, tenho mil defeitos, mas tenho palavra — expõe.
ATLETA x DIRIGENTE x TÉCNICO
Como zagueiro, Lugano se aposentou em 2017. No ano seguinte, foi anunciado como dirigente do São Paulo, onde permanece até hoje. A função atual é tida por ele com mais complicada:
— É muito mais difícil ser dirigente. Para mim, é muito mais difícil, por muitos motivos. Ser jogador, no vestiário, é muito democrático. Normalmente, quem tem mais personalidade, mais carisma, mais respeito entre os companheiros, impõe. Já a direção é política, é hierarquia, é ter que engolir sapo todo o tempo. No vestiário, normalmente, se fazia o que eu queria sempre, porque eu convencia. O clube e a seleção giravam em torno do que eu pensava, muitas vezes. Como diretor, não consigo fazer isso, porque tem hierarquia e você tem que respeitar mesmo estando em desacordo.
Lugano conta que possui curso de treinador, mas que, no momento, não pensa em exercer a função:
— Todo mundo quer que eu seja técnico, inclusive no São Paulo e no Uruguai. Mas ser técnico hoje tem uma carga emocional e também de tempo. O futebol te consome tempo, consome paixão, você está muito visível, você deixa de viver muita coisa. Treinador é pior, você tem que ficar mais tempo, mais exposição, a mesma rotina todos os dias: viagem, concentração, resultado, imprensa. Hoje, neste momento, não tenho paciência.
CORONAVÍRUS
Atualmente, no Brasil, já são mais de 158 mil mortes em decorrência da covid-19. Desde março, quando a pandemia começou no país, além das vidas perdidas, diversos setores foram afetados. Um deles foi o futebol.
— Eu acho que o Brasil, como muitos países do mundo, tem utilizado da pandemia de forma política. São Paulo chegou a ser vergonhoso a forma que se chegou a usar a pandemia publicamente para gerar pânico, gerar desinformação, liberação de verbas nos Estados, em prefeituras, sem um tipo de controle. Na verdade, é lamentável — falou Lugano, que completou:
— Esse ano serviu para muita coisa, para ver quem realmente acredita na liberdade da pessoa, para que o cidadão também saiba fazer uso dessa liberdade sem prejudicar o próximo. Quem utilizou essa pandemia para roubar, porque isso aconteceu em toda a América. Em São Paulo foi escandaloso. E quem utilizou essa pandemia para méritos políticos.
PRECONCEITOS NO FUTEBOL
Desde que o mundo é mundo, há preconceito. Seja racismo, homofobia, machismo, xenofobia etc. As entidades esportivas estão punindo clubes e torcedores por atitudes que representem discriminação. Então, perguntamos ao ex-zagueiro Lugano qual a opinião dele a respeito do tema:
— Eu acho que quanto menos você fale, menos tome bandeiras, menos tenhamos grandes manifestações e você haja com mais naturalidade, melhor para todo mundo, para ter menos preconceito, menos racismo, o que seja. Eu acho que hoje ninguém questiona se for homossexual ou não, também tive companheiros que sabemos que eram homossexuais, mas não ficavam se expondo, levantando bandeiras e forçando ser diferentes. Totalmente correto, normal. E tenho um respeito absoluto, porque se alguém vai no vestiário e quer começar a atuar diferente no meio onde todos somos iguais, muçulmanos, islâmico, católicos, pretos, brancos, chinês, amarelo, tudo igual. Somos iguais — ele completou:
— Falo isso não somente de homobofia. Culturamente, no vestiário, convive o filho do presidente com o filho narcotraficamente da favela. São iguais. Agora, se o filho traficante quer impor que traficar droga é bom, aí, para mim, não há uma bandeira maior do que a outra. Isso é politicamente correto, tá na moda.
Ouça a entrevista na íntegra: