Aloir Neri de Oliveira ou somente Dr. Aloir. Este senhor de 68 anos é um dos personagens mais emblemáticos da história do Caxias, sem nunca ter entrado em campo para jogar uma partida oficial. Ainda assim, esteve em inúmeros desses jogos, principalmente em alguns dos momentos mais importantes dos 85 anos de história do clube grená: as finais de Gauchão, em 2000 e 2012. Lá se vão 46 anos dedicados ao clube do Estádio Centenário e uma coleção de boas histórias - até aquelas de invasão ao gramado.
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Só que a terceira final de Gauchão do Caxias - o vice de 1990 veio por um quadrangular -, será diferente para o médico que viu o título estadual de 2000 ao lado do amigo e técnico Tite no banco de reservas. Ou da decisão de 2012, quando o clube tomou a virada do Inter no Beira-Rio. Dentro de uma normalidade, Aloir estaria, no mínimo, nas arquibancadas acompanhando esses embates diante do Grêmio. Porém, a pandemia atrapalhou e nesta quarta (26), a partir das 21h30min, ele vivenciará uma experiência diferente.
— Vou assistir da minha casa, não estarei lá. Eu sou de (grupo de) risco, né? 68 anos. Tudo programado para assistirmos na TV e torcendo de casa — comenta o médico.
Figura conhecida do Centenário e de quase todos que acompanham o futebol no Rio Grande do Sul, Aloir de Oliveira começou a trabalhar no Caxias em 1974. Não faltam momentos marcantes, mas é inegável que em 2000 foi diferente. Além do clube conseguir o maior título da sua história, conquistou algo ainda mais importante, que é o respeito dos grandes da Capital.
— Antigamente a dupla Gre-Nal tinha receio de jogar com Caxias e Juventude aqui. Com o passar do tempo, isso foi acabando e eles começaram a passar por cima. Em 2000, a gente observou que eles estavam respeitando mais o Caxias — recorda Aloir.
Esse capítulo é confirmado por uma peculiar história que envolveu o segundo jogo da final daquele certame. A partida foi adiada porque o gramado do Estádio Olímpico não tinha condições de jogo, devido a chuva que ocorrera em Porto Alegre.
— Descobrimos depois que eles tinham trancado a drenagem. Eu e o Tite pegamos o meu carro naquele dia e fomos no Beira-Rio. Lá o gramado estava seco. Era o Paulo Pelaipe (o diretor de futebol), sempre foi muito esperto, eu conhecia ele do futsal, e na realidade o jogo foi suspenso porque eles trancaram a drenagem. O jogo foi para quarta-feira e desmobilizou um pouco. Mas, mesmo assim, não tinha como, nosso time estava muito focado — lembra o médico.
CONTRA A LÓGICA
Entre as duas finais vivenciadas de dentro do gramado, 12 anos se passaram. Aloir chegou a ficar longe do Caxias por quatro temporadas - no início do mandato de Osvaldo Voges na presidência -, mas estava novamente no clube e no campo para a final de 2012. Um vice-campeonato que se pode explicar pela enorme diferença de condições financeiras entre o futebol da Capital e do Interior acumulado no período. Algo que perdura até hoje e faz parte do contexto desta final entre Caxias e Grêmio em 2020.
— Sempre foi muito grande a diferença. Agora, perdemos seis jogadores por não ter como manter eles. O Grêmio está com ritmo de jogo, perdeu uns jogadores e tem reposição. Não muda tanto — considera Aloir.
Só que o futebol é feito principalmente de superação. Talvez seja a única modalidade que ainda consegue permitir que os menores surpreendam constantemente. Quando a diferença técnica é grande, há que se combater de outra forma.
— Eu convivi muitos anos com essa diferença de qualidade, mas muitas vezes houve surpresas. Eu espero essa grande surpresa aqui no Centenário. Afinal, a decisão para o Caxias será aqui no Centenário — afirma.
Por mais que o favoritismo seja todo gremista, por todo o contexto que chegam as duas equipes, onde um está embalado por uma sequência de jogos invictos e outro sem atuar há praticamente um mês, Aloir é simples quanto ao sentimento de grande parte da torcida nesta quarta-feira:
— Eu tenho esperança. O sangue é grená.