Em um momento onde o futebol feminino tenta mudar o seu status no Brasil, é importante valorizar quem iniciou essa história. Ou, pelo menos, contribuiu para esse crescimento.
Aliás, o que você estava fazendo em 1982? Márcia Tafarel, à época com 14 anos, estava lutando para que as mulheres fossem respeitadas dentro das quatro linhas. Antes mesmo do termo feminismo disseminar-se, ela já o praticava, com o incentivo da mãe, Marlene.
Jogadora de futebol por 27 anos, Márcia iniciou a carreira logo após o decreto-lei 3.199 (de 14 de abril de 1941) ser revogado. Ele proibia as mulheres de praticarem todo esporte considerado masculino, o que incluía o futebol. Ingressando na área, ela foi uma das pioneiras e teve que enfrentar muito preconceito para ser respeitada dentro e fora das quatro linhas.
– O início da minha jornada foi bem difícil, em decorrência do preconceito que tinha. E, quando eu falo disso, me refiro a todo preconceito, inclusive dentro da minha família, tradicional gaúcha, com descendência italiana e com princípios rígidos em relação à educação. Então, escutava muito que futebol não era para menina. Mas recebia muito apoio da minha mãe e do meu avô Antonio Tafarel, meus dois grandes incentivadores – conta.
Pioneirismo no futebol feminino
Como foi uma das primeiras atletas de futebol da Serra Gaúcha, Márcia desbravou novos caminhos para que as gerações posteriores enfrentassem o machismo em proporções menores.
— Quando nós íamos jogar no interior do Rio Grande do Sul, sabíamos que passaríamos por todo tipo de discriminação. As coisas que escutávamos fora do campo eram muito graves e pejorativas. Então, para mim, foi um processo muito difícil, mas a minha mãe sempre me incentivava, dizendo que estávamos enfrentando isso para que as futuras gerações não sofressem — desabafa a ex-atleta.
No entanto, Márcia tem dúvidas sobre a compreensão das novas gerações em relação a esse pioneirismo. Segundo ela, é difícil fazer com que as novas jogadoras entendam tudo que precisaram desbravar para ter espaço dentro das quatro linhas:
— Hoje, as meninas já tem uma estrutura melhor. A luta delas é para ganhar mais, ter melhores condições e isso também é um pioneirismo. A gente, infelizmente, briga com uma coisa que está enraizada na nossa cultura: o machismo. Então, precisamos crescer como sociedade e entender que todo mundo tem um valor, sem achar que os homens são superiores.