Após a tragédia climática de maio destruir plantações em diversas regiões do Rio Grande do Sul, os meses de junho e julho também vieram com desafios aos produtores. De acordo com o extensionista rural da Emater em Caxias do Sul, Alex Klein, dias nublados, de pouca irradiação solar e com baixas temperaturas afetaram principalmente as hortaliças de curto tempo de desenvolvimento. Segundo ele, a estimativa, feita com base em visitas a campo, é de uma redução de 30% nessas produções esperadas para o período.
Ele explica que os principais problemas foram com as folhosas, como a alface, que no inverno demora um tempo entre 50 e 60 dias para se desenvolver, junto com a rúcula, chicória e temperos. A segunda quinzena de junho e a primeira de julho foram os períodos mais delicados, conforme ele.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os meses de maio, junho e julho são os que têm o menor número de horas de insolação na escala anual na região. No quinto mês do ano, Caxias do Sul teve 101,4 horas de insolação, sendo que a média é de 156 horas; em junho foi de 135,6 horas, quando a média é 140 horas; nos primeiros 17 dias de julho foram 32,7 horas sendo que a média mensal é de 156 horas. Além disso, maio registrou um volume de 845,3 mm de chuva, sendo que o esperado era de 131mm, e em junho foram 311,3mm, quase o dobro da média.
— Praticamente ficamos um mês com bastante chuva e céu nublado e, com isso, a planta diminui a atividade de fotossíntese: ela produz menos e se desenvolve menos, praticamente fica paralisada no campo e demora mais pra chegar no mercado.
Para os meses de agosto e setembro, ele acredita que a situação deva melhorar em Caxias do Sul, principalmente nas produções de folhosas de ciclos curtos. Depois, ele prevê uma melhora em produções como beterraba, cenoura, brócolis e couve-flor, que tem ciclos maiores.
Conforme a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, Bernadete Boniatti Onsi, a pouca presença do sol nos últimos meses atrasou o replantio de alguns cultivos na região, e fez com que os produtores rurais tivessem dificuldades para acessar as lavouras.
— Teve uma retomada do plantio, só que em função de pouca luminosidade, pouco calor, pouco sol mesmo, as plantas não se desenvolveram. Nesses meses de junho e julho até teve perdas, mas não foram muito significativas. O que não aconteceu foi o desenvolvimento das culturas, das plantas, da pouca luminosidade, do frio, excesso de umidade, que é normal do inverno — explica Bernadete.
Na manhã desta terça-feira (30), o produtor rural Vanderlei Fenner estava no bairro Kayser, na Zona Sul, para vender os produtos cultivados em Santa Lúcia do Piaí, no interior de Caxias. No inverno, o carro-chefe são as frutas cítricas e, no verão, o pêssego, a ameixa e a maçã. Ao longo do ano, brócolis, couves-flores, alface e repolho também são cultivados por ele e pela família.
— Lavou bastante as terras (a chuva de maio). Deu bastante produção, mas tudo ficou a metade do tamanho ou até menor. A couve (flor), o brócolis, tudo menor. A chuva lavou os nutrientes da terra e judiou a raiz, e daí ela fica assim (menor). Mas vendemos bem porque estavam em falta — detalha o produtor.
São Francisco de Paula com perdas desde maio
As perdas desde maio em São Francisco de Paula no agro já superam os R$ 150 milhões, conforme a secretária municipal de Agricultura, Marione Medeiros Marques.
Quando a tragédia climática atingiu o Estado, a colheita das olerícolas já estava na etapa final. No entanto, ela acredita que houve uma perda de 6,5 mil toneladas, cerca de 70% do que faltava colher na cidade. As mas atingidas foram as produções de brócolis, repolho, beterraba cenoura e couve-flor. Ela ainda acredita que podem ocorrer problemas na pecuária de corte nos próximos meses:
— A pecuária de corte pode ter uma perda maior porque a chuva aconteceu bem na época que as pastagens tinham que receber sol para se desenvolverem. Quando o produtor começar a retirar o gado da lavoura, em agosto e setembro, veremos mais estragos.
Sol é esperança para os produtores de Nova Petrópolis
A umidade do solo e a baixa quantidade de horas de sol também prejudicaram produções em Nova Petrópolis. Dados apontam que a insolação foi de apenas 32 horas na primeira quinzena de julho, quando a média é de 85 horas. Em maio, foram 845 milímetros de chuva na cidade, seis vezes mais do que a média normal, e em junho a chuva foi quase o dobro. Na localidade de Tirol, os produtores rurais aguardam por dias seguidos de sol para que as produções de hortaliças se desenvolvam, como o é o caso do Maiquel Pellenz.
— Devido à falta de sol e muita umidade do solo, ela não desenvolve porque não cria raízes. Eu tentei melhorar a terra depois da enchente de maio, fiz o máximo com adubo orgânico, o convencional, o preparo, tentei fazer do jeito que deu para melhorar, mas não teve como, ela não desenvolve — comenta Pellenz.
Para outros cultivos, os produtores também esperam por mais dias de sol para o desenvolvimento, como é o caso da Irene Schneider, que cultiva aipim às margens do Rio Caí, em Nova Petrópolis.
— Começamos o plantio no final de setembro, (início) de outubro, aí seria muito bom se tivesse bastante sol para secar a terra. Assim como ela está agora não tem condições de lavrar, plantar, está muito molhado — afirma a produtora rural.