Cortado pelo Rio Caí, o município de Feliz está dividido desde que a prefeitura optou por reformar a histórica Ponte de Ferro trazida da Bélgica em 1900. O pilar sul foi danificado pela enchente, que atingiu a cota recorde de 14 metros em maio.
A principal ligação entre o Centro, o bairro Matiel e as localidades de Escadinhas e Coqueiral tem a travessia permitida apenas para pedestres desde a última semana. O trânsito de veículos sobre a ponte de 125 anos foi totalmente bloqueado até que o pilar seja restaurado.
De mão única e declarada patrimônio histórico do Estado, a estrutura não suporta mais o tráfego que aumentou consideravelmente após o bloqueio e a posterior implosão da ponte entre Caxias do Sul e Nova Petrópolis, na BR-116. De acordo com o prefeito de Feliz, Júnior Freiberger, a ponte foi projetada para receber peso máximo de 18 toneladas , mas estava recebendo veículos que têm capacidade de transportar o dobro do peso. No entanto, o atual momento, segundo ele, pede uma ligação segura para a passagem, inclusive de carretas bitrens.
— Ela não está mais apropriada e está sufocando o desenvolvimento da cidade. Mudou a vida de todo mundo, mas o preço de fechar uma ponte jamais vai ser maior do que o preço que eu pagaria em perder vidas, se eventualmente ela caísse — diz Freiberger.
Uma nova ponte, com pista dupla e passagem lateral para pedestres e ciclistas já está sendo construída ao lado dessa. O investimento municipal foi orçado em R$ 15 milhões, e a previsão de entrega é março do ano que vem. No entanto, a conta deverá ser mais cara pela necessidade de uma alteração do projeto.
— Ela terá 12 metros de largura e cem metros de comprimento entre uma cabeceira a outra. Mas o projeto foi feito em 2022 e considerou a cota de enchente de 12,8 metros. Na última enchente, em maio, o rio subiu 14 metros, então, ela não poderá ter mais o tamanho que foi projetada. Calculamos ter que despender mais R$ 3,5 milhões do caixa — explica Freiberger.
A reforma da ponte histórica está prevista para ser entregue em outubro e, depois de pronta, permitirá apenas a passagem de veículos leves com altura de até 2,3 metros. Enquanto não fica pronta, moradores de ambos os lados disputam o estacionamento nas ruas do entorno. Desde a semana passada, a moradora de Escadinhas, Janaina Feltz, 32 anos, mantém dois carros, um de cada lado:
— Nosso dia a dia depende da travessia da ponte, moro de um lado e tenho a empresa do outro. Todos os cinco funcionários também moram do lado contrário ao trabalho. Meu filho estuda no lado onde moramos, mas à tarde tem atividades no Centro. Brinco que voltamos como era antigamente, porque agora fazemos tudo a pé e de certa forma até aproximou a comunidade — diz.
A rotina de pais e alunos da rede municipal também foi alterada. A prefeitura disponibiliza ônibus em dois horários, pela manhã e à tarde, para quem mora de um lado e estuda de outro. Atrasada, Taiane de Barros, 27, precisou chamar um carro por aplicativo para acompanhar os filhos de quatro e oito anos até a escola nesta quarta-feira (24).
— Daria uns 30 minutos a pé, mas é uma subida forte, se perde o ônibus e não tiver um carro do outro lado tem que dar um jeito. Deram a opção de trocar de escola, mas acho que alteraria ainda mais a rotina deles — diz.
Em Picada Cará a solução é uma ponte pênsil
Em outro ponto, entre Vila Rica e Picada Cará, a ponte que ligava Feliz a Linha Nova foi levada pelo Rio Caí em maio. A reconstrução, feita pela catarinense Trilha Engenharia, será paga pelo governo do Estado em um investimento superior a R$ 12 milhões.
A previsão é que esteja concluída em 12 meses a partir do início das obras. O trâmite, de acordo com o Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer) aguarda a assinatura do contrato que está em análise na Procuradoria Geral do Estado (PGE).
Para permitir a passagem de pedestres e ciclistas uma ponte pênsil foi construída pelo município e inaugurada na última terça-feira (23). Com cem metros de comprimento, a ponte tem sido muito utilizada inclusive por motociclistas que acessam por ali a outra parte de Feliz.
De bicicleta, Denise de Fátima Hensel dos Santos, 48, atravessou a estrutura pela primeira vez na quarta-feira.
— Estávamos distantes do centro da cidade, né. Agora ficou mais fácil, um pouco como era antigamente, mas é uma solução principalmente para fazer compras — conta.