Além de ser um dos principais pontos turísticos do Rio Grande do Sul, Gramado também tem o título oficial de Capital Nacional do Chocolate Artesanal. Essa ligação faz com que a Páscoa seja ainda mais especial na Região das Hortênsias. Além de ser mais uma data para encantar os turistas que chegam ao município, é tempo de aquecer a economia com as vendas dos produtos. Prova disso é o aumento na produção local. De acordo com a Associação da Indústria e Comércio de Chocolates de Gramado (Achoco), cerca de 650 toneladas do doce são produzidas em 2024 - contra 600 no ano passado. Ou seja, um aumento de 8,3%.
Segundo o presidente da Achoco, Fabiano Contini, grande parte dos consumidores deixa para fazer as compras de Páscoa nos últimos dias — neste ano, a festa é celebrada domingo, dia 31 de março. Neste momento, o que nota-se são muitos turistas e clientes que experimentam as guloseimas para depois voltar e adquirir como presentes.
— As vendas das fábricas para fora de Gramado estão boas — comemora Contini.
Entre os negócios gramadenses, o presidente da Achoco explica que cada um tem a própria estratégia. Assim, muda a quantidade de produto destinada às vendas locais e à exportação. Algumas destinam até 80% para vender em outros Estados, enquanto que algumas utilizam a maior parte do estoque para as lojas de Gramado.
Nesta Páscoa, Contini nota ainda que os chocolates com a indicação de procedência Chocolate de Gramado estão fazendo sucesso entre os consumidores. São seis fábricas no município com o selo, que foi lançado no ano passado. Ele é emitido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e reconhece um produto que seja referência em tradição, qualidade e vocação produtiva de um local. Um exemplo são os Doces de Pelotas.
— O público está procurando muito o chocolate puro, sem gorduras hidrogenadas. Então, a procura pelo selo cresceu bastante. (Ele dá garantia) da qualidade, da autenticidade do produto, desde a procedência do cacau até a industrialização final do produto — explica Fabiano Contini.
Fantásticas fábricas de chocolate
Para atender toda demanda e rechear as lojas, Gramado conta com 28 fábricas nesta área, segundo a Achoco. São pelo menos 2 mil pessoas empregadas pelo setor. Uma marca conhecida, que tem fábrica própria, é a Prawer, fundada em 1975 também no município. Para este ano, a produção é 30% maior. A gerente comercial Jéssica Sachet relata que o aumento está refletido na procura pelo produto.
Ao mesmo tempo, as vendas também se iniciaram antes. Nas lojas da marca, em Gramado, os produtos de Páscoa estão disponíveis desde o fim de janeiro. A estratégia serviu para dar uma chance aos consumidores experimentarem o produto antes de realizar a compra definitiva para a data.
— Muitos já compraram para provar e voltaram para pegar mais. Então, nós nos antecipamos neste ano, também porque a Páscoa é um pouco mais cedo que nos demais anos — relata Jéssica.
O aumento na produção não vem sozinho. As marcas apostam ainda em novos produtos e uma mistura de sabores - alguns até diferentes. A Prawer, por exemplo, trouxe um chocolate com wasabi, o conhecido molho japonês, e também outros lançamentos que utilizam bastante o pistache.
Já na empresa Caracol Chocolates, o gerente de produção, Jaderson Souza, conta que uma ideia foi mudar os formatos dos produtos, trazendo alguns dos doces com "uma cara de brinquedo". Mesmo que novos sabores sejam experimentados ou que a apresentação mude, as marcas seguem ligadas na base de tudo: o cacau.
— A gente tem essa preocupação de onde vem essa matéria-prima. Nossa principal matéria-prima é o cacau. Nós não usamos outro tipo de gordura alternativa no chocolate, somente a manteiga de cacau. Trazemos de fornecedores já homologados, que vêm geralmente do sul da Bahia ou do Pará — revela Souza.
Como explica o chocolateiro Ricardo Campos, da empresa Miroh, o chocolate artesanal da marca não utiliza de massa pronta. Para o doce ser "mais puro possível", também não pode ter ingredientes artificiais. O cacau precisa ser o destaque.
— Em vez de pegar uma massa processada já pronta da indústria, eu vou até as fazendas de cacau e busco as melhores amêndoas de cacau. Sempre busco fazer um chocolate de verdade. Então, seleciono, faço a torra, faço a separação da casca e faço todo processo pra ter um chocolate mais artesanal possível de ponta a ponta — descreve Campos.
O processo utilizado pela Miroh é conhecido como bean to bar, o que significa do grão à barra. Para chegar ao resultado final, o chocolateiro utiliza cacau de diversos estados, como Bahia, Espírito Santo e Amazonas, e até mesmo de outros países.
— Eu consigo ter vários tipos de perfis de aroma. Um pouco mais frutado, um pouco mais de acidez ou menos acidez — exemplifica o profissional.
Estratégias para atrair e encantar clientes
Para garantir o encantamento de turistas e clientes, a preparação precisa ser constante. Segundo Ezequiel Dias de Lima, chocolateiro da Chocolate Gramadense, assim que uma Páscoa termina já começa a preparação para a próxima. A primeira etapa consiste no desenvolvimento de produtos e embalagens. Em seguida, a partir de outubro, é dada a largada na fabricação:
— A gente tem todo um cuidado, porque é um produto muito artesanal, precisa de muita mão de obra especializada e isso requer um tempo mais longo — conta Lima.
Entre os lançamentos, a empresa apostou em produtos mais acessíveis, mas sem abrir mão da qualidade. Uma das regras é não adicionar gorduras que não sejam as do cacau, por exemplo.
— Para a gente fazer o teste e saber se é realmente puro, um chocolate fino, tem que colocar na boca e derreter sozinho, não pode mastigar. No momento que tu tem que mastigar, ele não é mais puro, tem gorduras que não são do cacau — ensina.
Outra estratégia adotada foi o parcelamento de compras, mesmo para produtos com o preço mais baixo. Tudo para que o cliente não deixe de levar uma boa experiência da cidade e o negócio perdure.
Com mais de 20 anos de experiência, Anderson Vidal fala com orgulho da trajetória iniciada na Gramadense há oito. Começou como auxiliar de produção, passou a supervisor e atualmente é gerente de fábrica:
— É daqui que eu tiro a minha renda e o meu crescimento pessoal. A gente também ajuda no crescimento do município, uma cidade turística, e fica feliz de participar disso. Quando o pessoal visita a nossa loja, nossa minifábrica, a manipulação do chocolate, é gratificante para a gente ver aquele sorriso, aquele olhar de encanto pelo produto.
Páscoa com expectativa positiva
Na Chocolate Lugano, a expectativa é positiva para a Páscoa. O diretor Augusto Luz conta que a marca teve a abertura de lojas em todo o Brasil para esta data e um aumento na produção. A esperança é que os dias anteriores ao feriado tragam o frio para Gramado, o que sempre ajuda nas vendas.
— (O chocolate) Movimenta a economia de toda a região. E é obrigatório a pessoa vir a Gramado e levar o chocolate, né? — lembra.
Luz também analisa que, assim como ocorre em outros setores, os consumidores estão em busca de produtos de qualidade. O diretor explica que a Lugano preocupa-se com a seleção da matéria-prima, como cacau, leite e outros ingredientes.
— Cada vez mais as pessoas estão buscando produtos de qualidade. Então, para o nosso setor isso é interessante. Como aconteceu para o vinho, para a alimentação como um todo, as pessoas têm buscado comprar coisas melhores, de mais qualidade. As pessoas estão ficando mais exigentes com o que consomem. Isso acaba cascateando para o chocolate junto — percebe o diretor da Lugano.
Assim como ocorre com outras marcas gramadenses, o doce é produzido em fábrica própria da Lugano. O trabalho nela, como conta a auxiliar de produção Jessica Leticia Arrial, é artesanal. A profissional atua na área da pintura dos doces.
— É muito legal. É bem artesanal mesmo o nosso trabalho na pintura, são muitas coisas manuais na pintura — descreve Jessica, lembrando que dá vontade de comer muito chocolate por conta do "cheirinho" que fica na fábrica.
O castelo de chocolate
O feriado da Páscoa não movimenta apenas as vendas em Gramado. De acordo com o Sindicato do Turismo da Serra Gaúcha (Sindtur), as hospedagens no município registram aumento de 18% nesta época. Um dos hotéis, porém, tem uma ligação especial com o doce do feriado. Desde 2023, um verdadeiro castelo do chocolate está aberto. Trata-se do hotel temático Chocoland.
A idealizadora e diretora do hotel, Daniela Gallassini, conta que o castelo surgiu de um sonho de criança dela. Com o negócio, Daniela quer passar uma experiência sensorial aos turistas. Lá, tetos, paredes e móveis lembram o chocolate — os detalhes foram feitos à mão por fornecedores. Ao mesmo tempo, um aroma que lembra o doce também pode ser sentido.
— Esse castelo foi sonhado por uma criança, então ele é um sonho real. É inspirador. Todas as pessoas que vêm aqui, queremos que sintam isso. Então, cada detalhe, o cheiro, a música, os olhos, o sabor, os toques. Tudo o que fazemos aqui é para a pessoa viver uma ambiência para ativar nela o sonhar e realizar — destaca a diretora.
Tudo é pensado para essa imersão do turista. Até mesmo os espaços de lazer e as atividades do Chocoland são ligadas ao doce. Há, por exemplo, o CacauSpa, que tem a chocolaterapia, ou ainda o Atelier do Alquimista, que conta com oficinas para artes e criações com chocolate.
— Utilizamos como base a manteiga de cacau, que dá super-hidratação para nossa pele. Sem contar os benefícios do cacau, que estimulam a serotonina, a felicidade e o bom humor — descreve a fisioterapeuta Ana Maria Cepeda sobre a chocolaterapia.
A magia da Páscoa
O chocolate de Gramado também percorre a Serra e vira opção para consumidores dos municípios. É o caso da DeCacau Store, de Caxias do Sul. Na loja da Avenida Ruben Bento Alves, a Páscoa equivale ao que o Natal é para o comércio caxiense. Neste ano, o proprietário Cléber Oss Pires notou que o movimento se antecipou, praticamente duas semanas antes da data. Mesmo assim, vendas ainda maiores são esperadas para os últimos dias, como é tradicional.
— O faturamento, a venda, ela acontece na última semana. São os últimos três ou quatro dias. É ali que acontece a Páscoa — nota Pires.
Pelo terceiro ano consecutivo, a loja aposta em uma atração para as crianças para agregar nas vendas: a Casa do Coelhinho. Com ela, são oferecidas oficinas aos pequenos, para que eles possam brincar e fazer arte com chocolate. A atividade tem ainda a presença ilustre do próprio "dono" da casa, o coelho Deodoro, mascote da loja.
— Ali dentro a gente faz a criança ter uma experiência, ter essa magia de Páscoa, o Deodoro falando, Deodoro mostrando que ele é o cara que faz chocolate. Depois, no meio, tem algumas brincadeiras que fazem a criança entender que tu bota um pouquinho de amor no ovo, um pouquinho de felicidade, coisas assim. E aí, faz a decoração, embala e depois faz as fotos do Deodoro. Participamos deste momento lúdico. Fazer com que a Páscoa também seja entendida com essa magia, igual acontece com o Natal, né? — descreve o proprietário.
O empresário caxiense nota que a qualidade do chocolate também é um critério para os consumidores em Caxias. Ele explica que um dos diferenciais da DeCacau é que todo o chocolate é 100% livre de glúten. A marca também faz um forte trabalho na busca pelo cacau que é utilizado:
— A seleção da amêndoa deles é muito forte. Tem pessoas na Bahia que compram. A seleção é bem feita. A torra, a parte de fermentação, todo esse cuidado traz o sabor pro chocolate. Esse cuidado é o principal. É como fazer um suco de laranja. Não vamos misturar as laranjas para não dar problema.
Para a semana de Páscoa, a loja caxiense prepara surpresas aos consumidores. Ações serão realizadas no local, até mesmo com parcerias. O objetivo é reforçar a magia do feriado, especialmente para as crianças.