Quando o chocolate se torna o protagonista nos carrinhos de compras, muitas pessoas aproveitam para buscar uma renda extra. Mas há cuidados necessários antes de empreender nessa época. A seguir, GZH apresenta dois negócios, que buscam deixar a data mais doce, e dá dicas para aproveitar essa oportunidade.
Juntas, da escola para os negócios
Foi pensando em fazer uma graninha a mais que as amigas Júlia Heissler de Souza, 20 anos, e Giulia Constant Silva, 20 anos, começaram a fazer ovos de chocolate. Uma união do útil ao agradável: desde que se conheceram, no Ensino Médio, elas fazem doces e testam receitas juntas e já tinham pensado em vender suas produções, mas nunca haviam tomado a iniciativa.
Nessa Páscoa, viram uma oportunidade de tirar os planos do papel.
– A gente saiu do colégio, agora temos o nosso trabalho. Conseguimos começar com o nosso próprio dinheiro, sem pedir ajuda para ninguém. Então, pegamos essa paixão que temos em comum para fazer uma renda extra – explica Júlia, estudante de Biomedicina e recepcionista de um hospital, em Porto Alegre.
Para as amigas, organização e capricho são fundamentais em um negócio. Por isso que, antes de começar a divulgação dos doces, se dedicaram a pesquisar preços e aprender as melhores técnicas para trabalhar com os ingredientes. Pensando em entregar produtos de qualidade e otimizar os gastos, elas se planejaram com antecedência e registraram o processo em planilhas para manter o controle.
As duas têm a rotina corrida entre trabalho e estudos, mas reservam um tempo para produzir juntas as encomendas. Júlia admite que a rotina é cansativa, mas afirma que a dupla não abre mão de fazer tudo com cuidado. Foi assim que, na visão dela, garantiram um bom número de encomendas.
– Foi bastante, para nós que somos iniciantes. A ideia é não só deixar gostoso, mas também apresentável. É o que a gente quer levar, junto com o nome que escolhemos – conta Júlia, referindo-se ao nome Meraki, palavra grega que, conforme a estudante, significa “fazer algo com amor, dar muito de si”.
Confiança
Quando a divulgação dos ovos começou, pelas redes sociais das próprias doceiras, elas já estavam confiantes de que o projeto daria certo. Isso porque, além de se prepararem, ofereceram os produtos para familiares e colegas e o retorno foi positivo. Então, a partir das opiniões recebidas, foram feitos os últimos ajustes. Giulia, que cursa Enfermagem, lembra que uma parte importante desse processo foi saber que elas gostavam do que estavam fazendo.
– Quando a gente decidiu começar, pensamos até em mais sabores. Aí depois selecionamos os melhores. Ficaram oito sabores com ingredientes fáceis. A gente pensou em vários que tivessem a mesma base, o mesmo recheio, porque se torna mais fácil na hora de fazer.
Das feiras para uma empresa
A relações-públicas Patrícia Gomes Cláudio, 29 anos, tem a confeitaria como renda extra há alguns anos. Começou em 2015, vendendo brigadeiros em feiras, e logo no ano seguinte registrou o negócio no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Foi quando a mãe, Ana Lúcia Martins Gomes, 64 anos, se juntou à empreitada, e passou a aprender todos os processos. Hoje, além do trabalho de carteira assinada, Patrícia vende docinhos para festas e, nas datas comemorativas, oferece produtos diferenciados.
O primeiro passo que a confeiteira, moradora do Parque da Matriz, em Cachoeirinha, deu foi ver o que suas concorrentes estavam fazendo. Foi assim que ela decidiu não produzir os tradicionais ovos recheados para comer de colher e, sim, algo diferente que a destacasse, ao mesmo tempo que não competisse diretamente com as colegas de profissão. Dessa forma, o cardápio de Páscoa da Black Brigadeiros oferece o ovo cupcake e o ovo no pote.
– Onde eu moro tem muitas confeiteiras excelentes. Eu sempre tento trazer algo que não seja igual, primeiro para garantir a minha renda extra, o meu objetivo de vender, e também para não prejudicar minhas concorrentes – enfatiza.
Segmentação
Patrícia conhece bem o próprio público, e parte daí para se programar para a Páscoa. Ela dá como exemplo o novo sabor de ovo no pote, lançado esse ano: Romeu e Julieta. A clássica combinação de queijo e goiabada tem sido sucesso nas vendas de docinhos, e a confeiteira decidiu replicá-la no catálogo da data comemorativa.
– Eu sigo várias professoras de confeitaria e vejo o que estão prometendo para o ano. Esse ano eu achei muito mais do mesmo. Agora está super em alta sabores de ovos diferentes, mas não me agradaram.
Bem antes da data, os clientes já perguntam sobre o cardápio da Black Brigadeiros para a Páscoa. Isso, somado a pesquisas informais que Patrícia faz com sua clientela já estabelecida, permite que a confeiteira planeje as compras. Entre os insumos, ela destaca o custo-benefício de comprar as embalagens e adesivos com antecedência para garantir o melhor preço.
– Isso muda o custo, que afeta tanto o valor na hora de cobrar quanto o lucro – salienta.
Nesses nove anos de confeitaria, Patrícia fez uma série de cursos para melhorar o trabalho com os doces, e segue aprendendo até hoje. Mas ela afirma que, para quem pensa em empreender na área e garantir a renda extra, não é preciso de muito:
– Tem que ter boa vontade antes de tudo. Hoje em dia se tem acesso à informação em várias plataformas. Às vezes, a pessoa está precisando de dinheiro e pensa que não é confeiteira, mas não custa tentar. Quando eu me proponho a fazer algo que eu não tenho curso, eu vou atrás, no YouTube, chamo professoras nas redes sociais para tirar dúvidas.
Planejamento é o primeiro passo
O coordenador da Escola de Negócios da Fadergs, Diogo Simões Pires, 49 anos, diz que o caminho que Júlia, Giulia e Patrícia estão traçando está correto. Ele alerta que o planejamento é o primeiro passo para ter sucesso nas vendas. Já definir preços corretamente, o principal.
– Um erro comum é não conhecer os custos. Considerar só o valor do chocolate e embalagem e não considerar outros gastos. Tem custos indiretos envolvidos que são difíceis de mensurar e podem atrapalhar a rentabilidade, por isso, a margem de lucro tem que ser alta, de pelo menos 100% – explica.
De olho nas datas comemorativas
- Tenha uma rede de contatos para quem possa vender, como vizinhos, amigos e colegas de trabalho e faculdade
- Trabalhe sob encomenda para evitar desperdício de investimento
- Normalmente, não é preciso ter muita variedade
- Pense no que você tem capacidade de produzir, considerando investimento necessário, estrutura e habilidades
- Faça uma análise da concorrência, tanto dos mercados quanto de outros produtores artesanais
- Depois da análise, tome uma decisão: fazer um produto diferenciado para cobrar um valor maior, ou um mais simples e mais barato que pode ser vendido mais facilmente
- Planeje: descubra os melhores preços dos insumos e compre de uma vez só
- Capriche nos detalhes: cuidado com a aparência e embalagem dos produtos
*Fonte: Diogo Simões Pires, coordenador da Escola de Negócios da Fadergs
Produção: Caroline Fraga