O mercado informal é uma das saídas encontradas para complementar a renda em busca de qualidade de vida. O número de pessoas nessa modalidade segue em alta no Rio Grande do Sul, especialmente entre a faixa etária de 60 anos ou mais. Em sete anos, esse número cresceu 15,6%, o que significa que atualmente 289 mil gaúchos atuam na informalidade.
Não há dados específicos de Caxias do Sul, mas basta circular pelas ruas da cidade e já é possível perceber pessoas que acompanham a tendência estadual. Há autônomos com 60 anos ou mais, empreendedores, motoristas de transporte por aplicativo, vendedores, costureiras, cabeleireiras, entre outras funções, que encontram uma fonte complementar para manter as contas em dia. Além de terem uma ocupação para manter a saúde mental.
Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo de 60 anos ou mais é o que teve o maior salto de crescimento de 2016 para 2023. A alta registrada no período foi de 21,06%, passando de 523 mil, em 2016, para 633 mil, em 2023. Entre os fatores que explicam esses dados estão o crescimento da população idosa, as mudanças na previdência e a necessidade de complementar a renda, uma vez que a aposentadoria é baixa.
Fonte de renda
O casal de aposentados Bernardete Garcia de Souza, 65 ano, e Miguel Osório Martin, 72, ilustra este cenário em Caxias do Sul. Moradores da região do Desvio Rizzo, eles buscam no artesanato uma fonte de renda para vender em feiras.
— Antes de me aposentar, fazia voluntariado para o Banco do Vestuário e levava as peças lá. Depois que me aposentei, continuo com o voluntariado, e também tenho uma renda extra para complementar o que recebo da aposentadoria. Transformo uma calça jeans em outras peças. Trabalho muito com o jeans. Também faço crochê, tricô, bonecas e crio peças — conta a costureira aposentada.
Martin trabalhou durante 34 anos em empresas, e agora ajuda não só a montar a estrutura para venda e organizar o espaço, mas também na confecção e venda das peças. O casal costuma viajar para cidades como Porto Alegre, Santa Maria e Vacaria, sempre para vender a produção em feiras.
— É muito bom trabalhar assim, porque agora me sinto mais livre. Nós conversamos com muitas pessoas e isso ajuda a gente a viver melhor — afirma ele.
Qualidade de vida
A coordenadora do grupo de artesãos Resgate das Artes, Marli Cordeiro, afirma que, dos 12 integrantes da turma, cerca de 10 têm mais de 60 anos.
— A maioria dos integrantes tem 60 anos ou mais. Geralmente são aposentados com salário mínimo, e fazem artesanato para complementar a renda. Também percebo que faz muito bem para a saúde deles ter uma atividade, conviver com as pessoas do grupo e conversar com o público —afirma Marli.
A aposentada Alda Lorenzi, 78, também é uma das pessoas que buscam na informalidade uma ocupação para se manter ativa. Solteira e sem filhos, trabalhou por 35 anos na indústria têxtil. Com os olhos brilhando, conta que, na década de 1970, atuava em uma empresa que abriu uma fábrica de confecções masculinas na Bahia. Se mudou para Salvador, onde atuou por anos. Porém, há 15 anos encontrou no artesanato a realização pessoal.
— Sempre gostei de me manter ocupada. Depois da aposentadoria, comecei a trabalhar com artesanato. Hoje faço macramê — conta, mostrando os detalhes das toalhas feitas à mão.
Ela também é voluntária e dá aulas para ensinar a técnica:
— Eu produzo as peças para participar de feiras. O artesanato me ajuda a manter a mente saudável. Passo de uma a duas horas por dia produzindo, porque é tudo à mão, e são nozinhos, então me ocupo bastante. Faz muito bem para o corpo e para a minha cabeça.
Mercado Formal
Por outro lado, essa faixa etária também busca uma recolocação no mercado formal. Conforme dados da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS) e Sistema Nacional de Emprego (Sine), de janeiro até 15 de dezembro de 2023, foram realizados 18.154 encaminhamentos em Caxias do Sul. Destes, 2.840 foram na faixa etária entre 50 a 64 anos, e 266 com 65 anos ou mais. Isso significa que, dos atendimentos, 17% são para pessoas acima de 50 anos.
A coordenadora do Sine em Caxias do Sul, Zenaira Hoffmann, ressalta que, pelo que se percebe da movimentação de procura de emprego na agência, em torno de 20% das pessoas que buscaram atendimento em 2023 têm 60 anos ou mais.
— Muitas pessoas vêm buscar o emprego e, quando auxiliamos para ver se elas se enquadram no perfil dessa vagas, elas constatam que não se encaixam nos cargos disponíveis. Então eu acredito que nos nossos atendimentos mais 20% das pessoas têm esse perfil. Não fica registrado no nosso sistema, porque ela busca a vaga, mas não se encaixa — finaliza Zenaira.