Seis dos 10 principais economias municipais da Serra perderam posições no ranking de participação do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul. Os dados, que compreendem a passagem do ano de 2020 para 2021, foram divulgados neste mês pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG), em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre os municípios que caíram estão Bento Gonçalves (de 13º para 14º), Carlos Barbosa (de 32º para 33º), Garibaldi (de 38º para 40º), Gramado (de 44º para 45º), Flores da Cunha (de 46º para 48º) e Veranópolis (de 55º para 66º). No período, Caxias do Sul (2º), Vacaria (35º) e Nova Prata (68º) mantiveram os respectivos postos. Por outro lado, Farroupilha foi a única que subiu, saindo do 22º lugar para o 21º — confira os dados completos na tabela abaixo.
Em números percentuais, a queda mais significativa foi a de Bento Gonçalves. A Capital do Vinho teve uma variação negativa de 0,08%. Assim, foi ultrapassada por Guaíba no ranking. Na sequência, Caxias do Sul foi o segundo município da Serra que mais perdeu participação, com 0,06%, mas segue na segunda posição no Estado com 1,67% a mais do que Canoas, dona da terceira maior economia gaúcha — a capital Porto Alegre lidera com folga, representando 14,03% do PIB gaúcho. Entre as 10 maiores economias, Rio Grande, na Região Sul, ganhou três posições, subindo para o quarto lugar. São Leopoldo (do 8º para o 7º lugar) e Pelotas (do 9º para o 8º) ganharam postos no ranking estadual.
As variações negativas fizeram com que, pela primeira vez em cinco anos, a Região de Caxias do Sul fosse ultrapassada pela Região de Passo Fundo no ranking regional de participação do PIB gaúcho. Conforme os dados do IBGE, a diferença é de 13,98% para 13,5%. As duas só ficam atrás da Região de Porto Alegre, que representa 41,15% do PIB do Estado. Pelos critérios do instituto, além dos municípios da Serra, Campos de Cima da Serra e Hortênsias, somam-se à Região de Caxias cinco cidades do Vale do Caí, chegando a 54.
Para a economista e presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede Serra), Mônica Mattia, a queda da região de Caxias é justificada pelas variações do setor agropecuário. Conforme os dados, os cinco maiores municípios da Região Norte — Passo Fundo, Erechim, Cruz Alta, Carazinho e Marau — cresceram 138,3% em 2021, maior que a curva de 107,4% do RS naquele ano, resultado de safras positivas principalmente de grãos. Enquanto isso, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Carlos Barbosa e Vacaria, importantes economias da Serra, somaram alta de 52,16% no período.
Em compensação, na indústria, Caxias do Sul liderou o ranking pelo quarto ano consecutivo, com Valor Adicionado Bruto (VAB) de R$ 9,59 bilhões, e ainda avançou na participação no total do Estado, com 7,92% do total do segmento em 2021 (foi de 7,37% em 2020). Da Serra, Bento Gonçalves figurou na oitava posição, com 2,03%, enquanto nenhuma cidade da Região Norte apareceu entre as 10 maiores do setor.
— Quando olhamos para o setor dos serviços no Rio Grande do Sul como um todo, Caxias do Sul está em segundo lugar, com 5,4% do PIB, e Passo Fundo em 4º lugar, com 2,8% do PIB. Então, o que podemos dizer é que, olhando para as grandezas no Rio Grande do Sul, Caxias do Sul continua tendo um grande distanciamento da capital da região de Passo Fundo— explicou a presidente do Corede Serra.
Para Mônica Mattia, os dados dos anos de 2022, 2023 e 2024 serão fundamentais para avaliar os impactos. Segundo ela, neste momento não há um sinal de alerta aceso, uma vez que região de Caxias do Sul segue crescendo:
— De um modo geral, as grandezas da região de Caxias do Sul têm sido maiores. A matriz produtiva da região de Caxias do Sul é muito mais diversificada do que da região de Passo Fundo. Mas é forte o Valor Adicionado Bruto agropecuário, e também para uma indústria voltada para o (setor) agropecuário. E o próprio setor dos serviços, que também está voltado para o setor agropecuário. Então, sim, devemos observar o que vem ocorrendo, porque o agro puxa a indústria e os serviços (na região de Passo Fundo).
UMA ENTRE AS CEM ECONOMIAS BRASILEIRAS
Conforme o levantamento do IBGE, apenas três municípios gaúchos figuraram entre os cem maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) do Brasil no ano de 2021. Da Serra, somente Caxias do Sul apareceu na lista — os demais são Porto Alegre e Canoas. Só que a maior cidade da região perdeu quatro posições, saindo da 37ª para 41ª colocação.
Para o diretor de Planejamento, Economia e Estatística da Câmara de Indústria, Comércio e e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias), Joarez Piccinini, entre 2020 e 2021 o município teve um crescimento quando comparado consigo mesmo. E a queda no ranking nacional pode ter diversos fatores, como a seca que atingiu a região e trouxe problemas ao agronegócio, a pandemia da covid-19 e a crise financeira da Argentina, que é um dos principais compradores do município.
— É uma combinação de tudo isso. Eu diria que a Argentina tenha tido um papel importante, mas tem os outros fatores. Temos muitas atividades, por mais que a gente seja um grande polo metalmecânico, e esse sofreu com a Argentina, temos um segmento bem diversificado e entra o agronegócio. Tivemos problemas climáticos severos no Sul nos últimos dois anos — descreveu.
No entanto, Piccinini diz que a queda no ranking nacional em 2021 não traz um cenário de preocupação, uma vez que os dados que a própria CIC Caxias produz projetam crescimentos para 2022 e para 2023.
— Nos dados atualizados, a gente continua vendo Caxias indo bem. Tivemos um ano de 2022 com resultados muito bons, o 2023 também está fechando como um ano muito bom — finalizou o diretor da CIC Caxias.
Já falando entre os 200 maiores PIBs do Brasil, a Serra ganha outra representante: Bento Gonçalves. Porém, o município, que ocupava em 2020 a 188ª posição, caiu agora para o 197º lugar. Mônica Mattia acredita que, para os próximos anos, Farroupilha e Carlos Barbosa devem apresentar crescimentos econômicos e podem garantir melhores posições em âmbito nacional.
FARROUPILHA MIRA ALTO
De acordo com os dados do IBGE, o PIB de Farroupilha cresceu de R$ 3,6 bilhões para R$ 4,3 bilhões de 2020 para 2021, o que auxiliou o município a subir da 22ª para a 21ª posição no ranking de participação do Produto Interno Bruto gaúcho. Mas teve uma queda de 0,01% em participação percentual. Mesmo com crescimento no agronegócio, a indústria é a principal fonte de arrecadação da cidade.
Os números foram comemorados pelo prefeito Fabiano Feltrin (PP). O administrador conta que, no início de seu mandato, foi contratado o programa "Cidade Empreendedora", do Sebrae, para criar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico. Também foram tomadas medidas para isenção e redução de alguns impostos, além da desburocratização para a abertura de empresas na cidade, em que, por meio da Sala do Empreendedor, é possível abrir uma firma em menos de 10 minutos e até mesmo de forma online.
— A todo empresário, pequeno, médio ou grande, damos o mesmo atendimento. Para nós foi muito bom, porque estávamos vivendo um período de pandemia, com negócios em dificuldades, pessoas perdendo empregos — resumiu Feltrin, sobre os números do IBGE que apresentaram o crescimento de Farroupilha.
Agora, os dados dos próximos anos são aguardados com expectativa positiva. Isso porque gigantes do mercado também passaram a investir em Farroupilha, como a caxiense Marcopolo, que inaugurou, em agosto de 2023, uma unidade fabril no município. A ampliação da planta da Bigfer, em Nova Sardenha, também pode auxiliar em números ainda melhores para os próximos anos, acredita o prefeito.
— Eu tenho convicção de que nós vamos subir mais uma posição para o ano que vem, porque muitos desses resultados estão vindo. Já tivemos benefícios que nos mostraram que estamos no caminho certo, mas a perspectiva de galgarmos e termos incremento, não tenho dúvidas que vamos alcançar o 20º ou 19º (posto) no ranking — finalizou Feltrin.