A estiagem na Serra já causou perdas financeiras aos produtores em um montante que chega a R$ 531 milhões somente com três produtos: milho de silagem (utilizado para alimentação do gado), milho em grão seco e soja. A estimativa foi feita pela Emater-RS e aponta perdas de 22,57% no milho de silagem, 14,77% no grão seco e 4,96% na soja. O único grão que não registrou perdas, de acordo com o levantamento, é o feijão. Todos os dados são referentes à área da região administrativa da Emater de Caxias do Sul, que engloba 49 municípios da Serra, Hortênsias e Campos de Cima da Serra. Os comparativos de perdas se referem à projeção atual em relação à projeção inicial da safra.
Segundo João Villa, engenheiro agrônomo e assistente técnico regional da Emater-RS, quando se transforma em valores, os prejuízos foram de R$ 278 milhões com a soja, que, apesar de ter produção menor na região, tem maior valor de mercado, R$ 179 milhões no milho em grão seco e R$ 74 milhões no milho de silagem.
João Villa ressalta que esta é a estimativa atual. Porém, como a colheita do milho ainda não está definida, já que as lavouras, na sua maioria, ainda não estão maduras, a estimativa poderá sofrer alterações mais adiante.
O engenheiro agrônomo também ressalta a importância de tomar medidas para tentar tentar minimizar os efeitos da estiagem na produção.
— Não tem como controlar a estiagem, mas tem como minimizar um pouco esses efeitos. A irrigação é uma das formas, só que a maior parte das propriedades não tem estrutura para armazenar tanta água, porque é muita água necessária, além das questões de relevo. Outra alternativa, que é uma das mais eficientes, é o manejo correto do solo por parte dos produtores — explica Villa.
A expectativa da entidade era de 8,1 mil kg de milho por hectare de terra. Com os efeitos da estiagem, a colheita registrou 6,8 mil kg por hectare. A produção de soja tinha uma expectativa de 3,8 mil kg por hectare, mas a colheita registrou 3,4 mil kg por hectare. Já para o milho silagem, a expectativa era de 44 toneladas por hectare, mas, agora, o registro é de 35 toneladas por hectare. Ainda de acordo com Villa, além da perda no volume da produção, o milho silagem também impacta diretamente no gado, já que serve de alimento para os animais.
A colheita do feijão ainda não pode ser medida com a mesma precisão, segundo o assistente técnico regional da Emater-RS. Isso porque o grão é plantado entre o final de dezembro e o início de janeiro. Outro fator importante é que cerca de 97% da produção de feijão da região é produzido na região de Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, que, de acordo com Villa, foi uma das regiões que menos sofreu com chuva e a estiagem.
Villa explica que as maiores perdas na região administrativa de Caxias do Sul foram na sub-região da Serra, principalmente nos municípios entre André da Rocha e Guaporé, que também decretaram situação de emergência devido aos efeitos da estiagem.
Já com relação ao Estado, em dados divulgados na terça-feira (7), a Emater-RS confirmou que a safra 2022/2023 no Rio Grande do Sul sofreu os impactos da estiagem. Em coletiva de imprensa na Expodireto, em Não-Me-Toque, o balanço revelou uma quebra de 41% no milho, 31% na soja, 40,5% no milho silagem e 4,6% no feijão.
Municípios em situação de emergência na região
:: André da Rocha: a projeção é de perda de praticamente toda a produção destinada à silagem. De acordo com a Emater e Defesa Civil do município, a quebra será de 95%. Já o grão deve ter 70% de redução. Soja, feijão e a produção de leite também devem sentir os efeitos da estiagem. A perspectiva de perda é de cerca de, respectivamente, 50%, 74% e 35%. Prejuízo total de R$ 133 milhões.
:: Protásio Alves: metade da produção de milho e de maçã devem ser perdidas por causa da falta de chuva, segundo a Defesa Civil e Emater do município. A estimativa é de quebra de 54% e 50%, respectivamente. As safras de soja e de uva também devem ser impactadas. O prejuízo deve ultrapassar os R$ 13 milhões.
:: São Jorge: na cidade, a cultura mais afetada é o milho. A perda estimada é de 45% na safra do grão e 50% no milho para a silagem, de acordo com a Emater e a Defesa Civil. Até agora, o prejuízo estimado aos produtores é de R$ 16,9 milhões. A soja tem quebra da safra estimada em 25% da produção. O valor total de perdas ultrapassa os R$ 26 milhões na região.
:: Bom Jesus: além do milho, a preocupação é com a safra da maçã e batata. A quebra esperada pela Emater é de 20%, prejuízo de R$ 140 milhões. A soja também deve ser afetada, tendo uma perda de 10% na produção.
:: Guabiju: o grão de milho é o mais afetado. Por lá, a quebra estimada pela Emater e Defesa Civil do município é de 60% na safra. Junto da soja, a projeção de prejuízo para os agricultores ultrapassa os R$ 30 milhões. A produção de leite também deve ser impactada. A previsão é de diminuição da produtividade pela metade.
:: Boa Vista do Sul: as lavouras mais atingidas são as de milho. A quebra na safra do grão é estimada em 80% de acordo com levantamento da Emater e prefeitura do município. O milho para silagem deve ter perda de 50% da produção. O prejuízo total ultrapassa os R$ 8 milhões.
:: Paraí: o prejuízo estimado passa de R$ 26,7 milhões, de acordo com levantamento da Emater e Defesa Civil do município. A estimativa é que a perda seja de metade da produção de batata doce, mandioca e soja. A quebra da safra chega a 60% na cultura do feijão e de olerícolas em geral. Cana de açúcar e milho tem perdas de 40% e 45%, respectivamente.
:: Vista Alegre do Prata: o prejuízo estimado pela Emater e Defesa Civil chega a R$10 milhões. 50% da produção de milho para silagem deve ser perdida pela chuva insuficiente, totalizando R$ 3,9 milhões de prejuízo. O produto em grão também é impactado: quebra estimada em 40%.
:: Dois Lajeados: de acordo com a Emater e a Defesa Civil, Dois Lajeados deve perder 50% da produção do milho grão e da silagem. Com isso, falta comida para os animais. A consequência é a redução na produção de leite. A quebra chega a 20%.
:: Cotiporã: o município também deve perder 50% da produção do milho grão e da silagem. O prejuízo é estimado em R$ 314 mil.